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Contos-->O “doutorzinho” de porta de cadeia. -- 08/10/2000 - 13:46 (Marcello Shytara) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O “doutorzinho” de porta de cadeia.




Tava a maior rebordosa no 13º distrito policial, sito ao bairro Manto de Deus. Em frente à delegacia uma multidão de pessoas, completamente excitadas, estavam querendo pegar o preso e lincha-lo ali mesmo. Os policiais fizeram um cordão de isolamento, a fim de manter a integridade física do mesmo. Alguns, mais revoltados, conseguiram furar o cordão, porém eram detidos antes mesmo de chegarem até àquele ser desprezível. E este olhava para as pessoas com um sorriso cínico, irônico e sarcástico. Como quem diz : “Não ficarei aqui por muito tempo, minha liberdade é questão de tempo e dinheiro.” E soltava gargalhadas macabras altíssimas, deixando até mesmo os policias com calafrios. Aquilo estava deixando a multidão mais enfurecida, pois sabia que ele estava certo. Entretanto, os policiais tinham que proteje-lo, por causa do tão famoso “Direitos Humanos” que, pelo jeito, só beneficia os marginais.
Quem passava, de longe, não entendia o porquê de tamanho alvoroço. Com certeza, essa pessoa ainda não ouvira falar deste preso. Ali, naquela delegacia estava sendo autuado em flagrante, nada mais, nada menos, que o maior bandido de assaltos às residências. Ele, quando escolhia uma casa, geralmente em bairros nobres, estudava minuciosamente todos os detalhes, os costumes dos moradores, suas rotinas diárias e seus horários de trabalho. Após render os seguranças, invadia apavorando todos que estavam em seu interior. O bandido não se contentava apenas com as jóias e dólares, sempre queria mais. Sua marca era a de estuprar todas as mulheres presentes e durante o ato sexual, estrangulava-as, apenas pelo prazer de sentir seus músculos retesados. Isso lhe dera a alcunha de “O estrangulador macabro”.


O preso estava sendo interrogado, quando entra na sala gritando feito um louco, o Dr. Santos de Todos, um advogado oportunista.
--- Vocês não têm o direito de pressionar o preso sem a presença de um advogado.
Os policiais, estarrecidos com tal procedimento daquele homem, ficam sem entender nada. Quem neste mundo poderia querer proteger aquele verme? Foi quando o delegado perguntou:
--- E quem é o Sr.?
E ele responde mais que depressa:
--- Sou o Doutor Santos de Todos, dr.
O delegado, ao ouvir aquele nome, muda as suas ações e passa a tratar com mais educação aquele advogado. Pois ele não é simplesmente um advogado qualquer de porta de cadeia. Aquele é o renomado Dr. Santos de Todos.
--- O Dr. é advogado do preso?
--- Não. Ainda!








Os policias ao saberem disso, imediatamente providenciam a saída daquele advogado, pois o mesmo não tinha autorização para ali permanecer. Todavia, antes mesmo que o advogado se retirasse, o preso se levanta e fala:
--- Agora ele é, estou contratando-o.
Ouvindo isso o Dr. Santos de Todos, retorna à sala com ar vitorioso e já falando:
--- Senhores, por favor, me deixem a sós com o meu cliente.
Nada entenderam os policias. Como é que um advogado pode querer defender um assassino de alta periculosidade como aquele que ali se encontrava? Mas o Dr. Santos de Todos pode, unicamente pelos seus interesses.


