O CRIME DA MOTOSSERRA (*)
Só, à beira da estrada, sobranceira,
Numa pose de quem já foi rainha!
Quem passa por ali não adivinha
O que foi, pela imagem derradeira,
Em toda a região circunvizinha...
Bem rente à cerca, em tempos de poeira,
Floria tudo em volta, a terra inteira...
Ora nenhuma ave ali se aninha!
Sua presença, de plástica beleza,
Expressava o melhor da natureza
E inda guardava, mesmo ressequida,
O que de mais belo o cerrado encerra.
Mas uma desgraçada motosserra
Serrou-lhe o lenho e decepou-lhe a vida.
Adelay Bonolo
Dia dos pais/2004
(*) A ignóbil ação se passou numa estrada no interior de Goiás, um pouco além da cidade de Padre Bernardo. É uma prova da insensatez humana. Destruir por destruir. A árvore em nada atrapalhava a atividade econômica ali exercida (pecuária de corte). Estava à beira da estrada e o capim crescia-lhe aos pés, adubado pelo estrumes dos pássaros que, em bandos, lá pousavam. O homem da motosserra, insensível a qualquer espécie de sentimento da beleza, decepou-a inteira, partindo-a aos pedaços, os quais, agora sim, perturbam o trânsito do gado. Acho que vai levar anos para tirarem os pedaços dali. Essa árvore, como aquela outra de que nos fala Augusto dos Anjos, possuía minha alma. Todos os sábados, ida e volta, parava perto dela para melhor observá-la. Até que um dia não a mais vi. Ela foi capa de meu romance O MORITURO DE CADOZ. Quem se interessar pelas fotos (antes e depois) é só entrar em contato com o autor. Ela era muito mais bela do que o soneto pôde demonstrar.
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