Brasília, 12 de julho de 2004 – 22:30h
Aquela mulher alada
que voa ao redor de nada,
conheço aquela mulher:
é a mulher muito amada.
Amada não por muito bela,
e não que bela não seja:
ainda assim muito amada
e não porque assim deseja.
Amada por muito bela,
amada não pela beleza,
amada por muitos, ela,
foge das mãos que a desejam.
Amada não por desejada,
e não que não a desejem,
não se quer assim amada,
não busca lábios que a beijem.
Amada não por amável,
e não que seja o contrário,
quer apenas o razoável:
voar trancada no armário.
Voar em seu próprio mundo,
sozinha na multidão,
descer a abismos profundos,
mergulhada no coração.
Aquela mulher alada
cujos passos conheço
é uma mulher cansada:
tanto amor lhe custa um preço.
Aquela mulher amada
que alada, voa, flutua,
não quer viver adornada:
quer simplesmente estar nua.
Nua, enquanto que vestida,
amada, sem razão nenhuma.;
livre, mesmo quando contida,
ela é muitas e é só uma.
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