Sou um jovem de 25 anos, como a maioria dos jovens ainda preservo alguns sonhos, ou utopias, como preferirem. O maior deles é o sonho de um país, quiçá um mundo, mais justo, onde os menos favorecidos pelo destino e pelo berço, não sejam tolhidos em suas possibilidades de lutar de igual para igual; um país, quem dera um mundo, onde não seria virtude caminhar sobre seus irmãos, pisando sobre seus corpos, pisoteando suas cabeças e sobretudo sua dignidade. Um mundo onde a virtude seria caminharmos lado a lado, soerguendo-nos nas quedas e percalços das desventuras da vida.
Ao longo dos últimos 12 ou 15 anos, esse sonho ganhou força dentro de mim, na imagem de um céu limpo e sem máculas, porém distante e praticamente inacessível. Vinha se cristalizando também a imagem de um obelisco que aponta imponente para esse céu, esse sonho, essa utopia.
Esse obelisco que representa o caminho para esse futuro, era a crença de que o PT (partido ao qual sou filiado, ou era, depende de quando esse texto for lido), com seu discurso de igualdade, de justiça, de ética, com seus governos municipais competentes(pelo menos aqui em Porto Alegre), com práticas em acordo com o discurso, enfim com uma imagem diferente das dos outros partidos, levaria nosso país a patamares cada vez mais próximos desse céu.
No último ano, esse obelisco já se tornara forte, com a conquista do governo do estado, com ações desse governo que reforçavam a imagem desse sonho, com a UERGS, a parada das privatizações, a diminuição de regalias aos poderosos, as tentativas de reforma na matriz tributária, tudo isso contribuindo para solidificar o cerne desse obelisco, mesmo que sua casca tenha sofrido alguns arranhões em função de algumas denúncias como as do clube da cidadania. Com um núcleo cada vez mais firme era fácil atribuir as denúncias ao desespero, despreparo da direita como oposição.
Eis que começam as movimentações para as eleições desse ano. Lula o candidato do partido é o líder absoluto nas pesquisas, os adversários surgem e vão logo caindo, enrolados nas próprias teias de contradições e falcatruas(vide Roseana Sarney) a vitória e a possibilidade do sonho parecem cada vez mais próximos, o obelisco cada vez mais alto, atinge patamares inéditos muito mais próximos desse céu. Porém a construção desse obelisco não foi firme o suficiente, a estrutura do partido em suas lideranças, não agüentou. Devido a infiltração do poder, do modus operandi, que provocou uma reação no interior do obelisco, inflando os Egos, com a sede de poder. A casca que representa os ideais do partido, as noções de Ética e coerência não suportaram a pressão interna e explodiram, derrubando o obelisco. Mas não explodiu o sonho, que permanece lá, mais distante, menos luminoso, mas puro e sem máculas.
Essa sensação se apossou de mim após a notícia da coligação (PT/PL), sensação de que o caminho para o sonho se desfez. Talvez eu não tenha razão, talvez eu esteja enganado em ver nessa coligação a união entre água e vinho. Porque para mim essa coligação é exatamente isso.
O vinho, bebida muito saborosa, com todo o seu glamour, bebida que deleita o paladar, que enche nossa vida de sonhos, e de sensações de prazer. Mas o vinho quando tomado em grande quantidade provoca uma grande ressaca. E olha, fazem quinhentos anos que bebemos vinho.
A água, pelo contrário, não tem o sabor do vinho, pelo contrário, é insipta; não tem a cor bonita do vinho, é incolor; não causa nenhuma sensação de prazer imediato, nenhuma ilusão de glamour. Porém tem o poder de espalhar saúde pelo corpo, revigorar todas as células do organismo, tornando o conjunto mais forte, mais saudável, capaz até de agüentar com firmeza alguns cálices de vinho.
Qualquer bom bebedor de vinho sabe que para melhor aproveitar o sabor do vinho é necessário Tomá-lo em .alternância com água. Depois de 500 anos de vinho, tínhamos a possibilidade de dar um tempo no vinho, na ilusão do desenvolvimento baseado em grandes multinacionais, na ilusão do maior do mundo(maior hidroelétrica, maior estádio de futebol; maior estrada, maior floresta, maior, maior, maior.....) e voltarmos para a realidade, bebermos da água do desenvolvimento sustentável, espalhando saúde pelo corpo todo e não deixando a riqueza toda com alguns poucos, fortalecendo a base para com o tempo voltarmos ao vinho.
Mas não, qual um alcoólatra, não pudemos abrir mão do vinho, porém não pudemos mais adiar a necessidade da água, fazemos o quê então? Simples misturamos os dois e vamos agüentar 4 anos bebendo vinagre.
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