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Artigos-->Literatura: o romance histórico tradicional -- 09/07/2002 - 20:54 (Dante Gatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Romance histórico tradicional



O que é um romance histórico?

Mata Induráin (1995, p.13) salienta a dificuldade que se encontra quando se tenta responder esta pergunta. A tentativa de resposta esbarra na dificuldade que oferece os grandes temas, sujeitos a constantes mudanças e sempre polêmicos. O que se fará aqui, portanto, será enfocar certos pontos que nos permitam abraçar algumas idéias para tornar uma explicação eficaz. Longe, muito longe, de se dizer tudo o que fascina sobre um assunto tão apaixonante. Conforme Márquez Rodríguez (1991, p. 21) este conceito, como todos os conceitos literários e estéticos, apresenta uma evolução, determinada por mudanças bastante profundas:



“El hecho literário al que en esta oportunidade nos referimos há tenido por anos ese nombre, novela histórica, y aunque lo que hoy llamamos así, de manera convencional, haya cambiado mucho a través dos años, la denominación siguesiendo, a nuestro juicio, válida como tal, sobre todo porque dentro de esos cambios profundos lo que entendemos por novela histórica há conservado algunas constantes, que permiten reconecer hoy como tales, produtos literários que algo tienem em común com sus más remotos antecedentes, aunque talvez sea mucho mayor lo que tienen de destino”.



O romance histórico teve um cultivo abundante no pré-romantismo inglês. É verdade que escritores franceses e alemães entregaram-se, também, à prática deste gênero, mas foi o escocês Walter Scott que acordou toda a Europa e a América para o interesse pelo romance histórico. Isto se deu, principalmente, a partir de Ivanhoé (1819). Neste romance podem-se encontrar quase todos os recursos scottianos que seriam assimilados pelos romancistas históricos.

Mata Induráin (1995, p.24), neste sentido, lembra que o romance histórico é um gênero genuinamente romântico a tal ponto de se poder afirmar que “la imaginación romántica hizo ser historiadores a los novelistas Y novelistas a los historiadores”. As idéias românticas exerceram grande influência na historiografia da primeira metade do século XIX, “incluso se pensaba que era posible aprender la historia inglesa en las novelas de Scott”.

Tomando-se a obra de Márquez Rodríguez (1991, p.21) discernir-se-á alguns elementos definitórios do esquema tradicional que, como vimos, foi estabelecido por Walter Scott. Primeiro: um “gran telón de fondo” com rigoroso caráter histórico ocorrido em um passado mais ou menos distante do presente do romancista. Indispensável, também, é a presença de personagens históricos bastante conhecidos. Pois bem, sob este grande telão de fundo um acontecimento fictício, com personagens fictícios. Acontecimento este que bem poderia ter ocorrido realmente. Outro passo: dentro deste acontecimento fictício um episódio amoroso. E, por fim, o primeiro plano da narração é ocupado pelo acontecimento fictício e, conseqüentemente, pelos personagens fictícios.

No que se refere a este último aspecto: isto não quer dizer que o fundo histórico seja de importância secundária. Ora, nele estão os elementos primordiais que configuram a atmosfera moral do relato:



“De la relación entre los personajes centrales, ficticios, y los colaterales, de caráter histórico, derivan algunas de las claves fundamentales de la trama novelesca, que explican, por ello mismo, muchos de los comportamientos de los personajes, tanto reales como ficticios, así como también las soluciones que se va dando a los conflictos que a lo largo del relato se han ido presentando, hasta culminar con la solución o desenlace final”. (Márquez Rodrígues, 1991, p.22)



O primeiro plano da narração ocupado por personagens fictícios? Isto, sem dúvida, merece algumas explicações. O romance histórico nasce no começo do século XIX como conseqüência de uma série de circunstâncias históricas e sociais. Waverley, o primeiro romance de Scott, de 1814, coincide, não acidentalmente, com a derrocada do império napoleônico. Os romances com temas históricos que se fazia anteriormente, conforme Mata Induráin (1995, p.21), as chamadas “antiquary novels” inglesas, da segunda metade do século XVIII, são históricas somente em sua aparência externa “pues la psicología de los personajes y los costumbres descritas corresponden a la época de sus autores”.

