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Contos-->O amor -- 01/11/2003 - 18:30 (Dulce Baptista) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O amor
Dulce Baptista

Marcos abriu a porta em direção à rua, certificando-se ainda uma vez de que levava carteira e chave de casa. Conferiu janelas fechadas e luzes apagadas, conforme recomendações sempre reiteradas da mulher, que talvez pensasse acertadamente, que, não fossem tais recomendações, o apartamento ficaria escancarado e aceso, à mercê de ventanias e ladrões, tão distraído ele andava ultimamente.

Do primeiro andar à garagem desceu a pé, tinha pressa. Pensava em Lídia o tempo todo, e por isso voou para o escritório em pleno domingo.

Esperou; não havia nada a fazer naquele exato momento senão esperar. Mas Lídia não chegava, não chegava nunca. Talvez, no fim das contas, o melhor fosse mesmo acabar logo com aquela história de encontros, desculpas esfarrapadas em casa, demoras, compromissos imprevistos, tudo o que havia transformado sua vida numa espécie de corda bamba, onde se equilibrar ficava cada vez mais difícil.

Por outro lado, era a mesma corda bamba que parecia dar sabor à existência daquele advogado bem sucedido, professor universitário, e já avô. Precocemente avô, é verdade, na medida em que o filho mais velho resolvera ser pai solteiro aos dezessete anos. Mas essa, bem ou mal, já era uma questão resolvida.

O que paradoxalmente o incomodava era que as coisas ficavam sempre resolvidas, de um modo ou de outro.

Até que um dia lhe apareceu Lídia, ex-aluna, em plena fila de banco. Loira e bem vestida, ela estava a caminho do tribunal onde trabalhava, mas antes tivera que dar uma passada no banco.

E o que teria sido uma simples conversa de rua acabou se transformando numa relação proibida e complicada como a de amantes improváveis. Lídia também era casada.

Célia, a mulher de Marcos, estava fora no domingo, visitando parentes no interior, o que em princípio tornava as coisas mais fáceis.

Depois de providenciar uma dose de uísque, Marcos pousou a mão no telefone. Lídia não chegava. Impaciente, antevia carícias, a pele nua da amante sob seu corpo de macho insaciável. Todos os delírios vividos entre as paredes do escritório lhe vinham ao pensamento, enquanto a mão permanecia suavemente pousada no telefone.

Cada almofada do sofá e cada centímetro de tapete evocavam sensações e prazeres. As dificuldades, no caso, funcionavam como verdadeiros afrodisíacos, e dessa forma, cada encontro era mais angustiadamente aguardado que o anterior.

E inevitavelmente acabava interferindo com a rotina de ambos. Ora o dentista servia como alibi, ora uma audiência, uma compra no supermercado, e assim por diante.

Mas tudo, como não poderia deixar de ser, tinha lá seu preço: corria-se muito, o coração palpitava fora de hora, havia sempre o medo de alguma surpresa desagradável. Diante da hipótese, Marcos procurava racionalizar: se a coisa ficasse insuportável, ele terminava tudo.

Mas era estranho, como de repente a insuportável correria lhe parecia cada vez mais indispensável. E ele já não sabia estabelecer a diferença entre o indispensável e o insuportável.

No fim, acabava sempre vendo televisão ao lado de Célia, sua querida Célia, mãe de seus filhos, porto seguro de toda uma vida.

Mas naquele domingo, dia ideal para uma escapada em grande estilo, Lídia se demorava. A mão ainda no telefone, Marcos não quer ligar; deixa-se ficar assim, imóvel, até que a tarde termine. Uma chuvinha fina começa a molhar as vidraças, enquanto as luzes da rua anunciam a noite...

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