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Infanto_Juvenil-->Entre grilos e esperanças -- 20/02/2003 - 14:06 (joemil de sousa e cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ENTRE GRILOS E ESPERANÇAS

JOEMIL
CAPÍTULO 1
Matheus — Vejam quem vem chegando! (grita ao avistar Tio Afonso.)
Thiago — Onde está ele? (procurando e não encontrando)
Matheus — Ué...ele vinha vindo por ali, nesta direção! (surpreso, procurando Tio Afonso)
Tio Afonso — Socorro! Socorro! Acudam! (grita de dentro um buraco que havia no caminho) Socorro! Meninos, por favor! Tirem-me daqui!
Mário — Tragam uma escada! (argumentou para Thiago e Matheus)
Matheus — Onde é que nós vamos arranjar uma escada? Só se for ali, no barracão de obras.
Tio Afonso — Vá lá, correndo, Matheus! Peça ao homem que ele empresta.
Mário. — Ei! Tio Afonso, agüenta um pouquinho porque a escada já está vindo.
Tio Afonso — (sobe pela escada que Matheus arranjou. Tira a poeira, ajeita seus óculos de grossas lentes e argumenta) Acho que preciso trocar esses meus óculos...Jurava que aquele buraco era apenas uma sombra no caminho...
Matheus — Pudera, Tio Afonso, o senhor vem correndo feito um desesperado! Por que o senhor corria tanto?
Tio Afonso — É que, na noite passada, enquanto tentava contar as estrelas, elas me pediram para lhes contar uma estória de ninar...Diziam que era noite e por isso elas estavam querendo um conto daqueles que não têm fim e nos fazem dormir na doçura da narrativa.
Foi, então, que pedi a elas para me levarem a um mundo de belezas reais, igualzinho ao que elas vivem. Assim, eu poderia contar-lhes todas as aventuras que viveria neste mundo.
Gente, as estrelas pareciam piscar seus olhinhos para mim, e eu, como sou um enamorado do brilho da noite, sonhava enquanto as olhava. De repente, uma delas me falou: "Tudo certo! Nós vamos lhe transportar para um lugar maravilhoso, onde poderá viver suas aventuras e depois narrá-las para nos ninar até o dia amanhecer
Mário — E depois, Tio Afonso? (entusiasmado)
Tio Afonso — Eu perguntei o que era preciso fazer para ser transportado. Elas então me falaram: "Só terá que arranjar a companhia de algumas crianças. Nós adoramos crianças! — Elas sempre nos dão ótimas idéias!" Quis logo saber se eu poderia levar as crianças que eu quisesse, imaginando como eu iria convencer os pais de vocês e deixar comigo nesta aventura. Elas exclamam: "Sim! Pode levar as crianças que você quiser! Nós, aqui em cima, cuidaremos de tudo o que for preciso." Então, saí correndo e aqui estou, convidando vocês a virem comigo. Quem topa ir nessa?
Meninos — Ôba! Eu vou! Eu quero! Eu também! (manifestando desejo de ir)
Matheus — Que tal nós chamarmos Silvia e Túnia para virem com a gente?
Tio Afonso — Boa idéia! Vamos chamar as meninas para podermos combinar como iremos.

CAPÍTULO 2

Narrador — Todos juntos combinam que a saída será nesta mesma noite.
Uma melodia deliciosa soa no ar, colorindo o céu.
Faz-se logo noite. As cores fogem dos tons claros do dia para o azul celeste da noite. Centenas de estrelas, em evoluções, dançam em cirandas, fogem e voltam ao mesmo lugar várias vezes. é um lindo espetáculo! Parece um feixe de luz dividindo-se em vários fachos que se agrupam e dividem constantemente.
voz "Pronto senhor Afonso. o senhor e a sua turminha estão reunidos. agora já podem ser transportados." (carinhosamente firme):
Tio Afonso — E os pais das crianças? (interrompeu preocupado). Eu iria comunicá-los agora!)
Voz — Pode deixar que nós já ajeitamos tudo. Enquanto vocês estiverem vivendo suas aventuras a estarão fazendo na velocidade do pensamento, o grande amigo de todos e, então, os que estiverem vivendo normalmente por aqui nem sentirão o velho tempo passar. (esclarece Estrela-Stela, rainha da Nebulosa Curiosa)
Tio Afonso — Certo, Estrela-Stela. O nosso grande amigo, o pensamento, está e estará sempre conosco. Ouviram ?
Silvia — Ouvimos. Mas com quem está o pensamento? (brinca, sorrindo da pergunta boba que fizera).
Estrela-Stela — Silvia, o pensamento é uma força imbatível que temos dentro de nós mesmos. é através dele que tudo se modifica, transforma e acontece. Vocês serão transportados, viverão e verão tudo-tudo para, posteriormente, nos narrarem tim-tim por tim-tim.
Tio Afonso — No pensamento, voamos por todo o universo em fração de segundo. No pensamento, achamos as soluções para todos os casos que encontramos. No pensamento, dominamos e sentimos o que é o papel de viver na vida, (as crianças aplaudem)
Estrela-Stela — Todos preparados?( suavemente anunciando a grande partida)
Tio Afonso —Tod...Péra! Péra! Espera aí! Ah, Meu Deus do céu, onde será que eu coloquei meus óculos?
Túnia — Ei! .Tio Afonso, estão aí sobre sua cabeça! O senhor levantou os óculos para poder enxergar de longe, não lembra?
Tio Afonso — Ih! Já ia esquecendo! Desculpe, Estrela-Stela! Agora estamos todos prontos.
Estrela-Stela — Então...Boas aventuras. Tchauzinho!


CAPÍTULO 3


Narrador O verde da floresta faz contraste com o dia claro ensolarado de verão. O canto dos pássaros é forte e atrativo. Árvores enormes parecem furar o céu com suas pontas agudas. Tio Afonso preocupado com o grupo está pasmo. Olha para todo redor procurando semelhanças. Tenta decifrar um grande enigma.
Mário — Tio Afonso, ouça os pássaros. Sinta a alegria deles em nos verem pro aqui. Parece até que eles já lhe conhecem. Ouça só! (fazendo pedido de silêncio, gesticulando dedo indicador sobre a boca)
Thiago — É mesmo ele parecem fazer Ti-ti-..a Ti-ti...a, como se quisessem dizer Ti-ti-o A-fonso!
Mário — Onde será que estamos?
Thiago — Sei lá! Parece que esta floresta é gigantesca. Tudo aqui é imenso, enorme. Estou ficando com medo.
Tio Afonso — Garotada?! Todos aqui comigo! (reunindo todos em torno de si) Acho que estamos numa floresta encantada...
Todos — Floresta encantada?!
Tio Afonso — Isso mesmo. Floresta encantada, do tipo daquelas de contos de fadas, com tudo mágico acontecendo à nossa volta. Vejam as dimensões das coisas! Tudo é exageradamente enorme! Vamos permanecer juntos. Não devemos nos separar por nada, nem um minuto sequer. Vamos explorar melhor a área que estamos.
Matheus: — Tio Afonso! (olhos esbugalhados de curiosidade e medo) Olhe aquilo ali na frente! Como brilha!!

