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Artigos-->Zefinho do Cairiró -- 29/06/2002 - 17:49 (Anderson O. de Paula) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certa ocasião, em casa (em sua escrivaninha) em meio a correspondências - e-mails - que se acumulavam por conta de repentinas ausências, punha-se a ler e a reler coisas de extrema, de mediana e de ínfima importância. No meio de uma daquelas leituras percebeu encontrar a resposta definitiva à célebre e inexeqüível pergunta: "Onde

está Deus?"



Apesar de não crer na resposta da tal pergunta, por conta dos calos que a vida esculpiu-lhe na alma, lembrou que quando criança, em seu coração, acreditava que Deus podia perfeitamente estar nas nuvens, ou acima delas - as nuvens ali estavam para adornar a Sua Glória. Então assim ia crendo, pois não lhe custava nada acreditar que lá no alto, no espaço vazio, Deus presidia. Mas tal crença, em sua cabeça, caíra por terra quando inventaram a aviação.



Lembrou-se ainda que durante sua vida não demorou quase nada para que algum sábio qualquer, que existe em toda e qualquer vizinhança, lhe dissesse que Deus não só está sobre as nuvens, mas está em todo lugar, em todas as partes. Ele conclui em voz alta consigo mesmo que não valia à pena procurar a Deus então. Tal conclusão lhe deixou tão satisfeito que se pôs a dormir, aliás pôs-se a dormir bons e longos tempos.



O longo repouso não o fez sonhar, o fez apenas repousar, e, depois de descansado, viu-se, como já dito, posto em um monte de correspondências - e-mails - que tinham se acumulado por conta de repentinas ausências.



Enfim, quando lia os tais e-mails - e aqui entra o fato de ter encontrado a resposta para a célebre e inexeqüível pergunta - concluiu que Deus usava o pseudônimo de Zefinho de Cairiró,

que vivia em um lugar lá do Sertão (cujo local não convém aqui contar, pois do contrário todos

saberiam onde está Deus) e que escrevia, assim como ele.



Além disso não concluiu mais nada, pois temeu. O fato é que Zefinho do Cairiró escreveu-lhe o seguinte:



"Chegou-me aos meus ouvidos

que era um grande escritor

mas segundo o que eu já li

o que tu escreves não tem sabor



por isso vai rápido à mercearia

e compra sal e pimenta

e passa pela drogaria

e compra uma melhor ferramenta



pois a que tens está desencontrada

e precisa ser melhorada

como música fora de tom

e depois de tudo feito

aprende com meu jeito

ó meu criado ander-son



e su tú fores inteligente

e também muito coerente

ouves o galo a cantar

poi o teu fraco evangelho

não há de chegar ao velho

nem muletas tem para andar



porque eu fiz o sol e as estrelas

e também todos os planetas

e a terra pus a girar

e criei todos os animais

e muitas aves e pardais

e também a ti que me queres eliminar



por isso mesmo repara bem

e não digas mal de ninguém

e muito menos de teu Criador

e procura aprender comigo

pois sou o maior amigo

e o que escrevo tem sabor



e nunca andei na escola

e nunca pedi esmola

e sempre tive de comer

pois não vivo na preguiça

nem me alimento de hortaliça

porque em mim está o saber



e agora para terminar

não me procures desafiar

como tens feito até agora

e pensa bem no teu viver

porque a mim não me farás morrer

mas tu num instante te vais embora



e sabes onde vais cair

se não quiseres te redimir

do teu mau proceder

é no tormento infernal

que te condena o tribunal

e depois é tarde para compreender".





Ele disse-me ainda que a poesia de Deus continha alguns erros de ortografia. Entretanto atribuiu tais erros, não sei se por temor ou se por complacência, à conseqüência da incrível confusão lingüistica que invariavelmente existe na cabeça de um Deus que conhece todos os idiomas - mais idiomas, aliás, do que o mestre Omar Khaiam, grande picareta...que não tem nada, absolutamente nada a ver com esse texto





P.S.: A poesia é de Saramago, entretanto, como era de se esperar, contém adaptações



P.S2.: E que Deus nos abençoe!!



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