Brasília, 27 de julho de 2004, 23:55h
Sai-me das mãos, ainda que não a perceba,
uma carícia meio guardada, meio perdida,
que voa, flutua sem rumo, e enseja
o amor não feito, a afeição contida.
Sai-me das mãos como quem sai à francesa,
sem aviso prévio, sem despedida,
sem rumo, mas em direção à luz acesa
que emana de outra parte, talvez esquecida.
Esta carícia que foge-me das mãos
flutua como ave em fuga do gelo do inverno
e parte, parte de mim, sem permissão,
como o anjo caído em fuga do inferno.
Sai-me das mãos, sem que eu em mim a soubesse,
sem que dela eu tivesse ciência,
e agora que dela sei, sai. Desaparece.
Sai em busca de fazer-se, de dar-se à existência.
Não tento retê-la. Que se vá em direção à vida.
Prendê-la à minhas mãos é negar-lhe
o direito divino de dar seu toque de Midas,
de dourar, de dar luz. Basta apenas que cale
minhas palavras e abra as mãos como flor,
Agora basta apenas que lhe fale
na linguagem simples do amor.
Basta apenas que permita,
que siga saindo-me das mãos,
como uma benção bendita,
que se esparge sobre o chão,
que espalha a fertilidade,
em forma de prosa e verso,
a carícia que me sai
quer acalentar o Universo.
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