Tio Afonso — Venham comigo! Vamos chegar mais próximos. Não devemos nos deixar levar pelo temor; ainda mais pelo que desconhecemos.
Silvia: — O senhor quer dizer que o medo é um sinal de ignorância? (encolhendo-se junto aos outros que já se encontravam mais encolhido que perna de calça de péssima qualidade depois da primeira lavada)
Tio Afonso — Geralmente, sim. É o desafio da sabedoria. Todos nós temos que aceitar e vencer. Somos seres racionais e por isso não devemos nos intimidar pelo desconhecido. É necessário exercitar nossos poderes.
Thiago — Olhem!
Túnia — Ei, gente! Aquele brilho que vem dali, sai daquela lata gigante.(surpreendendo-se com o tamanho da lata)
Mário — Nunca vi nenhuma lata de cerveja desse tamanho.
Ei! Tio Afonso, acho que em vez de floresta encantada, entramos numa floresta enlatada! (rindo e fazendo todos liberarem um riso frouxo de medo e ansiedade) Será que estamos numa fábrica de cervejas?
Matheus — É... vai ver que estamos no terreno da fábrica... “CERveja só” o que você disse, Mário. (voltam a rir com o trocadilho, apesar da tensão) a lata é da nossa altura. Deve ter, pelo menos, um metro e meio.
Tio Afonso — Nada disso! Ela tem o tamanho normal. Deve ter uns quinze centímetros no máximo. (espanto geral nos olhos e gestos faciais de todos) Nós é que diminuímos. Fomos reduzidos ao tamanho de uma lata de cerveja. Estamos correndo perigo. Somos vulneráveis, principalmente deste tamanhinho. Agora mais do que nunca, não podemos nos separar.
Vamos darmos uma paradinha por aqui mesmo. Observar melhor o ambiente!
Thiago — Tio Afonso, olhe aquela formigona! Parece um cachorrão de tão grande que é!
Túnia — E agora, Tio Afonso? Ela vem em nossa direção! Que vamos fazer?
Tio Afonso — Calma, gente. Ela parece apenas querer nos identificar. Formiga tem muito dessas coisas; elas mandam as vigilantes na frente pra ver o que acontece. Fiquem quietos e calmos. Vou tentar me aproximar dela.
Silvia: — Cuidado, Tio Afonso! Ela pode picar!
Tio Afonso — Deixa comigo! Tô acostumado a lidar com formigas. O açucareiro lá de casa vive cheio delas. Vou lá!... (dá os primeiros passos e, de repente, escorrega. Cai e vai deslizando até parar junto a cabeça da formiga, que o olha assustada)
Meninos — Levanta, tio!!! (a formiga abre suas presas dianteiras) Levanta, tio!!! (o olhar da formiga é ameaçador. Os gestos prenunciam um ataque) Vamos, tio. Corre!!!
Tio Afonso — (atordoando ainda com o tombo. Sem óculos. Tenta levantar-se. Põe-se de quatro, ajoelhado. Procura os óculos. Fica face a face com a formiga. Ela coloca suas presas sobre os óculos que lhe despertam mais a atenção) Quer devolver os meus óculos. (diz irado)... Quer devolver meus óculos, por favor!? (mais cordial)... Sem eles não posso ver e nem lhe ouvir direito.
Formiga — Pois não. Pegue seus óculos. Nós, formigas não temos esses tipos de problemas de cegueiras... Nunca ouviu dizer que formiga de açucareiro faz bem pros olhos?
Tio Afonso — (estático, com cara de babaca) Formiga não fala! Formiga não fala! Formiga não fala! (pegando os óculos e tentando achar a turma com o olhar perdido) Formiga fala????
Meninas — Não fala, não!!! (sem entenderem direito o que acontece)
Tio Afonso — Você fala?
Formiga — Falo! E vou lhe dizer mais, não falo uma palavra da linguagem dos seres-humanos-grandões.
Tio Afonso — É você fala mesmo.(já com os óculos)
Formiga — Estamos nos comunicando porque falamos a linguagem dos pequeninos.
Tio Afonso — Ué! Não estou falando o meu português?
Formiga — Não, senhor. Falamos em pequeninês.
Tio Afonso — Pequeninês?... O que vem ser isso?
Formiga — É uma linguagem universal. Nós animais, vertebrados ou não, insetos, bípedes, quadrúpedes, centopéias, répteis ou voadores, falamos a mesma linguagem, o pequeninês.
Tio Afonso — Pô, pessoal, tô pirando!? (voltando-se para o grupo que observava a tudo).
Formiga — É isso mesmo. A universalidade do pequeninês está no seu sentido primitivo. O senhor não sabe que a civilização e os conceitos de organização das sociedades humanas são fundamentadas na nossa, ou seja, no conjunto dinâmico e participativo de um formigueiro?
Tio Afonso — (ainda com cara de bundão) ??
Formiga — Pois é, seu ... Qual o seu nome? (carinhosamente)
Tio Afonso — Afonso. Tio Afonso, pra todos.
Formiga — Pois é, Tio Afonso, nós todos falamos a mesma lingua.
Tio Afonso — É... É.. . É...
Matheus — (chegando mais perto, depois de observar que o encontro era pacífico) Qual é, Tio Afonso, prendeu a agulha?
Tio Afonso — É, de fato, dá pra gente se entender legal.... Então,...(fazendo gesto de intimidade e passando o braço por cima do corpo da formiga) Qual é o seu nome?
Formiga — Sou a formiga Márcia. Vigilante do formigueiro da Rainha Juna.
Tio Afonso — Aqueles jovens ali (apontando) estão comigo. São da minha turma. Quero que conheça a todo.(apresentando)
Formiga — Alô, galera! Sou a formiga Márcia. Trabalho o ano inteiro, de janeiro a janeiro, e, graças a Deus, não o faço por dinheiro!!
Túnia — Máximo!?... Você trabalha e não ganha dinheiro?
Formiga — Sim. Não se espante. Nós, formigas, trabalhamos sempre satisfeitas porque somos bem recompensadas. Trabalhamos para nós e por nós mesmas. Quando o trabalho é associativo o seu desenvolvimento e resultado são mais produtivos e satisfatórios. Acho que quando os homens copiaram o nosso modelo, esqueceram de alguns detalhes essenciais. Principalmente o do cumprimento, do fazer e do realizar. Geralmente eles falam, falam, falam e quanto mais dizem, menos cumprem.
Tio Afonso — Você fala como se convivesse tão de perto com a nossa sociedade. Você é ou não uma formiga normal? Como pode ter essas opiniões e emitir conceitos?
Formiga — Tio Afonso, você esquece que somos modelos de uma sociedade? Um dos nossos méritos é a comunicação.
Tio Afonso — A comunicação entre as formigas é de fato bastante desenvolvida. mas...
Formiga — Pois, então; sabemos logo de tudo o que ocorre em todos os lugares. temos redes de comunicação com todos os formigueiros. Não se esqueça que a nossa linguagem é universal. Esqueceu?
Tio Afonso — De fato, eh! (um pouco sem jeito) estou tentando compreender e admitir o que você disse. entenda que é bastante difícil pra nós esta condição em que estamos. Eh! (mais sem jeito ainda) Por exemplo; que lugar é esse aqui? (ávido por uma resposta)
Formiga — Fique a vontade. Aqui é um parque; parte de uma reserva florestal do estado. Todas nós que vivemos por aqui somos por demais felizes, apesar de...
Narrador — Todos se entreolham aguardando o desfecho.
Tio Afonso — Apesar de...
Formiga — Apesar de estar havendo um probleminha.
Tio Afonso — Que probleminha? Estão pondo muito agrotóxico no parque? Mas convenhamos, vocês formigas não são fáceis. Basta o pessoal chegar no parque para um piquenique que logo logo, sem serem convidadas, vocês chegam. Querem participar e a primeira coisa que fazem é picar alguém.
Formiga — Não. Não é nada disso! Os homens sempre nos tratam como inimigas, Não é bem assim... Somos incompreendidas. Uma vez, Arzinha, uma formiguinha dançarina e muito simpática, foi dar as boas-vindas para um grupo de pessoas, assim como estou fazendo com vocês agora. Um deles, deu-lhe o dedo para que pudesse subir. Ela subiu e começou a dançar a nossa dança da receptividade. Observaram, observaram e parece que gostaram muito. Arzinha entusiasmada continuou a dançar, porque nós somos assim, adoramos dança. Passou a bailar seu corpinho num outro ritmo, era a dança da formiga, onde nós representamos com os gestos do corpo toda nossa satisfação de viver; sorrimos, pulamos, giramos na ponta dos pés e cantamos. De repente, ainda no meio da dança, ele elevou o dedo até a altura da boca e deu-lhe um enorme soprão. Desprevenida,. a coitadinha girou varias vezes no ar até se chocar no chão, toda quebradinha. Ela ficou ali desacordada. Ele, dando uma estranha gargalhada, se retirou feliz da vida. Corremos apressados para socorrê-la. Ficou um tempão sem poder se mover. Nunca mais Arzinha quis saber de boas-vindas.
Tio Afonso — Tadinha! Os homens, às vezes são tão cruéis... mas não são todos. A maioria são bons e adoram dançar. A dança é uma das mais lindas manifestações da alegria. Nós fazemos parte um grande grupo de dança, o Arte do Corpo. Nossa academia é pra lá de legal, com isso a gente relaxa, descontrai e constrói benefícios para o corpo e a cabeça. Em nossa sociedade precisamos muito de atividades prazerosas. Vocês também têm essas necessidades?
Formiga — Claro. Em qualquer sociedade existe sempre trabalho, dever, direito e prazer. E, na nossa, tem um fator a mais, a cultura.
Tio Afonso — Cultura e folclore!
Mário — Isso aí, Tio Afonso! Mas voltando ao assunto, o problema é por causa dos agrotóxicos?
Formiga — (fazendo ar de suspense) Nossa rainha nos colocou a postos porque está havendo uma confusão danada entre uns grupos de ...
Narrador — A formiga não chega a terminar sua informação. Um pardal faminto num rasante cinematográfico, bica a pobrezinha e alça vôo carregando-a. Todos ficam assustados e curiosos. Há no ar muita indignação. Tio Afonso toma conta da situação.
Tio Afonso — Calma, gente! Tudo se acerta. Lembrem-se de que nada poderá nos prejudicar. Estamos unidos. Unidos, somos fortes e inabaláveis.
Silvia — Tio Afonso, que grupos serão esses que a formiga Márcia falou? serão canibais?
Tio Afonso — Não. Não devem ser. Vamos esperar um pouco. Pode ser que outra formiga venha nos passar o recado da rainha. Notei que a Márcia ia nos dizer da preocupação do seu formigueiro. Elas sempre foram hospitaleiras e zelam por seus amigos.
Matheus — Vejam o que achei?
Mário — O que é isso? Um pedaço de folha de bananeira toda furadinha?
Matheus — Mais ou menos. É o Jornal dos pequeninos!
Mário — Jornal dos pequeninos? (indignado) Pára com isso! Tá brincando com a gente? Numa hora dessa!?
Matheus — Brincando, nada. É sério. Ouça: “AGITAÇÃO NA FLORESTA: NUVENS DE GAFANHOTOS INVADEM PLANTAÇÕES E DEVORAM TUDO O QUE ENCONTRAM.”
Túnia — Nuvem de gafanhotos... Vejam só! Só faltava esta! Máximo! Tamos fritos!
Silvia — Por que vim parar aqui? E agora? Desse tamanho seremos devorados em questão de segundos. Deus-do-céu!
Narrador — O grupo se assusta com o incrível barulho que enche o ar de expectativa, medo e mistério.

