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cronicas-->Um dia qualquer -- 21/03/2003 - 02:31 (Luciano de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É um dia como outro qualquer, de uma semana qualquer, de um ano qualquer. Não há nada de especial acontecendo em lugar algum. Ao menos não por enquanto. Tudo é tão quieto e calmo. Aliás, tem sido assim ultimamente: tudo muito quieto e calmo. Exceto por alguns problemas menores. Até seu coração está quieto e calmo. Isso não lhe agradava.
Seus dias transcorriam tão devagar como as águas de um grande rio, que por seu grande tamanho, tornam as correntezas imperceptíveis.
Assim podia ser comparada a sua alma, seu coração: um grande rio onde, na superfície, a correnteza se apresenta calma, devagar... quase parando; mas se você mergulhar um pouco mais seria capaz de encontrar correntezas fortíssimas e águas turbulentas.
Até então, sua vida era calma, enfadonha até. Os amigos estavam sempre perto, mas faltava-lhe algo. Faltava-lhe desejo, paixão, amor.
Aqueles que já se apaixonaram, que já amaram, vivem apregoando seus benefícios. É certo que quando se ama, quando se está apaixonado tudo é lindo, maravilhoso.
Podemos dividir a vida de uma pessoa em dois estágios: no auge da paixão e no final desta. Chega-se a invejar uma pessoa apaixonada. Abraços e beijos, juras e juras de amor eterno. Tolice! O amor eterno pode acabar logo amanhã pela manhã. E o que restará? Duas pessoas infelizes, ao menos temporariamente. Ao invés de juras de amor, o que as bocas nervosas e ressentidas soltam são ofensas mútuas, palavras duras como o ferro e amargas como café feito para curar ressaca. Talvez o período "pós-paixão" seja exatamente igual ao período "pós-bebedeira". A bebida, assim como a paixão, nos faz ver o mundo e as pessoas bem diferentes do que realmente são. Terminado o efeito do álcool, tudo volta a ser exatamente como sempre foi, e o que resta é apenas dor de cabeça, um mal estar e a lembrança dos momentos agradáveis proporcionados pela bebida. Depois da paixão lhe restará um coração ferido que levará algum tempo para cicatrizar. E então tudo recomeça.
Apesar dessa sua frieza aparente em lidar com os sentimentos, no fundo ele invejava e desejava tudo isso. Mesmo à custa de muita dor de cabeça e mesmo que seu coração se ferisse profundamente. Desejava do fundo de sua alma viver aquele momento de glória, de abnegação e entrega supremas. Mesmo sabendo que um dia toda aquela felicidade que preencheria cada espaço vazio do seu coração seria, mais dia, menos dia, ocupado novamente pelo vazio e pela tristeza, até que outra vez uma outra paixão acontecesse.
Seus pensamentos eram um tanto contraditórios. Ora sonhava com uma paixão arrebatadora ora preferia continuar como estava a enfrentar a dor do dia seguinte.
Mas como reconhecer a paixão e o amor, se não se tem certeza de já tê-los conhecido? É como procurar um endereço desconhecido ou ir a um lugar pela primeira vez. Como ter a certeza de que aquele é o lugar?
Ele imaginava como seria o dia em que se apaixonasse ou encontrasse a sua outra metade, como dizem alguns. Será que a reconhecemos à primeira vista? É muito pouco provável que alguém chegue até você e diga "aqui estou eu! O amor da sua vida." Contos de fada são lindos, mas não acontecem. Não temos uma fada madrinha que nos transforme num belo príncipe ou princesa e nos conduza a um lindo baile de gala onde encontraremos o amor de nossas vidas. Imaginava como seria essa pessoa perfeita, aparecendo na sua vida, para, juntos, terem uma vida perfeita.
Mas o destino não está sob nosso controle. Ele nos prega peças. E dessa vez ele fora o escolhido pelas artimanhas do brincalhão destino.
Assim como quem não quer nada ela foi chegando. Mas nunca lhe passou pela cabeça que aquela poderia ser sua paixão. Mas ela foi chegando e tomando conta. Preenchendo aos poucos, bem devagar mesmo, os espaços vazios daquele coração aparentemente frio e sem vida.
Assim como o álcool que pouco a pouco turva a nossa visão e muda a nossa percepção do mundo, ela - a paixão - começou a mudar seu modo de ver as coisas. Mas não era exatamente como ele imaginara um dia. Não era sequer o que ele esperava. Mas não restava dúvidas. A paixão já começava a se instalar e mudar seus pensamentos.
Insistia em negar sua presença. Talvez pelo medo do sofrimento que todos que a experimentaram um dia, passaram. Mas ela - a paixão - era insistente; "por que faz de conta que não me vê? Até bem pouco tempo atras você estava me procurando. Aqui estou. Aceite-me. Deixe-me fazer parte da sua vida." Essa voz chegava a ser perturbadora. Deveria aceitá-la e correr todos os riscos que ela proporcionava? Deveria ignorá-la? Ó Deus, o que fazer?
Resolveu aceitá-la. Mas estava decidido a não abrir todas as portas de uma vez. Não a deixaria entrar de uma vez. Queria ter o controle da situação. Seria algo como tomar um belo porre, mas bebendo lenta e vagarosamente. Pobre homem. A quem ele quer enganar? A si mesmo? Será que ele acha que mesmo bebendo aos poucos estará livre dos efeitos da bebida no dia seguinte? Muito provavelmente não.
E assim fez. Abriu uma pequena fresta da porta para que a paixão espiasse seu coração. O primeiro gole.
Começou a ver as coisas um pouco diferente.
Neste momento convém perguntar se a paixão visita as pessoas aos pares ou se escolhe uma primeiro e vai ter com ela.
A paixão começou a visitá-lo mais frequentemente e se tornar mais íntima. Foi tomando conta da sua alma. Mas será que outra parte (sim, tem que haver uma outra parte para que a paixão obtenha êxito em sua empreitada) também estaria sendo visitada pela nossa amiga?
Esperava ele que sim. Afinal, já não a via mais da mesma forma. Começava a lhe notar mais as qualidades do que os defeitos. E os defeitos - se houvesse - eram mínimos, quase imperceptíveis. Havia um encanto, ou em torno dela ou nos seus olhos, que o fazia vê-la diferente, especial. Seu sorriso, seu olhar, suas palavras, tudo era especial. Tudo era recoberto por um encanto. E ele tinha medo de quebrar esse encanto. Que tudo de repente acabasse.
Preferiu não arriscar. É certo que não se pode amar sozinho. É como um jogo que só pode ser jogado em duplas. Mas se jogar em duplas pressupõe um vencedor, optou por continuar sozinho. Ele e sua paixão. Quem sabe assim ela viveria mais tempo ao seu lado e o encanto e a magia durariam quem sabe, por toda uma vida.
Vai - disse ele - continua a sua vida. Deixe comigo apenas a sua lembrança.
Adeus.

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