Levado por um amigo, fui parar na casa de um mulato magro, conhecido por Pai Tartufo. O homem é muito bom, disse o meu amigo, vai desembaraçar o teu caminho. Depois de aprovar minha ficha cadastral, Pai Tartufo marcou hora para o dia seguinte, de tardinha, e perguntou se eu tinha em casa travesseiro de penas. “Se não tiver, serve o de isopor, traga junto com você.”
Na hora marcada, me conduziu a uma salinha à meia luz, de tons vermelhos, com algumas velas acesas. Examinou o travesseiro que eu trouxe, apalpando-o por todos os lados e deu um sorriso de vitória, como se tivesse encontrado o que procurava. Voltou-se para mim e disse:
- “Meu fio, abra o travesseiro e despeje tudo no chão”.
Feito isso, apanhou do meio do isopor picado um embrulho e desenrolou-o devagarinho, sorrindo estranhamente. E aí apareceu um sapo seco, enorme! Da sua boca, o mulato extraiu um papel enrolado. De um lado estava escrito apenas um nome: RANULFO. No outro lado, alguém escrevera coisas terríveis: Ranulfo, vai lhe acontecer isto, Ranulfo, aquilo...as maiores desgraças! Duvido que lendo uma coisa daquelas, na luz tremulante das velas, vocês não ficassem estarrecidos, como eu fiquei. No final da delicada cartinha havia uma lista enorme com os ingredientes utilizados no trabalho. Era de se ver: uísque estrangeiro pra cima. Com certeza, até o próprio sapo era importado. Para desfazer o trabalho, teria de adquirir os mesmos produtos. Felizmente, para minha maior comodidade, Pai Tartufo os possuía em seu estoque. Fácil, fácil...
Mas não pensem que fiquei desesperado. Afinal de contas, eu nem me chamo Ranulfo. Foi o nome que dei ao marcar consulta, constrangido em dar meu nome verdadeiro. E para não trazer um travesseiro velho, passei no supermercado e comprei um novo. Não posso entender como o malvado que ali infiltrou o tal sapo sabia que eu iria comprar justamente aquele travesseiro. Essas coisas são inexplicáveis!
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