Capitulo 4


Narrador — De um lado, uma nuvem verde toma conta do céu. Do outro, o céu torna-se cinzento devido a uma outra nuvem, só que de cor cinza. O ruído continua ensurdecedor. a nuvem verde é composta de esperanças e a cinza, de grilos.
Silvia — Deus-do-céu!(observando a nuvem cinza) Socorro, são os grilos!!!!
Thiago — Deus-do-céu! (observando a nuvem verde) São as esperanças!!
Silvia — Que azar! (a nuvem cinza parece explodir em imagem e som) São os grilos!!
Narrador — No céu o verde e o cinza movem-se em descidas e subidas rápidas. No chão, o grupo se une mais e mais. O medo e a fragilidade feminina fazem com que Túnia e Silvia corram em direção oposta ao grupo. A nuvem cinza baixa sobre as duas, envolvendo-as totalmente. Elas são erguidas e levadas.
Os meninos e Tio Afonso se perguntam: “E agora?”
De repente, as esperanças voltam numa nuvem verde mais densa e investem sobre os grilos. O ruído é cada vez mais atordoante. Uma zoeira incrível, pois dizem palavras e mais palavras de uma só vez. Uma avalanche de palavras diferentes, sons desconexos ditos simultaneamente. Os grilos são ameaçadores e carregam as meninas. As esperanças continuam investindo sobre eles. Mais grilos se incorporam a nuvem inicial. No ar muito mais grilos do que esperanças. As meninas, presas dos grilos, não vêem saída. Os grilos agrupam-se de forma ovalada e batem em retirada. Túnia e Silvia são finalmente levadas por cima das copas das árvores, ganhando o céu aberto, sumindo no horizonte.
As esperança, após a debandada da nuvem cinza, descem até os menino e Tio Afonso que continuam assustados.


