“Memória (Carlos Drummond de Andrade)
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
[...]”
...Eu entendo o que ocorre de princípio...
Me atiro de um precipício
-Me ajudem, estou morrendo!
Minha cabeça está no lugar
Meu cérebro, intacto,
Minhas pernas, braços,
Tronco, pulmões, baço,
Bacia, pâncreas,
Olhos, dentes, minha serpente,
Graças a Deus, estão presentes...
Mas estou morrendo,
O que é que há?
Meu coração...
Meu coração está em pedaços!
E sem ele, perco os olhos, perco os braços,
Perco os pulmões, bacia e baço.
Meu Deus, me ajude, meu coração está em pedaços!
Me atirei do precipício no espaço
E no espaço sem guia me perdi,
Agora, não me acho,
E meu coração está em pedaços.
Eu já A pedi em namoro, casamento,
Mas Ela me diz que é com a amizade que valho.
Senhor, me ajude, meu coração está em pedaços!
Me desesperei,
Confesso que de propósito me atirei,
Tentava invadir Seu coração,
Toma-lo a força,
Não consegui.
Não resisti ao seu olhar,
Antes cálido quando me viu,
Porém me olhou um olhar gelado, calado,
Quando me ouviu...
Me olhou como se fosse um vil.
À sua indiferença, não resisti,
E sem provar do mel de Sua boca,
Me despedi...
Meu Deus, o que faço, meu coração está em pedaços!
Já sei,
Já sei o que faço
Colo os pedaços
E o entrego à Solidão...
-Solidão, cuide bem de meu coração!
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