O rádio estava ligado em uma frequência qualquer,enquanto o último cigarro era apagado. As unhas vermelhas e a boca manchada de baton mostrava a vida que aquela mulher levava. Não era uma adolescente, nem uma velha, tinha seus quarenta anos e uma história muito longa.
Alugava uma espelunca porque o dinheiro não dava para morar em um pálacio, tinha que se contentar com a visita dos ratos e das baratas. Era pobre e suja. Triste e amarga.
A parede imunda que avistava da janela de seu sobrado prendia sua à tenção. Estava cansada, sua noite tinha sido "daquelas", fazia qualquer coisa para ganhar uma miséria e ter nojo de si mesma. Não tinha vontade de se jogar na cama, queria ficar ali, sentada na cadeira, batendo suas unhas e fingindo que ouvia a chieira daquela porcaria de rádio.
Ficou ali durante um bom tempo, depois resolveu tirar as sandálias de salto alto que calçava e o vestido colante preto que completava o seu visual sedutor. O espelho refletia seu corpo nu e foi assim que enrolou no lençol e deitou sobre o travesseiro. Não tomou um banho e nem a maquiagem tirou, ficou ali olhando para a bolsinha que estava jogada no chão entre os restos de comida. O ambiente era podre, porco e fedido. Ela não fazia a maior questão de limpar, parecia satisfeita em viver ali, naquela pocilga.
Já sentia o calor do sol entrar pela janela, o dia estava amanhecendo e sem mais nem menos começou a pensar naquele corpo imundo e naquela noite. Era uma prostituta barata, satisfeita com aquela vida.