Capítulo 5


Túnia — Silvia!?... Silvia!?... Silvia!?...(sem obter resposta) Oh! meu Deus, que será que está acontecendo? Tá tão escuro... não enxergo um palmo à frente do nariz. Esse barulho está me deixando louca. Esses grilos são barulhentos... Silvia!?... Silvia!?... Silvia!?...
Silvia — Túnia.
Túnia — Tô aqui. Você tá bem? (gritando)
Silvia — Tô legal. Atordoada. Essa barulheira é infernal.
Túnia — Não tô te ouvindo. Fala mais alto.
Silvia — (gritando) Eu disse que tô legal. preocupada com o resto do grupo. Onde estarão? (chorando) Túnia, vem cá!
Túnia — (gritando) Fica tranqüila. Continue gritando pra lhe localizar. (tateando na escuridão)
Silvia — (abraçando-a) O que vamos fazer pra sair daqui? (enxugando as lágrimas com a ponta dos dedos)
Túnia — Venha, vamos andando por aqui, junto a parede. Quando esses grilos nos deixaram aqui neste buraco, notei que a gente tava entrando num buraco dentro de um tronco caído no chão. O máximo. Deve haver uma saída. Vem!
Silvia — Uma entrada... É isso! Por onde viemos, é claro. Vamos!! (andando de mãos dadas)
Túnia — Olhe, Silvia, a saída! Tá escuro lá fora. Já deve ser noite. Daqui dá pra sentir o ar mais frio que vem de lá. O máximo
Silvia — Têm dois grilos lá fora. Acho que somos prisioneiras mesmo. Tão montando guarda. Tomando conta da gente. O que vamos fazer? Somos do mesmo tamanho deles. Tô morrendo de medo.
Túnia — Não sei não! Não sei não! Não sei não!
Silvia — Quero minha mãe!
Túnia — Eu também!... (depois de alguns segundos) Uma vez eu li que os grilos vivem à noite. O máximo
Silvia — E é verdade mesmo. Pelo barulho deve ser aquela nuvem deles outra vez.
Narrador — A nuvem cinzenta e barulhenta se concentra na clareira defronte da entrada da caverna-prisão. Gritam palavras de ordem de toda sorte. De repente há um anúncio e a palavra de ordem passa a ser única; “Assembléia geral!!”
Grilos — Assembléia geral!!
Grilo-Chefe — Atenção, grilos!! Vamos por ordem nessa nuvem. Tá uma bagunça!! Nós temos em nosso poder duas espécimes de diminutos seres humanos. Os humanos são aqueles que não nos suportam. Estão sempre querendo nos destruir e depreciar. Costumam dizer que quando alguém tá inseguro, tá cheio de grilos
Grilos — Morte aos seres humanos!!
Grilo-Chefe — Calma! também não é assim.(tumulto na nuvem que ameaça desfazer-se em duas: uma contra e a outra a favor) Vamos tomá-las como reféns. Serão úteis em nossa batalha contra as esperanças. Grilo-espião?! Grilo-espião?! (chamando)
Grilo-espião — (correndo e ajeitando suas asas e antenas verdejantes) Sim, chefe!
Grilo-Chefe — Diga-nos o que ouviu naquela nuvem verde.
Grilo-espião — Chefe, elas estão preparando uma supressa pra nós.
Grilo-Chefe — (zangando-se) Quero detalhes, idiota. De - ta - lhes! Fui claro? Que elas estão se preparando, eu sei. Quero saber o que estão preparando.
Grilo-espião — Ah! Isso é segredo delas.
Grilo-Chefe — Que é segredo, também sei. É sua obrigação saber qual é este segredo, ouviu?
Grilo-espião — Sim, chefe. Só sei que as esperanças, sob o comando da Rainha Juna, agora contam com a ajuda daqueles quatro seres humanos, que longe dos grilos (ironizando) se dizem inteligentes. Inteligente é o senhor magnânimo chefe.
Grilo-Chefe — Chega de puxa-saquismo. Somos os melhores. Somente nós podemos dominar o mundo.
Grilo-espião — Com sua licença, chefe. Nossas conquistas não devem ser somente no mundo das palavras, pela posse do vocabulário, devemos investir pesado na agricultura e...
Grilo-Chefe — Chega. Chega Grilo-espião, na agricultura deixe que os gafanhotos cuidam de tudo. Já chega de tanta confusão. Nós não somos gafanhotos. Somos grilos. gri-los!! Entendeu, Grilo-espião!? Quero ver como você se sai como um verdadeiro professor grilo. Diga-me uma palavra-grilo.
Grilo-espião — Azar. Azar é grilo!
Grilo-Chefe — Muito bem! Mais uma pra seu conhecimento, sorte.
Grilo-espião — Pô, chefe, essa não! As esperanças dizem que essa é delas.
Grilo-Chefe — É por isso que nós vamos viver eternamente em guerra com elas. Todas as palavras do vocabulário são nossas; e disso ...eu não abro mão!! (furioso)
Grilo-espião — Chefe. Certo, chefinho. Não abrir mão é grilo!
Grilo-Chefe — Aprenda de uma vez por todas, Grilo-espião, todas as palavras são grilos, todas, todas, sem exceção. Fui claro?
Grilo-espião — Claríssimo, magnânimo chefinho. Clareza total também é grilo. Certo?
Grilo-Chefe — Certíssimo. Certíssimo.
Túnia — Viu. Então a batalha que eles estão travando é essa. Uma luta pela posse e direitos do vocabulário.
Silvia — Ufa! Que susto! Eu pensei que era causa de tragédias.
Túnia — Falando desse jeito parece que tá contaminada pelo vírus dos grilos.
Silvia — Tenho uma idéia. Vamos propor ao Grilo-Chefe uma condição qualquer pra sairmos dessa. Que tal?
Túnia — Boa. Mas o que propor? (curiosa)
Silvia: — O que você acha da gente propor alguma coisa relacionada com música e dança?
Túnia — O máximo. Você ouviu que o Tio Afonso e os meninos estão do outro lado, certo?... Tenho quase certeza de que podemos sugerir uma mesma competição entre os grupos. Pegando a sua idéia e acrescentando uma discussão pela posse das palavras.



CAPÍTULO 6

Tio Afonso — Rainha Juna, não acha arriscado tentar esse tipo de diálogo com os grilos?

Rainha Juna — Não acho, não. Se eles aceitarem o desafio, poderemos decidir, de uma vez por todas. Vamos definir logo o que nos pertence e o que são deles. O senhor concorda que esta é uma forma muito simples? Realizar uma tribuna para avaliar e definir quais as palavras que são grilos e quais as que são esperanças.
Tio Afonso — (tropeçando e deixando cair novamente os óculos) Diachos! Esta palavra óculos, nós vamos perder pra eles. Óculos é grilo!
Rainha Juna — Não diga isso? Óculos são esperanças. Esperanças de melhor visão (sorrindo vitoriosa)
Tio Afonso — Que tal convidar a Coruja para ser a juíza?
Rainha Juna — Bem pensado. Também os bem-te-vis, os papagaios e as araras para comporem a bancada.
Tio Afonso — Perfeito, senhora rainha.
Rainha Juna — Estou tão esperançosa que amanhã mesmo vou mandar um enviado especial até os grilos para acertamos tudo.
Tio Afonso — O que proporemos em caso de vitória ao vencedor? Tô preocupado com as meninas do lado de lá. Se vencermos, o que certamente acontecerá, poderemos obter a liberdade delas?
Rainha Juna — Assim faremos. Falaremos tudo nesse encontro. Aliás, o senhor está convocado a ir comigo.

CAPÍTULO 7

Grilo-Chefe — Então, Rainha Juna, está nos propondo um desafio? Quer mesmo discutir, a posse das palavras? Quer mesmo constatar que todas as palavras do vocabulário são grilos, não é?
Rainha Juna — Se o senhor Chefe dos grilos assim o diz...Só falta provar na presença de um mediador e dos jurados. Aí, sim, veremos se as palavras são esperanças ou não. Só falta aceitar o desafio. A Coruja já concordou em ser a mediadora; os papagaios e as araras, também. Os bem-te-vis não poderão comparecer, pois ficarão de plantão, vigiando os intrusos.
Então, o que me diz?
Grilo-Chefe — Muito bem, Senhora Rainha Juna! Logo mais à noite, na clareira do parque, nos encontraremos para a batalha. As condições dos vitoriosos já estão estabelecidas. Se nós, grilos, vencermos, o que é inevitável, teremos todo o vocabulário somente para nós!
Meninas — E a nossa liberdade!
Tio Afonso — Porém, em caso de vitória das esperanças, as palavras conquistadas serão registradas como esperanças e nós, os humanos, estaremos em liberdade.
Grilo-Chefe — Senhor Afonso, não pense que somos idiotas. A presença de vocês e as condições dos vitoriosos estão bastante definidas. O que vocês, humanos, devem saber é que as regras da batalha serão as seguintes:
1. O mediador dirá a palavra;
2. Os interessados reclamarão a posse para si;
3. Vocês, humanos, justificarão o “ porquê”
4. Os juizes, então, dirão a quem pertence a palavra.
Rainha Juna — Por mim e meu pessoal, tudo certo; alguma dúvida, Tio Afonso?
Tio Afonso — Não, Senhora Rainha. Nenhuma. Os meninos farão a defesa do seu lado e as meninas defenderão os grilos.
Rainha Juna — Boa sorte para o senhor e todos os seus grilos!
Grilo-Chefe — Obrigada, Senhora Rainha, mas quem vai precisar de sorte são vocês, esperanças; e muito mais vocês, humanos (com ironia).
Tio Afonso — Meninas, o destino nos colocou em posições adversas. Preparem-se, a batalha será ótima. Vocês são bastante inteligentes e confio nas condições saudáveis da realização da disputa. Boa sorte! Esperanças para vocês!
Meninas — O máximo, Tio Afonso! Grilos para vocês! (sorrindo)


