Para quem escreveu um romance ambientado no mundo da bola, é meio complicado defender o esporte bretão nas páginas de um site literário. Mas vamos lá! Todo mundo defende – tal como um goleiro solitário diante de uma penalidade máxima numa decisão de Copa de Mundo – seu ponto de vista, e não me sentirei constrangido em falar sobre o assunto.
Primeiramente, descartemos todos os imbecis metidos a besta que escreveram sobre futebol no mundo das letras deste país tropical: Nélson Rodrigues, Carlos Drummond, Luis Fernando Verissimo, Armando Nogueira, João Ubaldo e tantos outros (não tenho tempo para pesquisar). Para ser intelectual, neste país, tem-se que gostar de pobreza, de partidos socialistas e ser contra a pena de morte. E, obviamente, não reconhecer o futebol e o carnaval como expressões culturais do povo. Paradoxalmente, intelectuais amam os pobres e odeiam o que eles gostam: um desfile na Sapucaí e um clássico no Maracanã. Vai entender, meu Deus! Franceses têm o direito de cultuar Zidane e Platini; Americanos podem dar a bunda a Michael Jordan e Tyson; Alemães têm razão em apoiar “Schumi” e Steffi Graf. Mas nós, por sermos do Terceiro Mundo, devemos mandar Gugas e Pelés às favas!
“Salário de jogador de futebol é um absurdo!” É mesmo – concordo. Professores, médicos, bombeiros, agentes de saúde, coletores de lixo. Todos eles deviam ganhar mais do que atletas de futebol. Aqui, na Terra Brasilis, e em qualquer outro lugar do planeta! Alguém conhece um cirurgião que ganhe mais do que o Agassi nos EUA? Quem sabe um professor da Sorboune viva melhor, tenha mais bens e mais regalias do que Fabian Barthez - para ficar no trivial - na França? Tenho quase certeza de que o mais consagrado escritor inglês tenha mais dinheiro e prestígio do que Backham na terra da Rainha Elizabeth...
Cá pra nós e a torcida do Corinthians: é difícil engolir a capacidade de alguns iluminados ganharem dinheiro em atividades consideradas menos ilustres. Mesmo aqui, nesta comunidade literária, é ofensivo considerar o fato de Paulo Coelho vender mais de 30 milhões de livros! (e, particularmente, não li um livro sequer do nosso maior escritor de todos os tempos! – pelo menos quantitativamente).
Os 6 bilhões de habitantes do Planeta Azul sobrevivem até hoje graças à contribuição de um monte de gente. Cientistas, governantes, líderes, pessoas comuns que deram sua parcela de contribuição para o desenvolvimento da humanidade. Esportistas, inclusive.
Adorava acordar de madrugada para assistir as corridas do Senna. Não perdi uma final do Corinthians nos últimos 15 anos. Isto não me faz melhor nem pior do que ninguém. Tive uma amiga que odiava o fato de eu gostar de futebol. Ela gostava de dançar “New Wave”, na Broadway, em São Paulo. Era uma pessoa muito inteligente, engajada, politizada. Há anos não a vejo. Eu preferia ouvir Chico Buarque e João Bosco. Detesto dançar, até hoje. Mas não perderei a final de domingo nem fodendo!!...
