Usina de Letras
Usina de Letras
10 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62283 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Perdido na Metrópole (6) O andróide-fone e o halterofilist -- 08/03/2003 - 00:41 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Percebi, hoje cedo, que tenho um grande talento para surfista. Notei tal habilidade andando em um ónibus. O motorista executou tantas manobras radicais, que testei todas as técnicas de equilíbrio. Pelo menos não caí. Uma senhora sentada, toda confortável, esparramada no banco, ganhou o dia. Ela adorou. Riu a valer. Sentei ao seu lado e rimos juntos.

Cheguei inteiro ao escritório. Antes, porém, escapei de uns cinco moto-boys. Não tenho nada contra estes profissionais, ao contrário. Acho só que eles não precisam passar quase em cima da calçada, rente à sarjeta, para chegar mais rápido onde quer que seja. Na minha metrópole tem mais moto-boys do que ruas. Graças a eles, entretanto, nossas encomendas chegam mais rápido e com mais segurança a seus destinos.

Agora mudaram o sistema de atendimento da empresa responsável pela telefonia da minha metrópole. Quando liguei para pedir o número de um telefone, falei com uma máquina.

Acho que era uma andróide que fugiu do filme Blade Runner. Porém, mais simpática e atenciosa do que muitas atendentes de carne e osso. É um sarro! Ela te ouve, responde e conversa. Conversa, não. Aí já estou exagerando. É que estou acostumado a bater altos papos com o Genival, meu computador. Ele aproveita para mandar lembranças!

Eu queria saber como este sistema funciona.

Depois de falar com a funcionária eletrónica mais simpática da minha vida, fui atendido por uma moça de verdade, com um humor péssimo. Após dar a informação com uma pressa danada, não esperou que eu desse os parabéns pela introdução do novo sistema. Simplesmente, desligou na minha cara.

As máquinas estão mais humanas que os homens. Eu não acredito que estou escrevendo isto!
É, o mundo está perdido como eu, perdido na metrópole. Vamos deixar para lá. O mundo é lindo, a vida é bela!

"Eu, hoje, acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia e de beijar o português da padaria". Este trecho da canção de Zeca Baleiro transmite o meu estado de espírito no momento em que escrevo esta crónica.

Como é bom estar assim, feliz, sem ter ficado rico.

Passo por um cinema e lá está escrito: o cine tal apresenta o lançamento inédito filme tal. Alguém já viu um lançamento que não fosse inédito? Deve ser uma comédia!

O pior de tudo é que não sei o motivo de estar tão bem. Na minha metrópole é assim. Nosso humor oscila como o càmbio. Em um dia queremos sumir do mapa e no outro, abraçar o mundo com amor e carinho. Exalamos alegria pelos poros.

Esta alternància é curiosa e bastante comum, especialmente, para quem vive em uma grande cidade.
As duas situações a seguir são verídicas e exemplos claros do barco à deriva que nós somos.

No auge de uma crise existencial e sem dinheiro, fui passear em uma feira de arte localizada bem no centro da cidade. Precisava de uma tela para praticar minha arte de colagem e espairecer. A arte é minha terapia. Resolvi pedir a um comerciante que me confiasse uma tela pequena e expliquei a situação. Sem saber nada a meu respeito, não pensou duas vezes e acreditou. Resultado: com o que ele me "emprestou", criei um quadro e vendi. Com o dinheiro comprei outras duas telas. Produzi em uma delas e levei para o meu novo amigo. Meu fornecedor, até hoje. Eu poderia ter desaparecido para sempre. Ele abriu o coração, e confiou em seu feeling. Ainda existem muitas pessoas assim. Estão mais temerosas, mas não foram extintas da face da Terra.

Em outra ocasião, saí da lavanderia com uma sacola plástica branca e fui à banca comprar um jornal. Distraidamente, deixei o volume sobre o balcão e passei a olhar as publicações, quando um homem alto, de meia-idade, halterofilista com certeza, entrou no mesmo local carregando uma sacola igual à minha.

Na hora de sair, sem perceber, peguei a minha e a dele e fui embora. Quando percebi estava com um troglodita pronto a me encher de sopapos, me chamando de ladrão. Recuei por não ter percebido o engano. Não tive tempo para raciocinar. Ele tinha encontrado a chance do dia para bater em alguém.
- Seu ladrão safado, ele gritava.
Os pedestres começaram a parar a nossa volta. E ele berrando.
- Eu te pego seu larápio. Você vai se arrepender de ter nascido.
Eu tremia. Devolvi a sacola branca e segui andando de cabeça baixa. Era inocente, mas ninguém sabia. O mastodonte não teve piedade e continuou:
- Seu canalha batedor de carteiras. Vem aqui seu calhorda!

Nunca tinha passado por este tipo de experiência. Foi traumática. Neste dia não consegui dormir. Não sosseguei enquanto não falei com a dona da banca, no dia seguinte, e mostrei que não era um criminoso. Ela riu. Para ela foi algo banal. Eu não achei nada engraçado. Saí ileso por um triz.

Para quem não sabe, em situações como esta, sou gago. Fiquei sem falar direito por uns três dias.

Assim é o povo da minha metrópole. Tem de tudo um pouco. E ninguém é perfeito. Esta é a beleza da vida.

Uma boa semana a todos!

_________________________________________________

Silvio Alvarez, 36 anos, é assessor de imprensa da banda rock pop Yslauss, artista plástico de colagem e colunista.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui