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Contos-->UM DIA ESPECIAL -- 28/01/2000 - 09:02 (Jefferson Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acordo com a campainha do despertador. Sinto-me ótimo nesta manhã; bem disposto. Nenhum resquício daquela dor de cabeça infernal de ontem. Olho para o relógio em cima do criado e vejo que estou atrasado para o trabalho. Salto da cama. Tomo uma chuveirada. Meto-me no primeiro terno que vejo no closed. Bebo apressadamente o café que minha mulher preparou antes de ir deixar as crianças no colégio e saio. Está um dia lindo de sol aqui fora. Cumprimento o vizinho com um “bom dia”, que, de tão distraído que está, aguando seu jardim, não me responde. Resolvo, mesmo atrasado, ir caminhando até à repartição, que fica apenas a alguns quarteirões de casa. Afinal, um bom exercício vai me fazer muito bem.

Como sempre, as pessoas na rua estão apressadas. Porém, eu vou andando devagar, aproveitando aquele dia de um azul tão claro que dá vontade de ficar na rua o dia todo. Nunca me senti tão bem. Meu corpo esta tão leve que às vezes parece que estou levitando. Sinto-me feliz, embora, aparentemente, sem motivo algum.

No caminho, paro na banca para comprar o jornal do dia. Pego meu jornal preferido. Cumprimento o jornaleiro. Este, está tão ocupado, separando algumas revistas, que não me ouve. Deixo no balcão o dinheiro do jornal, dizendo-lhe para ficar com o troco. Como as horas estão passando rápidas, aperto o passo. As calçadas estão apinhadas de pessoas apressadas para seus compromissos que algumas esbarram em mim, obrigando-me, constantemente, a desviar-me delas.

Chego na repartição. Passo pelo diretor que parece estar preocupado com alguma coisa, pois não me vê. Vou direto para minha sala. Trabalho até a hora do almoço. Resolvo que não sairei para almoçar, assim poderei ir mais cedo para casa e ficar um pouco mais com a minha esposa e meus filhos.

O tempo passa e nem percebo as horas, quando ouço o badalo do relógio de parede da ante-sala, onde fica a secretária do diretor. Olho pelo vidro e vejo que já são 16 horas. Decido ir para casa. Conjeturei, enquanto vestia o paletó: hoje meu trabalho rendeu bem, pois ninguém veio perturbar-me. Nem o Alfredo, que quase todos os dias vem à minha sala bater papo, apareceu. É verdade, que ele espiou-me pelo vidro, mas não sei porque não entrou. De qualquer modo, eu achei bom, pois não estava nenhum pouco disposto a ouvir suas aventuras amorosas. A secretária está tão absorta no computador que não vê quando saio. E eu, também, não querendo atrapalhar-lhe o serviço, apenas, lhe digo um “até amanhã”, mas ela não ouve.

Assim como vim trabalhar, da mesma forma resolvo voltar para casa: caminhando e desfrutando deste dia, que parece ser especial. Pois, uma felicidade infundada e inexplicável se apossou de mim neste dia. As pessoas parecem estar diferentes. A vida parece estar diferente. Há uma luz especial no ar. No entanto, a felicidade que eu sinto está misturada a uma tristeza e sensação de perda que eu não sei explicar; mas que penso...penso, não, tenho certeza de que tudo não passa de sensações. Ando mais rápido.

Chegando em casa, chamo por minha mulher. Não ouço resposta. Chamo por meus filhos. Também não ouço nada. Devem estar lá em cima. Ao subir a escada que dá para os quartos, ouço som de choros que vai aumentando a medida que vou subindo. Diviso, enquanto subo a escada, que são os choros de minha esposa e de meus dois filhos. Meus passos se apressam para saber o que está acontecendo. Já no topo da escada, percebo que o que parecia ser apenas choro, na verdade são prantos convulsivos. Naqueles segundos, imaginei que algo terrível podia ter acontecido. Entre o final da escada e a porta de meu quarto, de onde procediam prantos, vem à minha mente a imagem de minha sogra que estava enferma já alguns dias.

Quando abro a porta do quarto e entro, meus olhos não podem acreditar no que vêem. O espanto, a surpresa e o medo se apoderam de mim por causa da cena: minha esposa e meus dois filhos em pé, chorando, enquanto um corpo, o meu corpo, inerte, estirado na cama, jaz morto.



Jefferson Carvalho
bsbab345@zaz.com.br


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