Pesquisa realizada em 23 países sobre violência na mídia eletrônica revela o quanto a TV é responsável pela agressividade nas crianças e por uma cultura global violenta.( Regina Zappa, Jornal do Brasil, 31/05/1998)
Os dados são de 1998 mas infelizmente perduram em 2002, pior, agravaram-se.
A TV continua a maior fonte de informação e entretenimento da maioria das crianças em áreas urbanas e rurais eletrificadas; promove a cultura e a agressividade e ajuda a criar a imagem de que violência é normal, divertida e recompensável.
A pesquisa e seu resultado é um convite à reflexão sobre a contribuição da presença maciça da violência sobretudo na mídia eletrônica( TV, vídeo, cinema e Internet) para o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais violenta e de uma cultura global cada vez mais agressiva.
Quando debatemos no Brasil o conteúdo violento de filmes, novelas e de programas de auditório que degredam o ser humano, há um triste consolo: o privilégio da banalização da violência não tem endereço, classe social, raça, crença religiosa ou modelo cultural específicos.
Muitas crianças vivem em estado emocional problemático e não encontrando orientação em casa, buscam onde é mais fácil: nas imagens da TV.
A cura para tal estrago seria, segundo Jo Groebel, fator fundamental para neutralizar a demolidora massa de informação que a criança recebe diariamente: presença constante da família, depois da escola.
As escolas deveriam ter educação para a mídia. É sabido que a censura ou controle estatal é indesejável do ponto de vista democrático, mas a situação chegou a tal ponto que tornou-se obrigatório antes da exibição dos programas uma portaria informando a idade estimada para receber tais informações. Esta medida mostra como aumentou o descaso da mídia com a veinculação de seus produtos. O que realmente vale é um número abstrato de IBOPE que eleva salários absurdos de profissionais nem sempre preparados e conscientizados para a importância de sua postura como comunicadores. Não se cobra das emissoras sua responsabilidade educacional para com a população; fator diretamente ligado à concessão do canal.
Pais, atentem para o que segue:
- as crianças( 44% das entrevistadas) não consegue distingüir a realidade do que vêem na telinha.
-50% das crianças pesquisadas estão ansiosas a maior parte do tempo ou freqüentemente.
-47% das crianças disseram gostar de conteúdos agressivos na mídia e que gostariam de se envolver em situações de risco.
-97% das escolas no universo pesquisado têm acesso a pelo menos um canal de TV
-Em cada programa de uma hora exibido na TV, há entre cinco e dez ações violentas.
-Muitos crimes ocorridos entre crianças no mundo inteiro repetem cenas de filmes, vídeos ou programas violentos livremente exibidos e divulgados como "infantis".
-As crianças passam 50% mais de tempo vendo TV do que fazendo qualquer outra atividade fora da escola, como leitura, esportes, dever de casa ou conversa com a família.
E então, vamos repensar nossa responsabilidade nisso ou só vamos acordar quando o "extremo" entrar por nossa porta e sentar em nosso sofá, especificamente?
Referência: Jo Groebel é professor alemão, chefe do Departamento de Psicologia da Mídia da Universidade de Utrecht, na Holanda, e assessor do Presidente Alemão e do governo Holandês quando comandou a pesquisa a pedido da UNESCO.