Usina de Letras
Usina de Letras
132 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62225 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50620)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Ração Pra Lobisomen -- 01/11/2003 - 14:02 (Gustavo Henrique) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Várias noites de autógrafos levaram à exaustão o escritor Emanuel Campos, que descia do avião que partiu dos Estados Unidos e trouxe o brasileiro de volta à sua terra. Ainda tentando descansar do lançamento mundial de “A Ciência dos Lobisomens”, seu sexto livro (terceiro sobre o mesmo tema), via em sua chegada a tão esperada oportunidade de sentar-se novamente à querida poltrona da sala, e assistir programas de TV inúteis até dizer chega.
Caminhou até a esteira das bagagens, bocejando, e aos poucos foi recolhendo seus pertences. Após alguns minutos de uma observação atenta e curiosa, dirigiu-se até o funcionário mais próximo: sua maleta preferida, dada de presente pelo pai, havia desaparecido.
Tentou não perder a paciência, afinal, apenas três quartos de hora o separavam de seu merecido descanso no lar, e seria estúpido botar tudo a perder. Deixou então de observar o vai-e-vem dos empregados do aeroporto na busca pela maleta. Mesmo porque, outro curioso fato lhe chamou a atenção: um distinto homem de meia idade, próximo à esteira, queixava-se de uma bagagem perdida, e antes que Emanuel Campos pudesse ofender mentalmente aquela incompetência, o mesmo homem sorriu satisfeito ao receber em mãos, de um rapaz, o que havia perdido. Mas outro detalhe ainda mais curioso fez o escritor levantar-se de um salto: a maleta era exatamente igual à sua.
Perdeu pouco tempo pensando se deveria ir tirar sua dúvida ou não, e constatando que poderia se arrepender depois, dirigiu-se até lá:
- Com licença, senhor... bem... é embaraçoso para mim dizer isso, mas o fato é que perdi minha maleta, e ela é exatamente igual à sua.
O homem apenas ergueu as sobrancelhas, como quem diz: “E eu com isso?”. Emanuel continuou:
- Desculpe, mas como percebi que o senhor também deu por falta dela, não poderia somente constatar se é realmente sua ou não?
- Claro, veja aqui as minhas iniciais: um “P” e um “L”. – disse ele, erguendo a valise e apontando um pequenino brasão.
- Oh, sim... perdoe o incômodo... – suspirou o exausto Sr. Campos, dizendo a si mesmo que aquela seria uma noite mais longa do que desejaria.
Olhou atentamente para o jovem que entregou a maleta ao senhor “P.L.”
........................................................................................
-... E veja se toma cuidado, moleque!! – berrou Porfírio, o rechonchudo dono do restaurante “Cozinha Cega”, despedindo-se de um simpático rapaz, e sua expressão satisfeita mostrava que a conversa entre os dois havia sido bastante proveitosa.
Foi até detrás do balcão, esmurrou três ou quatro vezes a portinhola com uma fresta horizontal. Àquela hora da madrugada a casa estava fechada, mas o cozinheiro cego ainda trabalhava.
- Ei, Zarolho, me passa um prato daquela sobra de espaguete! Hoje eu tô feliz! Talvez finalmente feche essa birosca e vá viajar pelo mundo!
Zarolho, do outro lado da portinhola, dentro da cozinha, não gostou nada do que ouviu. Apesar dos pesares aquela era sua vida, aquele era seu mundo: um paraíso sobre o qual conhecia cada centímetro... sua cozinha. E em nada seus problemas visuais prejudicavam a qualidade das refeições.
Caminhou, calculando os passos, até o fogão, muniu-se da panela, e foi servir espaguete. Passou o prato pela fresta:
- Aí está! É verdade o que eu ouvi agora pouco?
Porfírio pegou o prato lentamente, lambendo os beiços:
- Ótimo, não é? E eu pensava que nunca mais poderia ser rico!
Zarolho tentou ser casual:
- Afinal, de que maldito roubo você e aquele moleque estavam falando?
O homem demorou a responder, mastigando vorazmente aquela hipnotizante massa com molho de tomate:
- Acredita em Lobisomens, Zarolho?
................................................................................
Doutor Pedro Laerte estava pasmo diante do fato. Mal podia encarar o homem postado à sua frente. Balançou a cabeça e lamentou:
- Foi no aeroporto, com certeza... só pode ter sido isso... uma troca de maletas seria a melhor maneira, a mais natural.
O outro rosnou ferozmente, e sentou-se ao pé da árvore, fazendo esta ranger:
- Muito bem... temos 3 horas até a reunião do bando, e será uma tremenda sorte se o líder não nos trucidar por isso. É melhor encontrarmos esse fetiche Laerte.
Levantou-se, e aproximou seu rosto do de Pedro ameaçadoramente:
-... Ou eu acabo pessoalmente com você antes deles me matarem.
Pedro aquiesceu, num estranho gesto de respeito.
..........................................................................................
- Não entendi, Pablo. Por que diabos os lobos têm que te ver, se você os roubou? Você é maluco! Deveria era estar se escondendo!
Camila se fez ouvir dentro do carro, estacionado em um canto qualquer da Universidade de São Paulo. Pablo, no banco do motorista, sorriu:
- Você não tem raciocínio, não tem. Eles sabem de muitas coisas. Se eu ficar me escondendo vou atrair suspeitas, compreendeu? Hein?
A garota contorceu ligeiramente o rosto diante daquelas palavras absurdamente estúpidas. E enfim compreendeu o por quê dele estar pra ser demitido do aeroporto, assim como todos os seus empregos anteriores: excesso de burrice.
- Pablo, pelo amor de Deus, você é um grão de açúcar bem no meio do formigueiro, tá entendendo? Se esses caras te encontrarem aqui, o que é questão de tempo, você vai virar ração pra cachorro!
- Eu? Ih... corta essa! Se isso acontecer você vai junto também! – e soltou uma gostosa risada. – Olha, falando sério agora, eu tenho algo que é vital pra eles, de extrema importância, e só eu sei exatamente onde está. Eles não podem fazer nada comigo, senão já era!
- E se eles te torturarem até você falar?
Pablo ia retrucar, mas um estranho e baixo ruído vindo da parte de trás do carro chamou a atenção dos dois. Olharam pelo vidro traseiro, mas nada viram. O rapaz pediu silêncio com o indicador aos lábios, e foi saindo lentamente pela janela. Do lado de fora, caminhou agachado pela lateral do veículo, parou, e observou furtivamente aquela figura que tentava, desajeitada, abrir o porta-malas. Tomou fôlego, contou consigo até três e saltou sobre o estranho.
Atracaram-se ferozmente. Pablo desferiu um soco com toda sua força, que rendendo-se à esquiva do adversário nada atingiu além do asfalto. Sentiu sua mão trincar, fazendo-o perder a atenção sobre o inimigo por uma fração mínima de tempo. Mínima o suficiente para receber duas pancadas certeiras no rosto e ser lançado para trás com tremenda habilidade.
Com as costas no chão úmido e completamente grogue, Pablo gemia e blasfemava a tudo e a todos.
Emanuel Campos levantou-se, limpando suas roupas. Respirou por alguns instantes.
- Onde está minha maleta, seu ladrão de uma figa? – perguntou o escritor, com voz severa.
- Vai pro inferno!
Um aterrorizante uivo se fez ouvir, e outros mais soaram em seguida. Pablo tentava se levantar, e Emanuel olhava espantado em volta.
- Era só o que faltava! – disse pra si mesmo.
Em seguida olhou para o carro, e não pensou duas vezes: em segundos já estava dentro do veículo.
Camila, no banco do passageiro, ergueu os braços em pânico:
- Eu, eu não tenho nada com isso, juro! Só quero ir embora daqui!
- E eu também! – respondeu Emanuel, dando a partida.
Pablo mal conseguiu ficar sobre as duas pernas quando percebeu sua esperança indo embora à quatro rodas, em um ruído que se afastava, enquanto outros se aproximavam.
Em pouco tempo viu-se cercado por três criaturas absurdamente assustadoras. Entrou em choque. Um dos lupinos ergueu as garras para trucidar aquele indivíduo, mas interrompeu-se por uma voz:
- Não! – gritou um homem que andava apressado até eles. – Não botem tudo a perder! Ele é o único que sabe, e veio aqui pra nos avisar quem está no comando.
..................................................
- Ei, Zarolho, esquenta pra mim aquela sobra de feijoada! – berrou Porfírio, batendo contra a portinhola.
O cozinheiro levantou de seu cochilo aborrecido, e foi obedecer a ordem. Após cinco longos minutos um prato era passado rapidamente pela fresta, com certa falta de jeito.
- Ei, Zarolho, que raiva é essa...? Cortou o dedo?
- Odeio que mexam na minha cozinha!
- Minha cozinha... – pensou o rechonchudo. – Como se eu não fosse dono dessa espelunca!
Batidas na porta do “Cozinha Cega”. Porfírio foi abrir e quase sorriu ao ver aquele estranho homem, que nem conhecia. Ficou calado.
- O senhor é o dono daqui? – perguntou o visitante, secamente.
- Por pouco tempo... se é que me entende. – respondeu ele, com um brilho ansioso no olhar.
- Eu vim negociar...
- Oh, claro... entre, por aqui. – disse, indicando um assento no balcão, e postando-se do lado oposto, diante de seu prato e do estranho. – Mais rápido do que eu imaginava, hein? Vamos lá, não quero rodeios aqui. Você é um lobo, não é? Eu sei de vocês! Direto ao ponto, entende?
O homem fez um gesto afirmativo com a cabeça e apoiou os cotovelos.
- Não tem medo do que eu possa fazer pra te convencer a me devolver o que é nosso? – sussurrou ele.
- Você não é idiota, rapaz... – disse Porfírio, calmamente, enquanto mastigava sua feijoada. – Só eu e Pablo sabemos onde está o fetiche. Pablo, na verdade, sabe melhor do que eu... ele foi o encarregado de esconder a coisa de maneira que se algo acontecer a algum de nós, vai tudo pro brejo, compreende?
O lobo rosnou baixa e longamente, encarando aquela figura gorda com ódio flamejante. Porfírio não se intimidou:
- Ah... olha só pra você... eu sei bem como são os lobos: cheios de fúria por dentro, mal conseguem se conter. – riu-se. – Deve ser horrível querer de qualquer forma sentir o sabor de Pablo entre seus dentes afiados, mas não poder fazer nada.
- Realmente – disse o lupino – Mas já que mencionou, me diga você que gosto ele tem...?
Porfírio baixou seus esbugalhados olhos para o prato.

-------------------------------------------

Leiam outros contos também, ok? Há vários de de diferentes estilos.

Abraços a todos!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui