Nos esbaldávamos ao luar do Caribe. Santo Domingo fervilhava de gente e Guantanamera nos embalava. Dentre as mil diferentes interpretações existentes, a que ouvíamos naquele 31 de dezembro parecia-nos mágica, a melhor de todas. Também, pudera! O som das maracas nos fazia evoluir sincronicamante numa dança ritmada e sensual.
O varandão do clube de golfe lotara aos poucos com os pares que, como nós, tinham energia para gastar e a noite toda pela frente. Depois da ceia e dos fogos, bandejas de Veuve Clicquot circulavam livremente, enquanto a brisa vinda do mar agitava folhas de coqueiro. Mas a música, essa sim, era o que mais nos atraía um para o outro e que nos fazia plenamente integrados à alegria do momento.
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Você boceja mais uma vez diante do jornal enquanto eu prego botão. O rádio toca qualquer música antiga que o locutor anuncia no inglês estropiado que consegue. Ninguém está necessariamente chateado, mas é que a vida mudou, e hoje, aqui e agora, faltam-me forças até para querer algo diferente do sossego noturno entre quatro paredes.
Na rua faz frio, muito frio. Nossos filhos ganharam o mundo e nós ainda temos tempo para passear. Mas nem sempre queremos, nem sempre nos apetece inventar o que fazer depois de anos de obrigações e trabalhos. Basta uma ida ao cinema de vez em quando, uma conversa com os parentes que ainda existem, um lanche na esquina. Talvez uma viagem, no ano que vem...
Termino o botão; você dorme no sofá. Ouço maracas no rádio. Pena que o passado não volte.