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Contos-->Alforria -- 18/11/2003 - 14:42 (Dôra Penna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Alforria


Dôra Penna



Ao nascer, meu destino já estava traçado. Ao nascer, não – muito antes. Antes de minha mãe nascer, antes da mãe dela, da avó...
Na verdade, meu destino foi traçado ao escravizarem a tetravó de minha mãe.
Porém, diferentemente de seus filhos e netos, que desde a concepção eram escravos da mesma sina, seus bisnetos eram livres já no ventre. Livres?! No papel sim, mas do destino, não.
Não mais viviam na senzala, é fato, mas continuavam trabalhando (e muito) na casa grande.
Minha avó ajudou a criar os filhos dos patrões, foi mãe de leite de alguns. Com minha mãe, não foi muito diferente. Comigo também não.
Nasci no anexo de uma casa grande. Meu pai nunca vi, nem ele a mim. Colo tive pouco, estava quase sempre ocupado. No peito, eu era a segunda. Aliás, tudo o que me cabia era da segunda vez ou de segunda mão.
O cantinho da cozinha era o meu mundo, e cedo aprendi onde era o meu lugar.
Infância também tive pouca. Mal agüentava comigo e já dava colo ao mais novo membro da casa. E quando ele foi para a escola, continuei no meu canto.
Mas eu não me conformava com a minha sina, não... para desespero de minha mãe.
Quando pude ir à escola, no turno da noite, tive a esperança que viesse a ser a grande saída. Desilusão... era uma escola também de segunda.
Resolvi, então, interromper a cadeia: não teria filhos! Não forneceria mão-de-obra para nenhuma casa grande! Este, porém, seria um preço muito alto a pagar...
Pensei, a seguir, em ingressar em algum “quilombo”, mas este também teria seus limites. Não era essa, ainda, a solução total.
Pensei em fazer algum curso, mas cadê tempo?
Pensei em procurar outro emprego, mas cadê coragem?
Até que fui à luta. O emprego não mais era em casa grande, era numa empresa... como servente. Era, a princípio, quase a mesma servidão, sujeição, subserviência.
Afinal, não mudou nada?!
Mudou sim! Foi o primeiro passo, é assim que começa toda caminhada.
E foi dado o segundo e fundamental passo quando fiz a grande descoberta de minha vida: estivesse eu onde estivesse, nunca mais haveria servidão, sujeição, subserviência; pois somente eu poderia quebrar o meu grilhão hereditário, intensificado, internalizado... Somente eu!
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