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Cronicas-->A casa do girassol solitario -- 14/03/2003 - 01:08 (PEDRO BRASIL JUNIOR) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A casa do girassol solitário
- Pedro Brasil Jr -


O vento e os pássaros possuem muito em comum. São nas correntes de ar que as aves aproveitam para planar e deter, por certo, uma magnífica visão do seu mundo. Ao mesmo tempo, quando o vento decide soprar forte, dificulta muito o vóo e leva os pássaros a mudar seus planos.Nesta batalha natural, ambos transportam sementes que irão germinar em diferentes pontos, preservando assim, muitas espécies nativas. A própria natureza se encarrega de preparar com "asas" muitos tipos de sementes, que podemos observar algumas vezes atravessando os céus. Já os pássaros, levam no bico, para seu sustento, as mais diferentes sementes, e por inúmeras ocasiões, acabam derrubando algumas pelos quintais de nossas vidas. Também são comuns os casos em que algumas dessas sementes acabam por inteiras junto às fezes das aves e conseguem levar adiante seu ciclo.
E o que dizer de algumas espécies de peixes que acabam surgindo ao acaso em alguns rios e lagos? Os pássaros também são responsáveis por estes milagres da natureza, levando junto às penas os ovos que eclodirão em inquietos alevinos.
Muito bem; para tudo podemos ter uma explicação, no entanto, o vento e os pássaros também podem ajudar a escrever histórias ou a participar de algumas como personagens diretos ou indiretos, depende da existência de cada um e do meio onde vivem.
Foi assim que numa bela manhã, o pardal deixou escapar do bico uma semente de girassol que acabou caindo no jardim frontal de uma velha casa.
Ali ela ficou inerte até a primeira chuva que a levou para um contato direto com a terra. Aos poucos, foi se embrenhando de maneira a germinar um apático brotinho. Junto com ele, a grama e as ervas daninhas deram início a uma interessante corrida vertical.
O dono da casa, um senhor idoso com dificuldades para caminhar, dependia de alguém para manter o jardim limpo, porém o tempo foi passando, as ervas crescendo e o girassol ganhando a cada dia mais poder, até que se tornou robusto e vistoso.
O dono da casa olhava a cena desconsolado. Vinha-lhe à mente aqueles dias em que a saúde lhe permitia uma boa empreitada para deixar o jardim conforme manda o figurino. Mas agora, diante da saúde instável e sem ninguém para ajeitar, o jeito era deixar assim mesmo. Notou que o mato havia tomado conta de sua bela grama e percebeu aquela planta diferente, com lindas folhas que despontava na triste paisagem. Pensou no que poderia ser aquilo. Concluiu que era só mais uma praga a aterrorizar seu jardim.
Os dias se passaram e a cena não mudava. Mas numa outra manhã ensolarada o pobre velho veio até o portão e ficou olhando para o vazio.Teve uma surpresa! Notou que aquela planta maior estava ainda mais alta e que tinha uma bela flor. Percebeu que lentamente ela se movia conforme a posição do sol.
- É um girassol! - Falou para si mesmo.
E seus olhos se encheram de brilho. Ao menos, algo de belo havia agora no seu esquecido jardim. Também questionou sobre como a planta teria nascido ali. Alguém a teria plantado? Quem teria sido?
O fato é que nos dias que sucederam, o pobre homem tratou, ainda que com dificuldade, de cuidar bem da agora "sua bela planta". Conseguiu encontrar um jardineiro que deixou o jardim limpinho, com a grama, apesar de sofrida, mais vistosa e com o girassol devidamente apoiado numa estaca e cercado por outras a fim de ficar bem protegido.
A cena agora era outra e os vizinhos passaram a admirar aquele jardim por sua peculiaridade. A velha casa passou a ser conhecida na região como "a casa do girassol solitário". Fosse quem fosse que precisasse entregar objetos na casa, era logo informado sobre aquela inigualável referência.
Aos poucos, as sementes foram ficando salientes e não tardou para que a passarada aproveitasse para fazer a festa até que em pouco tempo toda aquela beleza desse lugar a uma flor murcha, quase sem vida. Terminava ali mais um desses fantásticos processos que a natureza apresenta como lição para nossas vidas.
É certo que o pobre velho ficou entristecido por alguns dias, mas enquanto reflexionava o ocorrido, foi descobrindo aspectos inerentes à sua própria vida. Lembrou que um dia também "apareceu" num jardim chamado útero e "germinou" para a vida numa interessante corrida. Olhou para trás seguidas vezes e recordou dos primeiros passos, das traquinagens da infància, da adolescência repleta de sonhos audaciosos e de toda uma jornada que bem renderia um grande livro com tantas histórias. E chegou à velhice tal como o girassol solitário cuja missão foi a de enfeitar um jardim esquecido e ofertar sementes aos pássaros e propiciar às pessoas uma referência para toda a vida.
Agora que tudo fazia sentido, o pobre homem sabia que logo, outro girassol haveria de vingar e que ele, apesar dos passos lentos, tinha que retomar suas caminhadas pelas ruas, cumprimentar velhos amigos, contar estórias para as crianças e "semear" do seu jeito a maravilha que é viver e usufruir das coisas mais simples que a natureza, quer no sopro do vento ou no vóo dos pássaros, se encarrega de colocar pelo caminho.

(Ctba 12/03/2003)
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