CARTA AO AMOR ENCONTRADO...PERDIDO
Amor...
O sol alça-se e resvala-se sem entusiasmo. Vês, nada aqui tem mais importància sem ti. O céu poderia inspirar-me tanta felicidade, mas no momento de arrojar meu ser para abraçar-te a realidade incide os laços e perco-te. Há somente o vazio. O ar que respirávamos juntos levou teu perfume consigo, deixando para mim somente oxigênio sem reabastecimento. Isso sufoca-me, de repente...É a impotência, não posso nem levantar meus braços para orar.
O tédio dos dias antigos - antes de encontrar-te - voltou para assombrar meus pensamentos, e lágrimas saudosas orvalham minha face...Perambulo o horizonte anil com minha alma gris, procurando uma brecha divina para aninhar-me, quiçá, nas asas de um anjo consolador. Mas encontro somente gaivotas ausentes caçando a refeição cotidiana, e ondas-garotas moucas beijando - quase sem sentimento - a areia opaca.
Uma pergunta sorrateira esgueira-se do silêncio...Terei o prazer de reencontrar-te ou será que te perdi para sempre ? Não ouço o eco de tua resposta...Então, outras perguntas borbulham do cálice do sofrimento - feito Caixa de Pandora - e roçam o teu perfil esguio...Como estás ? Que fazes ? Que penses ? Gozas de boa saúde e sorte ? Não zombes de mim, são minhas preocupações, mesmo distante de ti vivo em ti e tu em mim.
Perdoe minhas fraquezas, minhas obsessões, minhas quedas e subidas : é um ciclo anormal, por causa de meu amor transbordante por ti. Pergunto-me porque te amo tanto assim, mas após perguntas sem respostas e respostas sem perguntas retorno ao ponto de partida : NADA...Amo-te...simplesmente !
A noite cai...Erguendo meu olhar para a tela escura busco a estrela que fitávamos quando estávamos juntos...Mas não a encontro, e é tão suspeita a intuição de que a levaste contigo...Ai, meu amor, porque ? Perto da lareira crepitante acasalam-se assombrações, torturam-me e eu não posso as caçar. Elas me dizem que outro amor vai chegar para mim, e vai me fazer esquecer de ti...Ai...Como esquecer-te se fazes parte de mim ? Despedidas não existem no Universo, somente encontros-desencontros...ou encontros-reencontros...
Assim, essa lucidez fugaz apazigua meu lamento...Esperarei, então, a chegada - ou volta - de uma alma amorosa e carinhosa...Abro os portais de minha alma para recebê-la, como sempre, com amor.
© Jean-Pierre Barakat, 09.08.2000
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