ANONIMATO
Meu coração ama.
E o faz com tamanha impiedade,
Ama dolorido,
Ama inconseqüente,
Ama rebelde.
Ama, e não busca o ser que sublima,
Explora minh’alma
Arfando meu peito, fazendo-me louco
Com fantasias, bolhas de sabão.
Me faz armadilhas de troianos,
Desaportando cavalos de paus
Cheios de sorrisos que não tenho mais,
Da doce presença do perfume
Que não me é certa a lembrança.
Das palavras que deixei de dizer,
Do amor que não o fiz viver.
Ele se recusa a sorrir,
E quando o faz
E por escarninho da minha dor.
É grande a sua impiedade
Não escolhe hora ou lugar
Para desferir dardos de sua
Ambição inatingível.
Esculpi, com seu cinzel afiado,
Na face jovem, em noites longas,
Sobre o espelho,
O velho reflexo de sua perseguição.
Até que por fim,
A morte vista-se de Vênus,
E toque seus lábios findos,
Selando nossa agonia equânime
Com beijo frio,
Deixando transcender
Toda esperança.
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