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Artigos-->Emoção e Seleção -- 03/07/2002 - 13:02 (Ayra on) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hino e Seleção



Hoje, terça-feira dois de um julho de dois mil e dois que jamais irei esquecer. Acordei meio aborrecido, afinal estava indo trabalhar enquanto várias autarquias estavam em “ponto facultativo” . O transito estava uma loucura pois o Eixão estava fechado para a passagem da Seleção Brasileira. Obviamente, como pudemos ver também no texto de Mauro Decca (que não deveria ter lido), o pior do brasileiro, o *brasileireco, apareceu-me dentro de meu carro. Comentário do tipo “olhe bem, por isso o Brasil não vai para frente” ao ver as pessoas se reunindo para ver a Seleção desfilar (mais ou menos sete e meia da manhã) é que me fazia naquele momento um brasileirinho.



Demorei para chegar, mas estava tudo muito parado. Logo algum cidadão conectou seu computador a globonews e foi o estopim para que toda uma seção, já localizada no centro das comemorações, tivesse a idéia de “dar uma olhadinha” no evento. Saímos (já beirando dez e quarenta da manhã) e o que vi não poderia ser descrito com palavras.



Em meio a música baiana e gente trajando amarelo, azul, branco e verde e vermelho e colorido e sem camisa e de ternos estavam ali, todos reunidos para ver a Seleção Brasileira desfilar pela Esplanada dos Ministérios aqui em Brasília.



Estava, como muitos, meio atordoado. Ainda não tinha me “caído a ficha” (e nem a do Ronaldinho Gaúcho que já havia falado que se sentia estranho, sabia que havia ganho, mas não se sentia penta campeão). Mais ou menos duas horas e quarenta e cinco minutos, depois de emocionantes manobras da Esquadrilha da Fumaça surgem, descendo em um caminhão de bombeiros parte de Seleção Brasileira.



Uma onda sonora antecipou a chegada e a emoção veio logo em seguida. Eu estava ali, tentando ser imparcial a tudo o que acontecia. Uma cantoria enlouquecida despontou da garganta de quatrocentos e noventa e nove mil novecentos e noventa e nove pessoas em um coral improvisado. Quando eu os vi, já estava no meio de toda aquela maravilhosa confusão. Tentei ensaiar um grito de “penta campeão”, saiu tímido e quase assonante, senti-me envergonhado por ser um brasileireco de merda.



Um senhor, vestido de terno preto e botões e abotoaduras douradas, típico funcionário respeitado de palácios ou ministérios parecia uma criança. Seus olhos pareciam olhos de criança ao esperar um presente de natal. Parecia querer subir no caminhão e abraçar todos os heróis que ali se encontravam. Talvez tivesse sido esse o seu pensamento, pois quando o carro passou por trás de um palanque, atrapalhando nossa visão, aquele senhor (que poderia muito bem estar sentado, em uma roda de amigos, expondo amarguras de como o futebol alucina as pessoas ou como o país é fútil, já que poderíamos estar discutindo a fome, a dor e estávamos ali comemorando uma pequenisse) tentou, como a criança que eu vi em seus olhos, subir desajeitado no palanque atrapalhando o cinegrafista que tentava filmar o momento. Tentei cantar alto “Eu Sou Brasileiro, com muito Orgulho com muito Amor”, novamente fracassei... não sabia ser brasileiro.



Rapidamente o Poder, o mesmo que ajudou a acorrentar Prometeu, levantou-se para conter o que não poderia ser contido. O povo estava lá sendo realmente sendo representado, portanto os “Papa Mayke” não conseguiram conter o furor alegre e bacante que tomou o Eixo atrasando a chegada até o palácio. Um de nossos heróis, este realmente embriagado (pois o povo não tem vergonha de seus vícios) tentou pular e ir comemorar com os seu, não pode. Pediu então que esperassem. Este mesmo Poder de “saxo-luso-franco-italo-comedimento” quis tornar a comemoração mais formal (menos brasileiramente feliz e indomável), mas o mesmo herói que quis descer de seu pedestal parecia ter tudo preparado em sua cabeça. Tinha ele um sonho... ai de mim ter poderes de realizar todos os sonhos daquele senhor, teríamos aí um Brasil melhor. Seu ato foi tão simples e tão titânico quanto havia sido seu feito no Japão. Desceu a “rampa” rolando! Aquilo era algo brasileiro, lindo, livre, debochado, feliz, sincero... sinceramente brasileiro.



Entraram então em seu ônibus e nos vimos dando as costas a tudo o que havíamos vivenciado naquele estante, mas então outra explosão de emoção. Nos primeiros cinco acordes do Hino eu pude ver e sentir o movimento coreografado dos que seguiam seu rumo, buscavam ver mais... queriam mais...



Escutou-se o primeiro estrondo, eu (ai, tão estrangeiro em meus país) pensei que era confusão. Não podia, tão longe de tantos brasileiro de verdade, imaginar que a pátria saudava os campeões com uma salva de vinte e um tiros. Eu, já parado, tão ridiculamente solene (pra mim essa palavra agora carrega um caminhão de cargas negativas), mão no peito, olhar meio pra bandeira meio para a senhora que sambava alegremente cantando o hino. A bandeira, a senhora, a bandeira, a senhora, que dilema. A bandeira representava a nação, a senhora representava o povo, a pátria, o sentido de ser brasileiro, o motivo de eu estar ali mesmo sem ao mesmo compreender que motivo era aquele. Um levante de mão, berros, palmas e bandeiras abafaram o final do hino. Eu também gritei, consegui gritar bem alto, nem me passou pela cabeça que era “desrespeito” bater palmas para o hino, agora eu sei, desrespeito é não sambar, vibrar, querer, sonhar e sentir o hino, a pátria, o povo brasileiro. Eu me senti assim, como se houvesse encontrado a família cuja vida havia me afastado.



**Brasileireco – descrentes, descontentes, desestimulados, desprovidos de alegria, cansados, hipócritas, intelectualóides, estrangeiristas, fúteis, preconceituosos brasileiros que não sentem que a pátria não é o território nacional e sim o povo, suas diferenças e identidades que os une, pobres, ricos, brancos, negros, índios, intelectuais, gente que não tem estudo, presidentes vaiados e cidadãos descontentes.

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