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cronicas-->Perdido na Metrópole (10) Tecnologia -- 26/03/2003 - 03:01 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por força de minha profissão, tenho visitado grandes empresas de todos os ramos. Seja para uma entrevista coletiva ou para aquelas reuniões de negócios, onde muito se fala e nada se decide. Isto não é novidade!

O que é novo, entretanto, é o esquema de segurança destas organizações, bem diferente da época em que vivi nesta metrópole, antes de seguir o conselho de Elis Regina e viver por muitos anos em uma casa no campo com meus amigos, discos, livros e nada mais.

Estive há alguns dias em uma multinacional para um compromisso.

Sou extremamente desligado e desprovido de neurónios quando submetido aos desafios da tecnologia.

Na minha era Jurássica era só deixar o RG na portaria. Hoje? Catracas de aço gigantes, càmeras por todos os lados, detector de metais, de mentiras, de caráter, seguranças imensos, maiores que a portaria, vidros fumê à prova de bala para falar com uma recepcionista que não se vê, e para acionar a catraca, um bat botão.

Jamais me sentira tão James Bond! Até teria sido tudo uma grande diversão se não tivesse me atrapalhado com o ultra hiper mega equipamento. Fiz feio. Toda a equipe de segurança veio auxiliar. A CIA, o FBI e a Cruz Vermelha. Fiquei preso na catraca monstruosa, tentei passar sem apertar o botão mágico, meu paletó também ficou preso e, por fim, tropecei no degrau frente à placa da CIPA, orgulho da empresa, comunicando que ali não ocorriam acidentes há dois anos. Vão ter que começar a contar de novo! Fui ao chão.

2003, Uma Odisséia na Metrópole - O Filme. No elevador, para lá de futurista, só faltou aquele simpático robozinho de Guerra nas Estrelas. A porta fechou e eu me enrolei todo com os comandos daquela astronave. Cara de bobo frente às càmaras daquele Big Brother solitário. Com os olhos voltados para uma das càmeras pedi clemência. A porta abriu. Uma bela e gentil mocinha, ensinou, com lousa e tudo, como fazer aquele troço andar para cima. O problema foi que tudo ali era tão inox e brilhante que ofuscou meu raciocínio. Guardei minha palha de aço, saí da panela elevadora e cheguei suando ao meu destino.

A entrevista coletiva já havia começado. Fiz aquela cara de tudo normal. Resgatei o Sean Connery que habita no mais profundo de minh´alma e adentrei ao recinto como um executivo norte americano que reside em um flat computadorizado, totalmente ambientado às modernidades e que chegara há minutos em seu helicóptero. Sorri com prepotência, para a platéia indiferente. Pura encenação.

Na saída, mesmo com toda a segurança hollywoodiana, ainda apalermado, esqueci de devolver o crachá. E ninguém notou. Está lá em casa como souvenir.

Outra modernidade a que não me adapto de jeito algum é o celular. E olha que eu sou fanático por telefone. E-mail é impessoal demais. A única coisa boa da correspondência virtual é que dificilmente a minha gagueira aparece. Sou gago, mas só quando nervoso. Estou sempre nervoso!

Ao telefone encarno aquela voz de Paramount Pictures e mando bala. Funciona! Ao celular é diferente porque ele sempre toca quando não convém. É regra. Pelo menos comigo! Outro dia alguém ligou para o meu celular tijolo, daqueles que falam, mas não são modernos. Não tem càmera fotográfica, computador, tela colorida, vídeo game, hidromassagem, e outras inovações.

Estava dentro de um ónibus lotado às 18:45h de uma sexta-feira, hora do rush. Eu não conseguia nem me mexer quanto mais atender ao telefone. E o toque-perfil que escolhi para o meu aparelho é bem discreto: Willian Tell, aquele da cavalaria. O celular estava na minha mala 007, a extensão do meu braço. Missão quase impossível. Empurrei uma meia dúzia de pessoas e, em um esforço sobre humano, com o aparelho berrando, abri minha inseparável bagagem. Todos no ónibus apreciando o espetáculo. Rindo da situação, lógico!

Busquei o tijolo falante no fundo daquele buraco negro sem fim! Consegui alcançá-lo! Finalmente atendi. O problema é que o interlocutor queria saber quem estava falando. Respondi enfático. - Cocom quequem o que o Sr. gostaria de falar? - Quem fala? - O sesesenhor dedeve sasaber com quequequem quer falar, fofofofofoi o senhor que ligou. Um dado técnico: a minha gagueira piora proporcionalmente à tensão nervosa. Quando ele percebeu que falava com a versão remix de alguém, desligou o telefone. Discriminação violenta. Fui aviltado moralmente.

Aparelho fixo é o melhor. Porém, entre o celular e o telefone público, fico com o orelhão, como é chamado carinhosamente em minha metrópole. Basta um cartão e pronto. Ele até recebe chamadas! Fica mais barato disseram. E o telefone público por aqui é agora uma diversão à parte. Os moradores desta cidade estão tão íntimos e sociáveis uns com os outros que estão colando etiquetas com números de seus telefones nos orelhões. Eu achei fantástico! É um progresso sociológico. O único problema é que algumas pessoas colocam detalhes demais sobre si mesmas.

Meu celular está tocando! Com licença.

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop Yslauss, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustrações de Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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