O Dr. Santos de Todos, tornara-se um advogado famoso. Criminalista de renome nacional, já defendera inúmeros bandidos e nunca perdera uma causa. Toda vez que um marginal era preso, imediatamente contratava-o, pois confiavam no trabalho daquele homem de estatura mediana, ombros largos, uma leve calvície, serpenteando para trás da cabeça. Olhos grandes esbugalhados como o de um corvo, nariz adunco, que lembra muito uma ave de rapina, a esperteza de um leão e mais ligeiro que um puma. Se especializou na defesa dos mais procurados, pois sabia que esses tinham muito dinheiro. Não demorou muito e o Dr. Santos de Todos, acumulou uma fortuna invejável, também tornou-se o advogado do inferno. Ninguém mais na sociedade o contratava, pois sentiam ódio e desprezo. Ele, não media as conseqüências de seus atos, quando elaborava a defesa daqueles demônios, mandando-os de volta ao seio da sociedade. Aonde chegava, todos reunidos se dispersavam, deixando-o sozinho. Mas o Dr. Santos de Todos, não ligava pra isso não, o que mais queria era: dinheiro, fama e respeito e isso ele tinha em abundância .

O estrangulador macabro reuniu tanto dinheiro que os policiais foram facilmente comprados. Vivia dentro da cadeia como se estivesse em sua própria casa. Melhor, lá as despesas eram por conta do povo. Os demais detentos viviam afastados dele, pois o temiam, dentro da cadeia ele mandava e desmandava.

A data do julgamento já estava marcada e o seu advogado estava trabalhando na sua defesa. Iria apresentar um argumento forte para evitar o presídio de segurança máxima. Livra-lo da culpabilidade é impossível, mas poderia alegar insanidade mental, conseguindo com isso, que o preso fosse internado em clinica especializada. Chegou até a subornar um especialista em doenças psíquicas para testemunhar a favor do psicopata. Estando lá, ficaria fácil resgata-lo. Já possuíam um plano de fuga.
A verdade é que aquele ser asqueroso, possuía em sua alma a essência da maldade, dentro do mais profundo signo da palavra. Sentia um prazer indescritível ao ver estampado no rosto de suas vitimas o terror. Para livra-lo da condenação por homicídios qualificados e premeditados e não eram poucos, o Dr. Santos de Todos teria que provar a sua insanidade.
---- Uohahahah, quando é mesmo a data da porra do julgamento? Os risos satânicos corriam pelos corredores mórbidos, levando o medo até mesmos para aqueles que o demônio tinham em seus corpos. O demônio dos demônios estava ali, e isso exigia cautela por parte de todos.
--- Em breve. Respondeu o seu advogado de merda.








O dia do julgamento chegou e a entrada do fórum estava apinhada de pessoas, jornalistas e policiais aguardando a chegada do estrangulador macabro. Muitas famílias ali se encontravam com intuito vingativo. Estavam aguardando ansiosos o preso, pretendiam lincha-lo na primeira oportunidade. Em seus rostos a dor dos entes queridos mortos e o ódio de não poderem fazer justiça com as próprias mãos.
Foi preciso chamar o batalhão de choque para conter aquele contigente revoltado e remover o preso do camburão até a sala do julgamento. As pessoas tremiam de ódio só em pensar na possibilidade daquele espécime de ratoeira sair livre da condenação. E para piorar os ânimos, logo em seguida aparece em luxuoso carro o Dr. Santos de Todos, chamando a atenção da imprensa. Uma correria tem inicio em direção àquele advogado, todos estão querendo saber, como vai ser a sua defesa. Baseado em que argumento ele pretende livrar seu cliente da cadeia? Ele responde com desdém.
--- Nada a declarar.
Nada a declarar, era tudo o que ele tinha a dizer, era tudo o que aquela platéia carregada pelo ódio precisava saber...nada a declarar. O Dr. Santos de Todos e aquele verme algemado, não tinham a menor idéia do que é o consciente coletivo em ebulição. É uma verdadeira bomba, de alto poder destrutivo. Nem aquela massa compacta se dava fé disso. Ainda levará muito tempo até que descubram essa força. São crianças ainda no caminho da evolução. Na verdade só se unem quando a dor é coletiva. Fora isso, vivem sozinhos dentro de suas individualidades. Levam suas vidas medíocres anos a fio, deixando se cumprir naturalmente o ciclo da vida, acreditando que a mesma já está definida. Espécimes como o Dr. Santos de Todos, o estuprador macabro, e alguns lideres políticos corruptos são criações desta mesma sociedade, pois aceitam tudo dentro do mais vil conformismo, e a resposta para isso é sempre a mesma:
“ Tenho o que comer hoje, portanto isso não é da minha conta.”




