O sujeito foi nomeado para um importante cargo público em uma cidadezinha. Ao desembarcarem do ônibus, não se sabe por quê, sua mulher detestou a cidade. Era uma mulherzinha morena, gordota, do tipo autoritário. O marido se pelava de medo dela.
Em cidade pequena, em menos de uma semana todos já estão se conhecendo (e levando apelido). E ela, por seu andar ligeiro e pelas características físicas, recebeu a alcunha de “Jiripaca” (uma mistura de paca com jiripoca). Dona Jiripaca não deixava o marido – que ela chamava de Zezinho, apesar de suas feições austeras – criar intimidades. Andavam com o nariz lá em cima, como se dizia na cidade.
A situação piorou quando sua filha única, de nome Julieta, apaixonou-se por um rapaz do ramo pobre da família Casamenor, o Romeu Pé de Noiva. Ali quase todo mundo era parente, entrelaçados por décadas de casamentos entre si. A velha proibiu-a de se encontrar com o moço. Aí a cidade inteira começou, por pirraça, a acobertar seus encontros. Os Jiripacas, como passaram a ser conhecidos, urravam de ódio.
Um dia, o cachorro dos vizinhos, que eram ligados aos Casamenor, entrou em seu quintal e acabou com umas plantas exóticas. A velha mandou Zezinho dar um tiro de bodoque no pobre cão, que acabou com um olho furado. Aí a guerra recrudesceu. Sentiam-se como os Capuleto, da obra de Shakespeare. Os Montecchio, seus inimigos, eram a cidade inteira. A velha cuspia no chão quando passava por um Casamenor. Zezinho descontava sua raiva nos subordinados, principalmente no contínuo Maneco, caboclo humilde, que era obrigado a levar recados desaforados aos “inimigos”.
Um dia, o inevitável: a filha fugiu com o Pé de Noiva. O pessoal, gozador, passava em frente à porta deles, exclamando alto: ó doce Julieta, onde estás, onde te escondes?
Zezinho pediu demissão do cargo e foram embora para destino ignorado. Na hora de embarcar no ônibus, a velha Jiripaca sacudiu bem as roupas, para não levar nem a poeira da cidadezinha.
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