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cronicas-->Perdido na Metrópole (4) Gírias e Clones Raelianos Viajant -- 08/03/2003 - 00:37 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caminho solitário pelas ruas da metrópole. Para onde quer que focalize minha atenção, vejo uma profusão de pessoas solitárias. Criam-se guetos para unir identidades, para sobreviver. Já que gosto não se discute, procuramos estar com quem pensa da mesma forma, com quem tem o mesmo nível sócio-cultural. Será que isto é necessário? Precisamos deste isolamento?

Minha metrópole acolhe todas as culturas, todas as classes.
Minha grande cidade acolhe tudo e todos, mas, não integra, tolera. O surgimento de guetos em um mesmo espaço é a prova cabal disto. Poucos percebem que a beleza da vida está, justamente, nas diferenças. Vou apelar para o clichê: o que seria do azul se todos gostassem do amarelo? Como seria um governo sem oposição?

A diversidade da nossa pátria está espalhada por todas as esquinas e becos escuros, ou claros. Nas calçadas, nas ruas, um Mercedes fecha um Fusca, o Pitt Bull do musculoso assalariado paquera a cadelinha Poodle da madame. O executivo no ónibus pede licença ao office boy para sentar-se ao lado da doméstica e todos descerão no mesmo ponto. Todos estão indo para o mesmo lugar. O rumo de todos é um só! Hoje, estou mais Paul Rabbit do que nunca. Um Paulo Coelho comunista.
Entre os mais novos criaram um dialeto. A gíria tomou conta. Presenciei um diálogo curioso entre dois rapazes. Aqui mesmo no Brasil, no centro de minha metrópole.
- E aê véio?
- Fala sangue-bom, firmeza?
- Cê é mó vacilão, ta mi tirando maluco?
- Tó suave truta.
- O lance é o seguinte mano. Cê me devolve a bombeta que tá, tipo assim, pela ordem, tá ligado?
- Tó zarpando a milhão!

Vocês entenderam alguma coisa? Este belo diálogo cultural prosseguiu e eu saí correndo. Estavam assassinando meu português, agora que estou aprendendo. Tá Limpo! As palavras mudaram e as que foram mantidas não significam a mesma coisa. Da hora!

Estou escrevendo um artigo sobre a história do skate. Tem até dicionário para entender o que a tribo fala. A tribo do skate. Três grandes artistas da MPB criaram Os Tribalistas.
Vou começar a andar de tanga. Vai ser um sucesso! Sou sangue-bom galera!

Esqueço o assunto e decido ir à pinacoteca. Lá vou ter sossego. Nunca vi uma fila tão grande para ver arte. Não, não estou no meu país. Seguranças por todos os lados para garantir a segurança dos quadros. Ar condicionado para a conservação das obras e do nosso resfriado. Na fila um garotinho, carregando um livro do Harry Potter, pergunta:
-Mamãe, vai ter quadro do Picasso?
-Vai sim filho, fica quietinho.
Daqui a pouco ele vai chegar em casa e pedir para assistir à TV Cultura. -É verdade, diz a mãe, ele adora. Não estou entendendo mais nada. Vocês querem explicar?
-É a globalização. Ah bom! Entendi.

Este é o país das diferenças. Aqui, elas convivem em perfeita harmonia, quando respeitadas. Esta miscelànea cultural é a mola propulsora da nossa nação. Ninguém conseguirá administrar este universo chamado Brasil sem levar em conta esta diversidade. É preciso oficializar as desigualdades!

Volto para as ruas em um domingo ensolarado. Artesãos vendem suas obras, colecionadores de carros, chaveiros, selos, dividem seu prazer com os transeuntes, uma dupla de repentistas diverte quem passa, um caricaturista retrata alguém à mesa de um bar e um maluco corajoso salta de um arranha-céu, de pára-quedas.

A noite chega e seres humanos dormem nas ruas, por todos os cantos, entregues à sorte. Sorte? Aparece um grupo de pessoas e oferece-lhes sopa, de graça! Um mendigo vem em minha direção, recuo com medo. Ele pede fogo para acender seu cigarro e, frente ao meu pànico aparente, oferece um, fumamos juntos conversando sobre política económica globalizada.

Em casa, aqueço uma lasanha de oito reais, no microondas, e penso. Tudo pode, e deve, ser diversificado, as pessoas não são iguais. Necessitamos de igualdade em apenas um quesito: um mínimo de qualidade de vida. Quem nos inventou criou também o estómago e sugeriu que, de vez em quando, passássemos em uma concessionária médica autorizada para manutenção. É o mínimo. Não sou candidato a nada, esclareço.

Esta semana fui visitado por ETs. Viajei em um disco voador e passei horas conversando com os clones raelianos de Karl Marx, Gandhi, Adoniran Barbosa, Elis Regina, Freud, Chaplin, Abrahan Lincoln, Vinicius de Moraes, Grande Otelo, Costinha, Getúlio Vargas, John Lennon, Carmem Miranda, Pato Donald, Cartola, Cható, Machado de Assis, Cazuza, Renato Russo, Morrison, Jorge Amado, Goethe, Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Mozart, Luther King, Shakespeare e Betinho. A paisagem era de Portinari, ouvimos Reginaldo Rossi, comemos cachorro-quente e bebemos suco de acerola, entre uma e outra partida de truco. Foi uma experiência interessante!

A fome nunca será zero enquanto não tivermos universidades públicas, em quantidade e de qualidade, apinhadas de estudantes de todas as classes, raças e credos! Talvez, quem há de conquistar este sonho de todos nós, não passou por uma. Viva a diferença!

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Silvio Alvarez, 36 anos, é assessor de imprensa da banda rock pop Yslauss, artista plástico de colagem e colunista.
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