Aflição (*)
"O soluçar nos cântaros o embala,
e no bailar de sombras delirantes
a noite gesticula e o morto cala."
(Joanyr de Oliveira, in "Soberanas Mitologias e a Cidade do Medo")
Que saudade tenho sentido
Daquele tempo tão feliz,
Em que eu rezava na Matriz
Pedindo a Deus pra ser ouvido.
Não posso entender o cupido
Que força a mesma diretriz...
Com freqüência, uma voz me diz:
"Não fujas, serás perseguido!"
Desse modo viver -- agora,
Quando toma conta de mim
A lembrança, e a paz vai-se embora --,
Com pesar, confesso: é ruim.;
É como um enfermo que implora
Pra morrer e encurtar o fim.
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(*) "Enciclopédia da Literatura Brasileira Contemporânea, II Antologia de Verbetes", Ano II, Nº 2,1ª edição, Rio de Janeiro, Grupo Brasília de Comunicação, 1996, página 30. |