CAPÍTULO 8

Coruja — Atenção, competidores! Queiram formar-se na ordem: à direita, os grilos e as meninas; à esquerda, as esperanças e os meninos; no centro, Tio Afonso e os jurados.
Grilo-Chefe — Estamos prontos!
Rainha Juna — Nós também!
Meninos e Meninas — Nós também! Podemos começar.
Coruja — Senhores juizes! Atenção! A primeira palavra é...Amanhã! (gritaria geral. Os grilos gritando: gri-los! grilos! As esperanças em coro: es-pe-ran-ças!) Representantes dos grilos, o que têm a justificar?
Meninas — O amanhã pode ser terrível; cinzento como a nuvem dos grilos! (gri-los! grilos!)
Coruja —Representantes da esperanças, o que têm a justificar?
Meninos — O amanhã é a esperanças do hoje! (gritam as esperanças em triunfo)
Coruja — Senhores juizes, a quem pertence esta palavra?
Juizes — (após alguns momentos de consulta entre eles) Empate!
(Uma algazarra toma conta da clareira. O movimento das nuvens se alterna. Cria-se a expectativa para a próxima palavra)
Coruja — Senhores competidores! Senhores competidores, façam silêncio! Desta forma não é possível continuarmos a competição.(Após muito tempo de insistentes pedidos de silêncio...)A palavra é ...Atalho!
Meninas — Atalho é grilo! Se um caminho normal já é grilo, o desvio e a redução do caminho normal é um grilo maior ainda!
Meninos — O atalho é o desvio e a redução do caminho normal; logo, riscos, cansaço também se reduzirão. É a esperança da chegada rápida!
Coruja — Senhores Juizes...
Juizes — (após discussão) Palavra sem posse definida. Qualquer um pode pegar o atalho. Empate!
Grilos — Este júri é incompetente. Estão querendo fazer média. (vaias)
Esperança — Assim não vai dar! Os juizes não querem nos dar ganho de causa. (vaias)
Coruja — Competidores, acalmem-se! A terceira palavra é...Amor!
Meninas — O amor não é feito só de certezas e momentos dóceis. Não é totalmente cor-de-rosa. O amor sempre será grilo!
Meninos — O amor é verdadeiramente esperança. Só ele dá sentido à vida. Há, até um ditado que diz: Só o amor constrói!
Juizes — Amor é esperança!
Grilos — (vaiando) É marmelada! É marmelada! É marmelada! Sai daí, coruja. Você está agourando nossa classe. Fora! Fora!
Esperança — Novas palavras são esperanças!
Coruja — Atenção para a quarta palavra. Perda!
Meninas — A perda é grilo. Ninguém gosta de perder, nem mesmo as esperanças. (gri-los! grilos!)
Meninos — Nós nos julgamos perdidos. Depois de qualquer perda sempre há uma esperança de reaver Esta nós perdemos. Que grilo, heim? (cochichando entre eles)
Juizes — Perda é grilo!
Grilos — Um - dois - três esperanças é freguês!
Grilo-Chefe — (entusiasmado com o ponto recebido) Senhor mediador, quero requerer novo julgamento para as primeiras palavras.
Coruja — Depois da competição o senhor entra com o recurso. Agora passemos à quinta palavra. Julgamento!
Meninas — Julgamento, como pode nos levar à perda de alguma coisa, é grilo!
Meninos — Julgamento sempre traz benefícios. É necessário a análise e a reflexão. e a partir daí sempre haverá uma solução. Portanto é esperança!
Juizes — Empate! julgamento é, ao mesmo tempo, grilo e esperança. (novas vaias e aplausos)
Coruja — (improvisando) A palavra é Vaia!
Meninas — Vaia é sinal de que algo não deu certo. É descontentamento! É grilo!
Meninos — Vaia é evidência de uma falha. A pessoa vaiada irá procurar um meio de acertar da próxima vez, tendo, então, esperança do aplauso.
Juizes — Empate!, Vaia é grilo e esperança.
Coruja — A palavra é Pessimismo!
Meninas — Não tem o que justificar. É grilo!
Meninos — Aí é que as meninas se enganam. Pessimismo é uma esperança negativa!
Juizes — Empate!
Coruja — A palavra é Dinheiro!
Meninas — Dinheiro é grilo! Principalmente a falta dele ou mesmo pouca quantia dele. Dinheiro é grilo!
Meninos — Dinheiro é esperança. Esperança de “ status” , de conforto. É esperanças!
Juizes — Empate!
Coruja — A palavra é Fartura!
Meninas — Fartura é grilo! É, em decorrência da fartura de um que o outro sempre fica sem. Se uns têem fartura de comida, outros passam fome. Se uns têem fartura de conforto, outros vivem ao relento, sem ter sequer onde dormir. É grilo!

Meninos — É esperanças! Quem na vida não pensa em ter mesa farta? Em ter fartura de felicidade? Fartura de carinho? É esperanças!
Juizes — Empate!
Coruja — A palavra é Pai e Mãe!
Meninas — Seriam esperanças se todos os pais tivessem consciência de seus deveres. Seriam esperanças se não houvesse pais que abandonam seus filhos. Seriam esperanças se não houvesse pais que, sem qualquer planejamento ou amor ao próximo, põem no mundo um novo ser para sofrer. Seriam esperanças se não houvesse pais que produzem filhos para tentar uma união já falida. Por tudo isso, Pai e Mãe são grilos!
Meninos — As verdadeiras evidências de se ter pai e mãe podem ser muito bem observadas nas razões defendidas pelas meninas.
Se elas, meninas, não tivessem tido em seus pais o contrário de tudo aquilo que argumentaram, hoje não teriam dito o que disseram.. Os deveres dos pais são, entre todos, os mais belos e dignos de serem exercidos. Pai e Mãe, acima de tudo, esperanças!
Juizes — Empate!
Grilo-Chefe — (pensando) Está ficando difícil ... Terei que virar a mesa. Não vai dar. Esta batalha está um tremendo grilo...
Coruja — A palavra é Dúvida!
Meninas — Sem dúvida alguma, esta palavra pertence aos grilos. A dúvida é o impasse entre o sim e o não. A falta de certeza, a negativa...
Meninos —O sim e o não são certezas. Afirmações de uma escolha. É bom escutar e dizer “ sim “ . É bom ouvir e dizer “ não “ , pois ambas são decisivas. Estas palavras simbolizam a vontade do ser humano, o direito de escolher.. Dúvida é esperança.!
Narrador — A competição proseguiu por toda a noite. Já de manhã, todos exaustos, concluem que não se chegará a uma definição. As palavras conquistadas, ora pelas esperanças, ora pelos grilos, depois de apeladas, são reconsideradas e classsificadas como pertencentes a ambos os grupos, caracterizando o empate como resultado definitivo.
A espera e a demora provocam reações diferentes; os grilos estão revoltados, as esperanças observam pacatas, até porque quem espera sempre alcança. O Grilo-Chefe não concorda com nada, incita seus comandados a tumltuarem. Ofendem a Juíza e os jurados com grilos de profunda falta de decoro. Resolvem partir do local. Levam as meninas como reféns, prometendo gravíssimas atitudes caso não se resolva, de uma vez por todas, que os grilos são superiores.
Tio Afonso — E agora? Com o empate, tudo continua como antes. Como é que poderemos trazer as meninas de volta? Como sairemos desta?