O julgamento ocorreu normalmente e dentro do que esperava o advogado. Por um voto a mais o réu foi considerado doente mental, não sendo responsável pelos atos cometidos durante os surtos psicóticos. Foi absolvido pelos crimes mas ficará retido em clinica especializada para tratamento mental. Os poucos que se encontravam no interior da sala, não se conformaram e revoltados tentaram agredir o advogado e o preso. O juiz consternado com a decisão dos jurados, não teve outra escolha a não ser anunciar a sentença. Um dos espectadores mais exaltado, grita para o advogado quando este está saindo:
--- Quero ver o “doutorzinho” defender esse verme, quando a sua família for a vitima, filho duma puta!
O advogado simplesmente desdenhou o espectador e foi se inebriar diante das câmeras, não se importava com o que falavam dele, apenas queria mostrar que sua capacidade de advogar está muito acima de qualquer coisa. E se divertia com isso.
O advogado e o cliente trocaram apertos de mãos e se despediram. Nunca mais se viram. Soube-se apenas, através da mídia, que uma semana depois de internado, uma quadrilha de bandidos entrou e rendera a todos, libertando o seu ex-cliente insano.



Era noite de lua cheia, enorme e ludibriante, dessas de hipnotizar os amantes, fazendo-os prometeram o imprometível e debaixo dela fazerem amor sorrateiramente, invadidos de imenso prazer. Os transeuntes, sob os efeitos lunares são pegos de surpresa pelos carros da polícia, que passam em alta velocidade. A neurose tomou conta de todos, era gente correndo na mesma direção. Estavam curiosos para saberem o ocorrido. Em frente àquela enorme casa, uma da mais lindas do bairro, encontrava-se uma platéia aterrorizada. A rua parecia o estacionamento do batalhão policial. Um entra e sai desvairado.
--- Já localizaram o homem? Grita o chefe dos investigadores.
--- Parece que já Doutor. Responde um policial simplório.--- Já está vindo pra cá.

A multidão é assaltada pela buzina daquele automóvel, só visto antes em cinema. Os habitantes do automóvel olha para àquela multidão compacta, tentando entender aquela movimentação toda. O patrão ordena ao motorista para seguir em frente. O motorista investe o carro ameaçando-os, forçando-os a saírem da frente. Ao estacionar, desce do carro um homem desesperado, tomado pelo terror dos acontecimentos, é em sua casa toda movimentação. Entra correndo e não acreditando no que via, desesperado pega, em vão, nos braços, tentando ressussita-los, aqueles cadáveres com seus corpos retesados, pescoços roxos e olhos saltados para fora, como se tivessem vistos o próprio demônio. Todas as mulheres foram estupradas e mortas por estrangulamentos. Aquele homem, reconheceu a marca registrada do estuprador macabro, teve um impacto tão forte que sua mente não resistiu, desintegrando-se. Pirou. Corria todas as dependências da casa, na tentativa de ainda encontrar vida. Babava e falava coisas desconexas. “ Foi ele, foi ele...vocês viram, foi ele...” Um policial se aproxima a fim de reconforta-lo, mas percebe que o homem já não estava mais ali. A cena era triste. Muitos corpos pelo chão, e um homem totalmente desprovido de suas faculdades mentais. Uma ambulância se encarregou de leva-lo embora. Na saída a multidão atônita, reconhece.
--- Olha lá, gente! Berra um mais exaltado.--- É ele! o “doutorzinho” de porta de cadeia.! A multidão se vira para admira-lo, pois novamente ele era manchete.
O Dr. Santos de Todos saiu de dentro da casa, amarrado em uma camisa de força, balbuciando palavras ininteligíveis, com todos os músculos faciais retorcidos.



Shytara














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