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Contos-->DOMINGO ILEGAL -- 07/10/2003 - 11:39 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sinal verde autorizou Kitom a prosseguir no deslocamento; passou então da terceira pra segunda marcha e pisou fundo no acelerador. Trafegava com seu Scort branco velho e vinha matutando perversidades com as quais tentaria desmilinguir seu vizinho, chato de galochas, a fim de que se mudasse para bem longe.

Pensou que se embebesse um pedaço de papel com óleo daquelas latas de sardinha e o jogasse, à noite, defronte a morada do vulgar, atrairia os gatos vadios, que por sua vez, poriam os cães em polvorosa, fazendo-os esgoelar seus latidos estressadores. Aquele matuto dos escolhos veria com quem estava lidando; sentiria o peso da sua raquete. Afinal, meu amigo, mamãe Kitom, não era brinquedo não!

Mas um outro fato chateava-a: o aparelho que atenuava sua surdez galopante denotava falhas. E por isso, a todo instante, levava as mãos aos controles a fim de aferi-los. Por ser daquele modelo antigo, cujas partes essenciais eram trazidas à cintura, obrigava-a a segurar o cigarro com os lábios e descuidar do trânsito à sua volta. Os pensamentos afloravam à sua consciência da mesma forma com que os peixinhos coloridos vinham à tona num lago lindo, em busca de muito mais luz, oxigênio e alimentos.

Chegando já perto do seu destino, Kitom lembrou-se do dia em que a turma de safados, para sacanea-la, naquele rancho velho de pescarias, simulou uma conversa animada expresando-se, porém, somente com a mímica exagerada. Kitom tolinha, considerou que seu aparelho pifara de vez. Por isso elevou o volume ao mais alto grau. Foi quando então, aquela turba de caçoadores, a um sinal do líder, explodiu em alarido estridulante. Kitom quase sofreu uma síncope por causa da surpresa e sobressalto que a acometeu.

Mas agora ela não estava pra brincadeiras. Queria expulsar o CDF da comunidade. Ela considerava gozação pífia os argumentos dos adversários que a denominavam "meia-foda", "meio-mastro", "meio-prato", "meia-xícara" e "meio-pau", por ter ela, injustamente, a fama de ser alguém muito volúvel, que sempre começava algo, sem no entanto, nunca terminar.

Kitom conheceu, num certo dia, quando ruminava pesarosa sobre seu buço veloso, numa conveniência do posto de gasolina cêntrico, degustando pães-de-queijo, a morena linda que faria com ela uma dupla estonteante nas artimanhas tecidas contra o mauricinho meticuloso. Elas pensaram até em compor músicas de raiz malhando o intempestivo. Mas o nervosismo que se apossava de Kitom, quando tentava cantar diante daquelas pessoas, aglomeradas na praça, impediu-a de prosseguir com essa faceta anacrônica e destoante da sua personalidade despótica.

Por isso, ao dizer com veemência, pra Ivete Sengalhos, que a dupla não daria certo, percebeu que sacara uns pesos enormes do peito, sempre esmagado pelas angústias que lhe vinham atreladas aos pensamentos e expectativas das apresentações públicas.

Naquele domingo, que não era tão legal assim, Kitom quedou-se inerte; quebrantada, achou que deveria chorar muito e contar as verdades sobre os crimes que vinha cometendo. Afinal, ela como sempre tinha sido, não se importava muito com os males que pudesse causar aos outros. O que lhe interessava, sempre inspirada por Maquiavel, seu guru primoroso, era o próprio êxito e sucesso, mesmo que isso implicasse na destruição da moral, honra, ou da vida dos adversos.

Porém, um dos erros primários e travadores, em que ela sempre incorria, e que ainda nem sequer percebera, era o exagero com que ampliava sua importância própria, apoucando e desmerecendo sempre a dos demais. Considerava-se uma sereia maldosa atraindo para o fundo do mar, com seus cânticos lôbregos, aqueles que julgava opressores, desmerecedores e indignos da sua benevolência.

Era mesmo muito chata essa tal de Kitom dos xavecos e do buço felpudo.

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