CAPÍTULO 9

Grilo-Chefe — (chamando) Grilo-espião!!!
Grilo-espião — (atendendo) Pois não, chefinho. Grande Senhor Grilo-Chefe! Às suas ordens.
Grilo-Chefe — (ordenando) Quero um relatório completo sobre os movimentos das esperanças. Quero que você faça uma coisa bem mais importante. Relate ao porta-voz das esperanças que as meninas já estão completamente dominadas por nós, grilos, e que, após a batalha, elas decidiram fazer parte da vida dos grilos e se tornarão Rainha dos Grilos!
Grilo-espião — Certo, Chefe! (tentando, desajeitadamente, consertar no lugar suas verdes e falsas asas de esperança).
Grilo-Chefe — (Pensando, com sorriso debochado) Deus do Céu, tomara que acerte mesmo. Este grilo é tão burrinho... tão burrinho...

CAPÍTULO 10

Tio Afonso — Rainha Juna, seu porta-voz está dizendo a verdade? Eu não acredito! Tenho muitas dúvidas sobre o que está sendo dito. As meninas jamais nos deixariam.
Rainha Juna — O senhor parece esquecer que elas estão vivendo no mundo dos grilos, onde tudo é estranhamente cinzento e incoerente, onde a insegurança e a hipocrisia prevalecem até sobre a razão! O contágio dos grilos nas pobrezinhas já é um fato! Tadinhas...
Matheus —Nós temos que fazer alguma coisa para salvá-las. Imaginem se elas não tiverem essa chance de voltar? Nunca mais elas poderão ter esperanças em nada!
Mário — Tenho uma idéia.
Matheus — Maravilha. Diga lá!!
Mário — Já pensei em tudo. Nós vamos anunciar, através do porta-voz, que haverá uma competição entre as formigas e as esperanças. A competição será para ver qual o grupo que dança melhor. Armando e Arzinha farão uma apresentação de ritmos e dança de salão. Bailarão do fox ao rock, passarão pelo tango, salsa até samba.
Tio Afonso — Você acredita que só o casal de formigas-dançarinos prenderá a atenção deles.
Mário — Claro! E pra reforçar, as esperanças Cidinha, Ludinha e Mariana e Max entrarão para uma demonstração de jazz e uma sessão de ginástica aeróbica.
Matheus — Ginástica aeróbica de baixo impacto?
Rainha Juna — Isso mesmo. Vamos mostrar pra eles os movimentos que geram saúde.
Matheus — Também queria tá nessa. Sou amarradão em dança. Os movimentos coreografados me fascinam.
Mário — Sai dessa, Matheus. É só pras formigas e esperanças. Nós vamos, enquanto os grilos observam as danças penetrar naquela caverna e tirar as meninas de lá.
Rainha Juna — Precisamos ensaiar alguns passos com as formigas. Pra estabelecermos um código de sinais. Enquanto os grilos se divertem com o show, elas vão dançando e através de seus passos nos darão informações sobre o movimento e troca da guarda.
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Tio Afonso — Antes de qualquer providencia, devemos identificar o segundo grilo-espião que age entre as esperanças. O primeiro é facilmente reconhecido, pois é rídico e idiota. Mas o segundo não. Uma vez identificado, deixariamos que percebece que nós humanos, as deixamos e voltamos ao formigueiro. Que nos demos por vencidos e, se as meninas quiserem viver como rainhas, que o façam e vivam cheias de grilos.
Matheus — (interrompendo) Se vocês sabem quem é o espião-ridículo, por que permitem que ele aja entre vocês?
Rainha Juna — A razão é simples. Nós o deixamos pensar que nos engana. Quem engana a si mesmo só pode viver com grilos. A minha maior preocupação é este plano chegar não conhecimento deles; isso poderá trazer riscos às meninas.
Formiga Márcia — (aparecendo toda enfaixada e de muletas) Posso participar deste plano?
Tio Afonso — Formiga Márcia! O que houve? Você começou a nos dizer sobre a diferença e, de repente, aquele pardal... (interrompendo para ajudar a pobre formiga a acomodar-se sobre um pequeno caule). Você está muito machucada?
Formiga — Minha Rainha, após ter feito todos os curativos e repousado, perguntou-me se desejava completar minha missão. E aqui estou...Realmente, fiquei bastante ferida; mas, por sorte, eu consegui cair do bico daquele pardal danado. Em meio à queda fui praticamente salva por um grilo; um grilo disfarçado de esperança. Foi minha salvação, pois choquei-me com ele no ar e isto amaciou minha queda. Ficamos desacordados, por muito tempo estirados no chão, aguardando chegada de socorro. Nosso pelotão levou-nos para o hospital, de onde sáimos a poucos tempo. Sei de coisas que serão bastante úteis a vocês. Enquanto repousava pude rever todos os nossos sistemas de segurança e contra-espionagem, através deles pude concluir. o que é necessário para se extinguir os grilos.
Mário — Tem certeza?
Formiga — Claro que tenho. Enquanto estivemos internados pude constatar que os grilos vivem de uma forma diferente e especial. Depois explico, agora o que temos que fazer é ensaiar os passos-códigos e arranjarmos alguns espelhos para resolvermos essa situação de uma vez por todas.
não muito real, pois quando eles buscam a essencia da verdadeira razão de ser, da verdadeira identidade, ele se torna extremamente inconsistente, vê que não é nada. É vazio e sua personalidade não existe e aí ele se transforma flores silvestres, cada um de uma cor e pefurme diferente dos outros.
Rainha Juna — Muito bem, minha amiga. O mais importante é que você pode indicar quem são os dois espiões que estão entre nós.
Formiga —Perfeitamente, Senhora Rainha.
Tio Afonso — Vamos, então, ao plano de Mário. Como é? ( ouvindo, novamente, o que Mário planejou)
CAPÍTULO 11 (espelhos)
Narrador — A clareira bem defronte a entrada da caverna está deserta. Os grilos-guardiões estão disfarçados e escondidos entre as folhagens. Malael e Damabian, formigas-dançarinas, começam a evoluir a dança da chegada Seus passos são precisos e graciosos. As pernas movem-se ritmadas e desenham formas. Descrevem sinais codificados, dizendo onde se encontram os grilos-guardiões. Lecabel, Haziel, Poiel, Querubim e Serafim trazem tiras de elásticos coloridos. Fazem laçadas e envolvem-se neles, promovendo um festival de figuras e formas que se entrelaçam e descortinam os esconderijos dos guardas. Lecabel e Haziel portam espelhos e toda gesticulação causava reflexos multiplicadores aos olhos dos assistentes. Dançarinos e espectadores balançam a cabeça e membros em obediência a cadência da música ritmada que conduz o corpo à evolução dos movimentos. Os grilos-guardiões já são visíveis. . Malael e Damabian na emoção da melodia convida os grilos à participarem. Na magia da dança eles se integram como se tivesse havido algum treinamento para tal sincronia. A coreografia é deslumbrante, Esperanças, formigas e grilos bailam na clareira como se fosse um mega-show de Walt Disney. Com tanto atrativo os grilos não notam que Matheus e Thiago vão se esgueirando, rastejando e roçando nas folhagens, aproximando-se a porta da caverna. Matheus amassa um graveto seco e grilo-guardião ouve o estalido. Olha ao redor desconfiadamente. Matheus prende a respiração. Imóvel, apenas olha para Thiago. A compreensão e a cumplicidade dos atos está evidente no diálogo mudo do olhar. O grilo-guardião sai do ritmo. Procura por sobre sua cabeça o local de onde surgira aquele ruído. Confere rapidamente arbusto por arbusto. Nada encontrando se deixa envolver pela música e balança no ritmo. Matheus prossegue sua investida, desta vez, é Thiago que após mexer o corpo sobre os arbustos tem de ficar paralisado, perfeitamente estático pois estão chegando mais grilos-guardiões. E hora da troca da guarda. Os recém-chegados ficam a princípio surpresos com o que vêem, mas logo se deixam encantar pelo som e entram na dança também. Thiago porém está com o nariz espremido sobre algumas flores. O pólen das flores se desprende e invade as suas narinas. O espirro está difícil de ser contido. Ele se esforça. Tenta de tudo para prendê-lo. O pólen faz cóssegas. Ele tenta permanecer imóvel. Os grilos-guardiões se agitam freneticamente ao som da dança da alegria Fazem ciranda, patas-dadas com as formigas e as esperanças. Trégua que só a música e dança permitem aos opositores. Nos olhos de Thiago uma lágrima corre como que falando do seu sacrifício, do seu sofrimento. O espirro é inevitável...AATTTICHHHIIMMMMM!!!
O grilo-guardião que desconfiava de alguma estranheza se volta para a entrada da caverna. Matheus já está quase na soleira da porta mas não é visto. O grilo não enxerga nada que lhe chame a atenção. destaca-se do grupo. Emprenha-se numa moita e encabuladamente começa a fazer xixi.
Lecabel e Haziel dão início a segunda parte do plano. Dançando eles vão colocando os grilos frente a frente com os espelhos. Magicamente os grilos vão se desintegrando-se e fantasticamente no local do desaparecimento surgem flores. Flores águaticas, daquelas que enfeitam as águas límpidas, serenas e espelhadas dos lagos e lagoas.
Matheus — Túnia, Silvia?! Túnia, Silvia?! ( aflito, penetrando na caverna) Venham, depressa! Os grilos-guardiões foram vencidos. Vamos sair fora!
Túnia — Máximo, Matheus! Já não era sem tempo.
Matheus — Venham rápido antes que cheguem mais grilos. (puxando-as pelas mãos)
Narrador — Nem bem deram três passos para fora da caverna, mais uma surpresa desagradável, o grilo-gardião, que estava dentro da moita, surgiu entre eles e o caminho da liberdade. Há um instante de indecisão. Frente a frente com o grilo-guardião eles se vêem sozinhos, já não há mais nenhuma esperança ou formiga-dançarina no pedaço, como também não há nenhum espelho servindo de arma secreta. O jeito é enfrentá-lo. Matheus chama por Thiago, que corre para socorrê-lo, porém uma voz altera sua iniciativa:
Formiga — Deixa comigo! Resolvo isso num segundo. ( postando-se na frente do grupo. Cara a cara com o grilo)
Grilo-guardião — Saia do meu caminho, sua múmia formiguenta.
Formiga — Você vai ver, velho, verme, venal.
Narrador — O grilo voa sobre a formiguinha. Ela se esquiva e ordena ao grupo que corra na direção combinada, para junto do restante da turma. O grupo obedece. Ela esquiva-se de um soco. O grilo não desiste e investe violentamente num salto sobre ela. Um giro de corpo e o grilo passa velozmente e choca-se fotemente com o tronco de um coqueirinho anão. Ele cai desacordado, porém, um dos frutos do vegetal cai sobre a cabeça da formiguinha. Os ficam caídos no solo. Uma nuvem densa de grilos escurece o ar. O barulho é ensurdecedor. Toda turma foge. Formigas e esperanças batem em retirada. As meninas estão libertadas.

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Esperança — (rolando a lata com dificuldade) Assim não poderemos chegar junto com elas. Vamos! Força, suas molengas! Olhem o 1o grupo! Só tem esperanças cansadas (ofendendo). Só tem esperanças passadas, ou melhor, esperanças passadas são frustrações!
1o grupo: — (retribuindo as ofensas) Cansadas são as...
2o grupo: — São as o quê? (já querendo partir para a agressão física)
1o grupo: — As criaturas humanas. Aquelas, sim, é que são uma frustração.
Vocês viram o que aconteceu?
Grilos Vigilantes: — (procurando captar tim-tim por tim-tim) Ouça, para depois darmos o alerta. Não ataquem! Devemos ouvir primeiro tudo o que dizem.
2o grupo: — Ora se ouvimos; e confessamos que até pensamos que vocês tivessem participação na retirada dos humanos. Como é que um grupo pode se dissolver assim, tão de repente?
Só porque as meninas resolveram ser rainhas...
Por falar nisso, vocês são tão molengas que poderiam disputar com elas o título de Rainha dos Grilos!
1o grupo: — (ofendendo-se) Agora vocês foram longe demais! E isso não vai ficar assim, não! Vamos tirar isso alimpo! (marchando sobre o 2o grupo, que se retira rapidamente) Vamos atrás delas!
Grilos Vigilantes: — Elas já se foram. Podemos sair daqui e comunicar ao porta-voz para que ele repasse estas informações.
O plano do Grilo-Chefe começa a dar certo.
Mário — (pensando dentro da lata) Onde estarão as meninas?
(procurando até conseguir vê-las dentro do tronco da árvore) Como poderei falar com elas? Se eu abrir a boca, os grilos me pegam.
Formiga Márcia — (aos grilos próximos ao tronco da árvore, onde estão Túnia e Silvia).
Amigos grilos, por favor! (os grilos se aproximam). Sei que vocês guardam duas meninas a
i dentro e, talvez, possam me ajudar.
Como vêem, estou bastante machucada em conseqüência de uma queda que sofri. Então fui socorrida por um humano que me fez estas duas receitas.
Só que não consigo entender a linguagem dos seres humanos. (os grilos pensam)
Grilos Vigilantes: — Podemos saber, não custa nada.
Passe-nos as receitas, que levamos até elas. (estendendo as patas)
Formiga — (passando as receitas) Cuidado! Só tenho essas duas e, se elas não entenderem o que está escrito, eu estarei frita!

