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Cronicas-->Derrotado antes do sono -- 15/08/2000 - 05:46 (Guilherme Gouvea) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Reluto desde a hora em que acordo. Na falta de unhas tomo compulsivas águas, chocolates, mais água e a insatisfação persegue. Dizem que caminhar é uma boa solução e vou onde as pernas aguentam, porém é hora de retornar. No percurso, a primeira prova: vem o senhor de encontro à calçada que foi minha. Sem saber o que fazer coloco as mãos no bolso, entrelaçando umas nas outras - já suadas e mais irrequietas.

- Bom dia!

Felizmente ele passou rápido, mal havíamos cruzado os olhares. E continuemos nossa trajetória, ele com um cigarro que invejei, eu tentando largar o vício que compartilhamos. Manter a força do pensamento é fundamental no primeiro dia de ex-fumante. Pensando bem, nada como um banho para remover o suor e a nicotina que pulsa em meus pulmões e vai até a superfície da alma, que implorando por uma tragada me confunde às ganhas.

O sabonete que arde minha vista é o mesmo que perfuma o ar, me fazendo pensar numa vantagem de não feder a fumaça. Olho para baixo e penso na impotência que dizem causar o cigarro, mas isso é bobagem, ele tira a resistência e fede muito, dá càncer e o ministério da saúde adverte: evite fumar na presença de crianças, mas broxar mesmo nunca o fiz por conta do cigarro. Talvez pela bebedeira ou falta de tesão mesmo, ou por excesso de vontade - como certa vez entre as primeiras - mas nada tão traumático e que um bom cigarrinho não fizesse desencanar enrolando o tempo para uma próxima tentativa, e também não vou contar minhas broxadas aqui para não baixar ainda mais minha auto-estima. Isso só me levaria a fumar antes que começasse a escrever.

Sento-me à frente do computador e observo o cinzeiro. Está cheio de papéis das mais variadas guloseimas. Abro o editor de textos e uma crise de tosse interrompe a escrita. Enquanto isso uma tremedeira toma conta do meu corpo. Temo não sei o quê, mas tremo. Pode ser até o frio que faz, mas as mãos quentes aludem o suor na espinha, e não sinto frio. Minha garganta dói toda vez que engulo a saliva, e quem disser que não engole saliva está morto. Até que as tossidas misturam as palavras impedindo que as ordene. Caminho até a porta, mas desisto de olhar a chuva. Então um cigarro acalma a inquietude, deixando que as linhas saiam assim, meio tortas e derrotadas, fedendo a fumaça e respirando monóxido de carbono. Dormirei vencido, fedido e com mais dor de garganta. Pensando bem, vou fumar mais um antes de dormir. Assim acaba a carteira mais rapidamente e logo posso parar de fumar novamente.


Guilherme Gouvêa - sem-vergonha de fumar




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