Cogumelos pretos! Ou rosas orientais?
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Há um imenso jardim florido em Bagdá. Um quintal soturno de cogumelos pretos. Cogumelos gigantes, implacáveis com a vida e horrendos como a morte. Há um jardim inquieto que clama por paz. Há um jardim no Iraque que clama por vida.
Nos destroços que sobraram desse ocaso, vagueiam retalhos de vidas sobre os escombros. Há um olhar fixo, no horizonte do nada, de uma mãe com o filho inerte no seu colo. Há um choro silencioso de um pai diante dos mutilados. Há uma lágrima seca de um ancião iraquiano de andar trópego pelas ruas de Bagdá. Há um soldado que aponta uma arma, há uma fera mulher que fere com o olhar e resiste bravamente.
Ainda há vida em Bagdá! A vida resiste no Iraque!
Há olhares desfigurados diante de uma desfigurada metrópole. Um cheiro lúcifer de enxofre que apavora. Há um mormaço lúgubre nos caminhos, há uma fronte cinzenta em nossa frente. Há um jardim de cogumelos pretos que florescem todas as manhãs. Indesejáveis porque trazem a maldição, malvistos porque não foram convidados.
São cogumelos plantados por raios de luzes que rasgam os céus, lucilam nas noites dos desertos. Portam luzes para plantar e escuridão. São cogumelos que se reproduzem no estouro de uma rajada de luz. Há um fogo fátuo no Iraque. Um fogo de fato que martiriza. Há um estouro nesse quintal florido em Bagdá. São cogumelos que enfeitam o horror e saciam a sede de morte. Dilaceram vidas e estraçalham sonhos.
No começo havia uma rosa nesse quintal. Uma solitária rosa oriental. Uma rosa antiga! A rosa da rosa. A rosa ativa. A rosa incandescente. Uma rosa quase sexagenária. Olhando para esse passado não muito distante ainda percebemos, no presente, o nascimento dos filhos dessa rosa oriental. São herdeiros mutilados da rosa imaginária. Uma rosa proeminente e precursora dos quintais de cogumelos de Bagdá. Uma rosa filha dos mesmos pais dos cogumelos pretos do Iraque.
Os novos cogumelos pretos ou as rosas antigas do oriente trazem a vontade da guerra e da morte. São rosas insanas e cogumelos estúpidos, são plantadas por mãos poderosas e sem escrúpulos. Impiedosa e inclemente, não pedem desculpas e nem são punidas. E seguem em frente punindo pessoas.
Enquanto a vida resiste, persistem vozes que pedem a paz. Entretanto, florescem cada vez mais, cogumelos pretos em Bagdá!
cronicas da guerra
Ontem eu quase chorei pela paz
O dia em que a Terra parou
As luzes de Bagdá
Quantas serão as rosas de Bagdá
E agora Bush? E agora Blair?
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