Usina de Letras
Usina de Letras
57 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62309 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10398)

Erótico (13576)

Frases (50697)

Humor (20047)

Infantil (5466)

Infanto Juvenil (4789)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140835)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6218)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Perdido na Metrópole (2) Depressão. Depressa. Pressão. -- 08/03/2003 - 00:32 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, estou aqui com o Genival, voltando a escrever. Esqueci de apresentar. Genival é meu computador. Meu grande companheiro na volta à cidade grande. Desenvolvi uma grande afinidade por ele. E respeito. Genival é temperamental ao extremo. Na próxima semana, ele será a estrela da crónica. Eu prometi a ele. Precisava acessar a Internet e estava fora do ar, deu certo. Porquê este nome? Ele tem cara de Genival.

Ao chegar ao escritório, resolvi realizar uma operação bem simples: dar um telefonema para acessar um novo serviço no meu celular. Vocês concordam que é algo bem simples? Deveria ser! Ao telefone, ouço aquela voz simpática de radialista de supermercado frustrada: - Se você quer comprar manga tecle um, se quiser curar sua unha encravada aperte dois, se quer conversar sobre as curvas de Gisele Bundchen digite três, se você deseja ouvir o Eminem xingar a própria mãe tecle quatro, agora se for somente para um serviço simples como o que quer, aguarde, com paciência, nossas operadoras. Ouve-se, então, aquela trilha sonora de caixinha de música falsificada ou a mensagem: sua ligação é muito importante para nós. Eu sei que é importante, senão não teria ligado. Finalmente... Cai a linha e você tem que começar tudo de novo. Desisto!

Bom, cá estou perdido na metrópole. Pensei que fosse escapar do assunto aqui, mas não. Perguntaram: - Você teve depressão? Com vinte e poucos anos de idade? Vou responder.
Nasci como todo mundo nasce. Brinquei, estudei, cresci e fui trabalhar.

Um belo dia me disseram que eu tinha depressão. Vamos dizer que o dia não estava tão belo assim. Acho que posso afirmar que aquele dia foi horrível.

Quando diagnosticaram a doença, estava vivendo isolado, era uma ilha, cercada de neuroses por todos os lados. Minha auto-estima foi à zero. Não tinha fome. Meu trabalho não rendia e encafifava com tudo o que diziam. Era o centro do mundo. Meu problema era maior que o de todos.

A bola de neve começou quando me receitaram os primeiros medicamentos alopáticos. Não parou mais. Tomei de tudo. Chegava em um novo médico com aquela cara de ameba desnutrida e me perguntavam o que sentia. Depressão. Carimbavam em minha testa, depressivo, e dá-lhe remédio. Fiz terapia com todos os profissionais possíveis, só faltou o próprio Freud. E dá-lhe remédio. Tentei a homeopatia, florais de Bach, Mozart, Strauss. Massagens chinesas, iraquianas, xiitas, todas. Li todos os best sellers de auto-ajuda: Como Ser Feliz Sem Sair de Casa, Ame-se em Dez Lições, Como Fazer Um Escritor Ficar Rico Tentando Fazer Você Feliz, entre outras pérolas literárias. E dá-lhe remédio.

Para quem está fora do problema é sempre muito fácil. Ouvia: - Depressão é frescura. Isto aí foi falta de apanhar quando criança. Ele só quer chamar atenção. Podia até ser!
Mas estricnina nos olhos dos outros é refresco. Conheci a síndrome do pànico. O nome é lindo, mas a sensação é terrível.

Voltei a viver quando retornei à metrópole, depois de morar, por muitos anos, em uma pequena cidade do interior, procurando paz. Entre as quedas e reerguidas, voltei ao trabalho. Trabalho é um santo remédio quando gostamos do que fazemos.

O grande problema é que até hoje não sei se tive, ou tenho, depressão realmente. Alguém realizou um exame apurado? Não.

Chegou à hora de dar um basta. Comecei a analisar, sozinho, tudo o que havia passado e seguir a vida procurando ressaltar as coisas positivas. Lembrei o comentário de uma amiga: - Você já pensou que o número de quedas é o mesmo do de reerguidas? E o do meu atual patrão: - Você não tem nada rapaz. É tudo criação sua. Achava o comentário um absurdo. Foi a última opinião que aceitei. Era a correta no meu caso. Vejam bem, no meu caso. Não estou sugerindo que alguém deva parar de tomar remédios. Pelo amor de Deus!

Vamos acessar a tecla pause para ressaltar que este texto é um resumo de um período que durou mais de dez anos, nada aconteceu como em um passe de mágica. Foi um processo lento e doloroso que, na verdade, ainda não acabou. Tenho, ainda, uma porção de coisas que preciso mudar.

Gradualmente, fui abandonando os medicamentos, até parar. Parece tudo muito simples, mas não foi.

Li o depoimento de um médico que vem defendendo a tese de que, hoje, recorre-se à psiquiatria por razões que antigamente eram resolvidas naturalmente. Algumas situações eram encaradas como um período ruim e passava. Atualmente recorre-se à medicação por quase tudo.

Com a vida atribulada das grandes cidades. Na iminência de uma guerra. Com a TV e toda a mídia ressaltando, dia a dia, os podres da nossa sociedade. Vivendo em um mundo regido pela competição, é normal que qualquer um tenha pane em seu sistema. Somos, na atualidade, grandes computadores, grandes Genivais que saem do ar de vez em quando. Normal.

Sem querer dar uma de Paul Rabbit (Paulo Coelho em inglês), percebo que, quase sempre, a vida é muito simples. Temos o instinto de complicá-la.

_________________________________________________

Silvio Alvarez, 36 anos, é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui