Era um garoto incomum, introvertido. Ouvia músicas medievais, sempre em silêncio, no escuro do quarto, sentado em sua cama. Dançava na rua, sempre sem som algum, mas num ritmo gostoso que fazia todos a seu redor sorrirem. Menos a mim. Eu nunca achei muita graça no tal garoto, desprezava-o, difamava-o até, tachando-o louco.
Até que, na estação de trem, ele me olhou. Aqueles olhos firmes, quentes, pareciam convidar para uma conversa, mas me mantive afastado, temeroso. Os olhos então me fizeram sorrir, e eu sorri como nunca antes havia feito, e pela primeira vez vi as coisas com os olhos do menino.