Absurdo (*)
É triste relembrar a convivência
Que tivemos. Parece que foi sonho
Ou encanto. Não posso nem proponho
Julgá-la: pena atroz demais convence-a.
Tudo pleno de paz e de inocência.
Passava o tempo num viver risonho
Sem incômodo e sem maldade. Ponho
Fé no hoje, mas dói vê-la em decadência.
Reconstruir o que não tem mais jeito
É meta inglória: não há plenilúnio.;
Somente dor -- que dilacera o peito.
Esquecimento forço, e o amor une-o
A lembranças de um mundo, já desfeito
Em conflito, com marcas do infortúnio.
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(*) "Nos Vôos da Imaginação", 1ª edição, Rio de Janeiro, Litteris Editora, 1995, página 31.
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