Canção dos Delírios Noturnos
Anoitece. Sombras cobrem a terra.
No horizonte a lua cheia desponta.
Prateia as árvores no cume da serra.
Vejo a tua imagem pintada na lua.
Numa embriagues que me deixa tonta.
Eu em um eclipse de saudade tua.
Dias sem sol, noites no grande breu.
Tua ausência escurece os dias meus.
Tu mudas meu mar, minhas marés.
Alteras meu sono, tiras o chão dos meus pés.
Espero-te, como fosse um meu jubileu,
Indulgência solene que me deu Deus.
Durmo sempre com a janela aberta.
Em sonhos te imagino sempre alerta
Preparando-te para chegares até mim
Durmo nua, querendo-te como coberta.
Tu viras na madrugada me amar enfim.
Sonho vão, imaginação, ilusão incerta.
A Lua teimosa vaza pela janela
Ilumina minha solidão sentinela.
Em delírio sinto os teus braços
Envolver-me em afagos devassos.
Neste sonho, o meu corpo no teu se atrela,
Transformo-me, invento-te neste compasso.
Desejo-te em meus sonhos mais profanos,
Teu corpo no meu corpo uma doce mistura.
Confundo minhas pernas com as tuas numa procura.
Tua boca passeia em meu corpo, suaves enganos.
Sinto tua respiração, o calor da pele, uma doçura.
Teu cheiro, teu sabor, tudo em ilusória loucura.
Acordo e te procuro em minha cama,
Só o vazio, a frustração, feito ressaca.
O sol majestoso os seus raios derrama
Ilumina-me com sua luz e me deixa fraca.
Traz-me a realidade e mostra-me o drama
Da tua ausência que o sonho não aplaca.
Tereza da Praia
Série: Vadiação da Alma Indecente.
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