Usina de Letras
Usina de Letras
74 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13266)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10369)

Erótico (13570)

Frases (50639)

Humor (20032)

Infantil (5440)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140811)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6198)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->À Sombra do Jatobá -XVI - O despertar de Ana -- 30/09/2003 - 00:40 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

À Sombra do Jatobá – XVI – O despertar de Ana

A lua já ia alta e, como um olho perscrutador ficou analisando a face de Ana que, com o convite da tia Elvira para passar uns tempos na cidade, não conseguia dormir. Com o calor sufocante, havia deixado a janela do seu quarto aberta e, com os olhos estatelados, sonhava lindos sonhos, via-se na cidade, usando vestidos novos, passeando pela praça, convivendo com outras pessoas e visitando as colegas que mais apreciava, estreitando assim suas amizades.

Do ponto de vista de Ana, esticada em sua cama, a lua já havia ultrapassado as pontas recurvas do bambual e deixara de mirar-se nas águas do rio Curú, para bisbilhotar o momento de Ana, para açular seu romantismo, para confabular situações e participar dos seus projetos.

O convite, inesperado, da tia, havia aberto uma porta em sua vida. Apesar de contrariar a opinião de Chico, ela estava ansiosa para partir.

O rapaz, ao saber da intenção de Elvira e ao perceber o assanhamento de Ana, ficou desesperado. Descobriu dentro de si o ciúme crescer, descobriu, com espanto, tudo o que Ana representava para ele e descobriu, quase amedrontado, o quanto ele a amava.

Tentou impedir, mas Filó disse, já meio agastada com ele, que Teobaldo resolveria o caso.

Ana passou a noite entre pequenos cochilos e sonhos acordados, sonhos de menina-moça, ansiosa por se libertar da família e do “mato”, como se referia à fazenda,

O seu último cochilo foi despertado pelo matraquear das lavadeiras que praticamente madrugavam junto ao rio, para aproveitar o frescor, ou pelo menos o calor suportável da manhã.

Curiosa, Ana se levantou e foi à janela espiar as mulheres que abriam suas trouxas, separavam as peças de roupas e, agachadas junto ao rio, prendiam as saias por atrás dos joelhos, para que não se molhassem. Conversando, rindo e até cantando, elas iam esfregando, batendo as roupas ensaboadas nas pedras e estendendo-as para quarar.

A atenção de Ana foi chamada por um homem que, longe dos olhos das lavadeiras, foi se esgueirando e embreando no bambual. Como uma onça, ele ficou quieto, na espreita.

As mulheres foram terminando o serviço, recolhendo a roupa lavada, para estenderem em casa, e partiram. O homem não se mexia.

Quando a última, uma moça carnuda, peituda, acabou de juntar a roupa e, olhando para os lados, vendo-se sozinha, tirou o vestido e entrou no rio, o homem rapidamente se despiu e correndo, açodado, atirou-se sobre ela.

Ana ocultou-se junto à esquadria da janela, com medo de ser vista, e ficou atraída pela cena inusitada, e quando o homem mergulhou a cabeça da lavadeira na água e a violentou, Ana sentiu um calor invadir seu corpo. A moça se espadanava n’água; para poder respirar, segurou com as mãos o pescoço do homem e ergueu a cabeça. Ele tornou a mergulhá-la enquanto, alucinadamente, a cavalgava. Ana foi se arrepiando, com as carnes tremendo e quando o homem largou a moça e voltou para o bambual ela sentiu que um líquido quente corria-lhe pelas pernas.

Completamente aturdida com as manifestações incontroláveis do próprio corpo, como um rio rolando suas águas revoltas, com faminta sofreguidão, Ana se levantou e correu para o banheiro, com a respiração arfante, para tomar um banho frio, fugir do desconcerto em que se encontrava.

Depois de aliviada e bem arrumada, dirigiu-se para a cozinha, onde percebeu que Chico e Teobaldo discutiam. Voltou rapidamente para a sala, mas Teobaldo notou a sua presença e acabou com a discussão:

- Eu ainda não tive tempo de pensar, com cuidado, sobre o assunto, mas vou decidir logo. Filó está com pressa de dar uma resposta à Elvira.

- Mas Teobaldo... – insistiu, nervoso, o rapaz.

- Se aquiete, Chico, logo mais nós conversaremos. Agora vou à lida – pegando seu chapéu, saiu com seus passos pesados, suas pernas arqueadas de vaqueiro.

Ao notar a caminhonete de Delfina entrando pela porteira, montou rápido no seu cavalo e estugou-lhe o passo. Detestava encontrar-se com a cunhada.

Filó correu para receber a irmã e, inocentemente, foi logo lhe contando o pedido de Elvira. Delfina não chegou a entrar dentro da casa; ali mesmo, em pé na varanda, foi direto ao assunto, dando, como sempre sem titubear, a sua opinião. Fez-lhe ver a responsabilidade que estavam impondo à uma quase criança, como Ana, mas Filó insistiu com argumentos baseados na pena que sentia da irmã caçula e, Delfina, como era do seu feitio, respondeu-lhe com palavras um tanto ásperas e sérias, exasperando os nervos de Filó, que concluiu:

- Pois eu vou falar com Teobaldo e se ele consentir, Ana irá ajudar a Elvira, e pronto!

- Pronto coisa alguma, Filó! Ana vai sair de sua companhia e de Teobaldo por meses, vai viver com um casal cheio de problemas e preconceitos; na cidade, longe das suas vistas, Filó; das suas vistas, entende? – vendo que a irmã apenas a olhava, atoleimada, para retrucar, mas turrona na sua decisão, Delfina completou – eu não vou ficar aqui, de braços cruzados, enquanto vocês fazem burradas! Elvira vai ouvir de mim, também! E boas, eu lhe garanto! Se ela precisa repousar, que ponha mais uma empregada ou que venha para a fazenda, mas tirar a Ana de perto dos pais não está direito!

- Você não vai aborrecer a coitada da Elvira! – acudiu Filó.

- Não vou aborrecer a “coitada” da Elvira – repetiu com ironia – mas vou mostrar-lhe que filho dos outros é coisa séria, não se pode dispor assim e, na idade da Ana, é uma temeridade. Olha bem, Filó – continuou em tom de “quem avisa amigo é” – Ana precisa de você agora, é adolescente, não me venha a dizer depois que eu não lhe alertei!

- Credo, Delfina, que boca de praga!

- Boca de praga não, que quando quero praguejar, não há cão que não me atenda... Mas, neste momento, eu estou querendo meter juízo nesta sua cabeça de vento!

- Você acaba sempre desbocando!

- Com você eu já falei, agora vou “desbocar” com Elvira, Arnaldo e Teobaldo. Depois me dou por vencida – olhando com firmeza para a face avermelhada de fúria da irmã, Delfina aproximou seu rosto e lhe gritou – Passe bem, Filó!

- Passe...- respondeu a outra, afastando, assustada, a cabeça.

Agora a coisa estava assim: Ana assanhada para ir, Chico desesperado para que ficasse, ela amedrontada com as palavras de Delfina e a indecisão do marido.




F




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui