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Cronicas-->O Bar do Seu Tomás -- 27/03/2003 - 06:16 (Tiago Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O BAR DO SEU TOMÁS (Tiago Xavier - 28/03/2003)

O bar do seu Tomás não era comum. Sua peculiaridade começava pelos frequentadores. Todos ali eram convidados, não era qualquer um que entrava. Bebiam ali apenas os que eram chamados por seu Tomás e os convidados de quem fosse convidado. Era um lugar onde não se permitia a entrada de mulheres. Ali os homens se sentiam à vontade para falar de futebol, política, carros e claro, delas. Assim o bar funcionava, de maneira clandestina. Não tinha licença para que ali pudesse se estabelecer. Ficava atrás do minimercado da família. Para entrar no boteco o sujeito teria de atravessar todo o mercadinho.
Como em todo bar, ali se bebia, brindava, cantava e jogava conversa fora. Nessa de beber e bater papo, alguém sempre contava uma ou outra história que ninguém acreditava. Nisso foi criada a "urna da mentira" que consistia em reunir as lorotas que foram ditas no bar no decorrer do ano. Em dezembro era feito um jantar, pago mensalmente no decorrer do ano, onde os sócios do clube/bar se reuniam para que a urna fosse aberta e a mentira mais descarada do ano ganhava um prêmio.
Entrei ali convidado pelo meu pai, que é um dos frequentadores mais assíduos e o mais moço de todos também, com quarenta e três anos. O lugar é pequeno e movimentado. Durante o dia fica fechado pois os sócios começam a chegar depois das 18:00 horas. O bar consiste num balcão e num frigobar, usado apenas para fazer gelo. Todas as bebidas e os aperitivos ali servidos são trazidos do mercadinho, já evitando quaisquer problemas futuros com a fiscalização. Durante a semana que fiquei em São Paulo frequentei o botequim diariamente. Assisti a brigas entre os sócios, mentiras contadas descabeladamente, afim de faturar o prêmio daquele ano, além de outras cenas que estão presentes neste cotidiano comercial urbano.
Numa destas brigas, deflagrada por uma discussão de futebol entre dois senhores de idade avançada, um deles se levantou raivoso e, balançando o dedo como quem tenta desgrudar uma meleca, ameaçava:

- Não te bato porque você é muito velho.

O outro, se apoiando na bengala e tentando se levantar com dificuldade, responde em tom irónico:

- Venha se for Homem. Te enfio esta bengala onde tua mãe passava talco, seu velho safado.

Para a infelicidade de todos, o prosseguimento desta discussão é impublicável. Porém, as brigas no bar de seu Tomás não passam de palavras de afronta. No dia seguinte, ao chegar no bar, pude notar que os dois senhores, que antes gladiavam-se verbalmente, riam do acontecido como duas crianças quando fazem as pazes depois de uma briga pela figurinha de um álbum ilustrado.
Porém, as mentiras que vão para a urna são grandiosas anedotas populares. Quando eu era criança, me perguntava sempre quem era o inventor das piadas. Ao conhecer o bar do seu Tomás, descobri que as anedotas, piadas e causos surgem da mente brilhante, da imaginação adubada dos grandes mentirosos. Uma boa mentira vira uma grande anedota mudando-se apenas um pouco o contexto e aumentando o teor desta mentira para que possa ser chamativa e engraçada. Uma das pérolas da perna curta, que foi a grande campeã de 2001, foi dita e confirmada por Seu Auréolo, advogado aposentado que acredita realmente no que diz.
Segundo o próprio Auréolo, uma vez ele foi ao pantanal com alguns parentes para pescar. Disse ter pego uma tainha, que é um peixe que realmente demora para morrer depois que é tirado da água. Porém, essa tainha que Seu Auréolo pescou devia ser dotada de poderes extra terrenos, pois foi colocada na geladeira e no dia seguinte, seu Auréolo afirma, ela ainda estava viva e tinha comido um pé de alface que fora deixada ao seu lado.
Claro, Seu Auréolo foi consagrado grande campeão do ano, e há indícios de que ele anda preparando outra mentira que conta uma história de briga de canários e gaiolas com as grades entortadas pela violência dos pássaros em combate.
Porém, o mais interessante do bar do seu Tomás é que ninguém acredita que ele exista, e falam que eu inventei isso tudo. Me chamam de mentiroso, contador de histórias. Não posso fazer nada. Se não acreditam no que digo, então, que me coloquem na urna...
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