“Ópio do povo”. Essa é a definição dada por muitos para a função de esporte nas sociedades. Isso porque ele promove alienação, um desvio momentâneo da realidade, maioritariamente, opressora. No Brasil, o substantivo ópio torna-se ineficaz, talvez “Crack do povo” enquadre-se melhor. Como diria Nelson Rodrigues, “No futebol o pior cego é aquele que só vê a bola."
Todos sabem de quão explorada pelos governantes milicos foi a Copa de 70. Seus craques e conquistas foram elevadas ao Olimpo, ornados com carros 0Km, inúmeras homenagens e medalhas, além de memética veiculação dos gols e dribles dos jogadores da seleção, grassando um sentimento ufanista-esportivo na população.
Ora, essa sensação só poderia mesmo ser ufano-esportiva, afinal, o país sofria o auge dos anos de chumbo, que era reproduzido nas telefunkens como o máximo da glória de seu povo. No entanto, a maioria dos 90 milhões engoliu.
Copa do Mundo de 2002. Muita coisa mudou. Governos totalitários caíram, guerras frias e quentes terminaram e começaram. Seleções tidas como “zebras” foram longe demais, seleções favoritas, praticamente, não foram. O futebol é mais veloz, ágil, pensa rápido e privilegia o resultado, sem rodeios. O espetáculo está mudado, não sua manipulação.
Com o escândalo da final da Copa de 1998 envolvendo a Nike, patrocinadora da seleção canarinho, o jogador Ronaldo e os anfitriões franceses, o que gerou uma CPI, foi especulada uma troca, os franceses levavam o caneco de 1998 e, na próxima, o Brasil seria agraciado pelos deuses do futebol. Apesar de eliminatórias vexatórias com direito a derrota para Honduras, Bolívia, entre outras potências do futebol mundial, disputamos a final da Copa com a Alemanha. Itália, França, Inglaterra, Argentina, não passaram de sombras do que realmente são (foram?) e saíram alardeando os ingentes equívocos repetidamente cometidos pela arbitragem, que acabaram acelerando a desclassificação prematura de ex-campeões.
Ante tamanha sucessão de “surpresas” e “equívocos”, ainda querem colocar a cereja no topo através de um balanço divulgado pela KirchSport AG, que transmitiu os jogos para o mundo, onde dizem “Muitos recordes de audiência foram quebrados, embora os jogos na Europa e nas Américas tenham ocorrido fora do horário nobre”. Fora do horário nobre? 3 e 30 da manhã é que horário? Haja eufemismo.
E ainda afirmam que a Copa foi um exemplo de “soberba organização”. Só se for organização de dólares nas contas dos patrocinadores, cartolas e intermediários mil que, esses sim, venceram a Copa. Afinal, que organização é essa que coloca telões no estádio reprisando lances polêmicos? Escala juízes e assistentes sem nenhuma qualificação para apitar jogos de mundial? Inserem a China só para fazer média?
Um ambiente como esse prova o que todo mundo já sabia, nem Olimpíadas, nem Copa, nem torneio algum que tenha importância, com sua majestade, lirismo e história, escapou aos tentáculos da ganância que permeiam todas as áreas de ação do ser humano.
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