Tio Afonso — Meninas, que bom tê-las de volta. (ainda ofegante da corrida, abraçando-as e solicitando que se sentassem numa grande pedra, para descansarem)
Narrador — O grupo está unido novamente. as esperanças despersam e voltaram para seus redutos, o mesmo acontecendo com as formigas. Aproveitam o descanso para colocarem suas saudades em dia.
Mário — Olha aqui o que eu escrevi pra vocês enquanto a gente curtia aquela angústia toda.
Túnia — (recebendo os escritos) Ouça, Silvia. É para você.
Silvia
RECEITA PARA FUGIR DOS GRILOS
Não procure por seus grilos, pois estará sob pena de encontrá-los em maior número.
Deixe que eles apareçam gradualmente e, quando isso acontecer, encare-os normalmente.
Se eles se mostrarem mais grilantes do que nunca, aja como se eles não existissem. Verá que nada lhe atingirá, pois, dentro do seu pensamento, os seus grilos convivem em harmonia com suas esperanças.
Eis porque, na disputa de palavras, o empate será sempre decretado;
porque a interpretação e o pensamento é que fazem o grilo ou a esperança.
Agora, se você quiser sair de onde está e vir para o mundo das esperanças, terá que cumprir esta receita.
RECEITA PARA ENTRAR NO MUNDO DAS ESPERANÇAS


1 . Todas as manhãs, quando acordar, cantar e assobiar com todo o ar de seus pulmões;
2 . Olhar sempre acima da linha do horizonte, conservando a postura de seu corpo a mais ereta possível;
3 . Pensar nas coisas positivamente e criar expectativas e sonhos, para depois conquistá-los;
4 . Continuar vivendo, andando, sorrindo naturalmente e aproveitando tudo isso para sair dos grilos e penetrar num mundo de esperanças que, certamente se criará dentro de você.
Aí, as esperanças vão lhe levar para um lugar seguro, puro e concreto, onde você poderá ver o âmago da vida, encontrar a consci6encia e a nós, também, sonhando venturas com as esperanças” .
Mario, Matheus, Thiago, Tio Afonso
Em tempo: A mensagem é para vocês duas!
CAPÍTULOXII
Tio Afonso — Que bom! Estamos todos juntos e viveremos cercados de esperanças por todos os lados! Como é bela uma nuvem de esperanças! Esperanças que nos renovam a cada instante. Acho que faria até um discurso de agradecimento a elas.
Meninas — Nós, também! Já não agüentávamos mais aquele lugar cinzento. Não sei como algumas pessoas conseguem viver somente com grilos!
Como são barulhentos e incômodos...
Tio Afonso — É...mas nós aprendemos a conviver com ambos. Com grilos e esperanças. Só uma coisa me deixa magoado...
Matheus :—O que é, Tio Afonso?
Tio Afonso — (arrastando a voz, cabisbaixo) A Formiga Márcia. Coitadinha...Foi feita prisioneira dos grilos. Enquanto vocês conseguiam saiam do local, ela gritou por socorro várias vezes,.
Thiago — E ninguém foi socorrê-la?
Tio Afonso — Infelizmente, não. Coitadinha...Foi arrastada para aquele buraco no tronco (e com grande aperto no coração), sem poder fazer nada. Eu só a ouvia gritar desesperadamente...
Mário — Tio Afonso, o que podemos fazer por ela?
Tio Afonso — Rezar, Mário. Somente rezar. Pedir a Deus que os grilos não façam nada de mal a ela.
Meninos — Boa idéia, Tio Afonso. Vamos todos rezar (rezam).
Rainha Juna — Existe uma lenda que diz que, quando uma esperança pousa num ser humano é sinal de que coisas boas estão para acontecer. (dezenas de formigas aparecem a seu redor) Tenho observado vocês através de meus súditos. Quero, agora, lhes dizer que, sem sacrifício e sem determinação, nada se consegue. As lágrimas que cicatrizam as tristezas não superam as alegrias que ponteiam os sorrisos. Perdemos nossa súdita em cumprimento de uma batalha. Perdemos uma amiga em nosso convívio. Sim, perdemos, mas ganhamos, no seu gesto o verdadeiro espírito de bondade e irmandade. Ganhamos, lá no céu, uma companheira que nos acompanhará sempre que precisarmos. Ganhamos uma luz para iluminar nossas dúvidas, nossos grilos.
Crianças — (chorando) Então ela...
Tio Afonso — Sim, ela partiu. Não, não chorem. Vamos tentar agir como a Rainha está pedindo (com voz embargada)
Rainha Juna — Já soube que, logo que a fizeram prisioneira, a súdita Márcia, após gritar desesperadamente por socorro, assumiu sua condição de prisioneira. Depois chamou o chefe dos grilos e expôs nossa concepção de vida, tentando mostrar que, quando nós pensamos, podemos estar agitando uma nuvem de grilos ou uma nuvem de esperanças. Somos nós que determinamos se são grilos ou esperanças, não só as palavras, mas sim, tudo o que fazemos e pensamos, principalmente dirigindo nossa interpretação.

Ela no relacionamento que teve com o grilo no hospital, descobriu que o grilo em verdade não existe. Ele é uma subjetividade criada no pensamento que se obtém de uma forma, nesse caso com as características de um inseto que foi denominado grilo por ser saltitante, cinzento, estridente e até irritante. Uma vez questionada a sua essencia ele constata a sua nulidade e deixa de existir. Daí a função do espelho. Um outro exemplo materializado é o da bolha de sabão, ele cria forma e ocupa um espaço, mas se alguma coisa nela se apoia ela explode e deixa de existir.
O Chefe dos Grilos parece que compreendeu a mensagem de nossa súdita; tanto que pediu a cada um de seus grilos que, daquela momento em diante fizessem uma análise consciente sobre tudo o que pensassem.
Rainha Juna — Então foi por isso que a nossa nuvem aumentou...
Os grilos se conscientizaram que não eram grilos como pensavam e transformaram-se em esperanças; esperanças estas que foram e serão sempre bem vindas em nossas nuvens.
Senhora Rainha Juna, como foi belo o trabalho de sua súdita!... Por que ela morreu?
Rainha Juna — Eu não disse que ela morreu. Disse apenas que ela partiu para o céu.
Nós, que vivemos em sociedades terrestres, sempre que realizarmos nossas virtudes e deveres, completando, assim, nosso ciclo terrestre, subimos ao céu em forma de estrelas e, de lá, iluminamos todos os que de nós precisam.
Narrador — É noite. Todos olham para o céu. Namoram uma estrelinha que brilha sem cessar lá no infinito. Tio Afonso e as crianças sentem que estão sendo transportados de volta ao lugar de origem.

CAPÍTULO 13

Narrador — Após um dia de descanso e sono, a noite volta dentro da rotina do dia-dia. As crianças, dentro da alegria de seu mundo de fantasias, continuam vivendo e sonhando aventuras do pensamento. Tio Afonso aguarda, na noite, uma visita importante.
Tio Afonso — Será que a Estrela-Stella queria mesmo uma história de ninar ou uma nova estrelinha para brilhar?
Narrador — Os meninos e Tio Afonso observam o céu colorindo-se em matizes suaves e profundos, que se deslocam vagarosamente, misturando-se entre verdes, cinzas, enfim, todas as cores. Aquela mesma melodia inunda o espaço de paz. O céu, agora, parece ter mais estrela do que habitualmente. Nesta hora, as estrelinhas ansiosas parecem nem piscar. Na música celeste, soa uma terna voz...
Estrela-Stella — Boa noite, Tio Afonso...Aqui estamos para ouvir a história...
Tio Afonso — Boa noite, estrelas.
Esta não é uma história somente, é também, uma homenagem a uma nova estrelinha... “ ERA UMA VEZ, UMA FORMIGUINHA...(começando a narrar)

FIM

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