Amigo (*)
O meu cão, coitado,
Morreu
E não deu
Sequer um ganido.
Servo conformado.;
Na vida,
Na guarida,
Muito precavido.
Morte dolorosa...
Senti,
Me condoí
Do seu sofrimento.
Que hora desditosa...
Morria,
Nesse dia,
Quieto, sem lamento.
Sempre resignado,
Viveu.
E morreu
Num teto querido.
Herói dedicado,
Brilhante,
E constante
No risco assumido.
No simples abrigo,
Ladrava,
Ululava
Antevendo a tudo.
Brando era, contudo.
E agora,
Nesta hora,
Vejo-o inerte, mudo.
Meu pobre cachorro,
Que amei,
Que deixei
Vigiando o meu lar.
De dor também morro
Chorando,
Lamentando,
Triste, o seu passar.
Meu grandioso cão --
Amigo
Mais antigo
Que tinha na vida --.;
Fiel guardião
Da casa
Que se arrasa
Nesta despedida.
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(*) "Novos Talentos", volume 2, 1ª edição, Rio de janeiro, Litteris Editora, 1993, página 35. |