A Revolução Francesa e as guerras napoleônicas criaram os primeiros exércitos populares. O povo começa a tomar consciência de sua importância histórica. Reaviva-se o sentimento nacionalista nos territórios submetidos com a conseqüente glorificação do passado nacional e um interesse crescente por temas históricos.



“El escritor escocés sabe interpretar las grandes crisis, los momentos decisivos de la história inglesa: momentos de cambios, de fricciones entre dos razas o culturas, de luchas civiles (o de clases, según Lukács); y lo hace destacando la complejidad de las fuerzas históricas con las que há de enfrentarse el individuo. No altera los acontecimientos históricos; simplemente, muestra la história como “destino popular” o, de otra forma, ve la historia a través de los individuos”. (Mata Induráin, 1995, p.23)



Lukács, aliás, o autor do mais consistente trabalho teórico sobre o assunto (O Romance Histórico, escrito em 1936/37), coloca que não se trata de reviver pura e simplesmente o passado pelo único fato de revivê-lo, mas sim no sentido de recriar o comportamento dos seres humanos que atuaram nos fatos que configuram este passado. Tudo isto, ainda, sem perder de vista o contínuo da história e, portanto, a possível relação que esses comportamentos tenham com o presente. A ênfase, portanto, nos personagens fictícios, que por regra geral tem uma significação menor que os fatos e personagens realmente históricos, o fato destes personagens agirem não de forma excepcional como agiria o herói clássico, dão uma visão mais verdadeira, e oportuna, deste passado.

Outro ponto que se afigura digno de observação é a questão da distância cronológica do tempo do narrador em relação ao tempo do romancista. Tanto Seymor Menton (1993, p.32) como Márquez Rodríguez (1991, p.22) citam Anderson Imbert, que sustenta que a distância entre o ato de narrar e os fatos narrados devem ser distantes e, portanto, nega o caráter histórico àquelas de tipo testemunhal em que o romancista narra fatos que presenciou diretamente, ou em quais participou de uma ou outra maneira.

Márquez Rodríguez posiciona-se criticamente em relação a este fato, posto que o que dá caráter histórico a um acontecimento não é a distância entre narrador e autor, mas sua condição intrínseca de fato que, de alguma maneira e em uma outra medida, tem influído no desenvolvimento dos acontecimentos posteriores a ele e com os quais tem alguma relação. O posicionamento de Anderson Imbert teria algum sentido, na opinião de Márquez Rodríguez (Op. cit., p.22), antes do enorme desenvolvimento alcançado pelos meios de comunicação nas últimas décadas. Anteriormente, o histórico obedecia a critérios que não podem ser os mesmo de hoje. Um acontecimento histórico, por grande que fosse, seu significado e transcendência surtia efeito com lentidão. Hoje, absorvem-se imediatamente os acontecimentos e isto não modifica em nada o caráter histórico dos mesmos.

Mata Induráin (1995, p.18-9) estabelece uma separação mínima para a distância temporal entre o presente do autor e a história narrada de cinqüenta anos que “en cualquier caso, no deja de ser una cifra arbitraria”.

Márquez Rodríguez (1991, p.23) considera particularmente injusto negar a Amalia (1851-55), do argentino José Mármol (1817-1871), seu caráter de romance histórico se tomarmos em conta que o autor, mesmo narrando acontecimentos presenciados por ele, o faz mais de dez anos depois de ocorridos e deliberadamente opta por um estilo que produza no leitor a impressão de que se trata de acontecimentos remotos. Do mesmo modo Os Sertões, de Euclides da Cunha, não caberia na condição de romance histórico. São, aliás, muitos os romances conhecidíssimos que não satisfazem tal condição. Seymour Menton (1993, p.33-4) cita algumas obras excluídas por abarcar parcialmente um período experimentado pelo autor.

Márques Rodríguez (1991, p.24), por fim, conclui:



“Menos aún podría aceptarse el argumento de Anderson Imbert de que el novelista que narra episodios por él vividos o presenciados no puede verlos con ojos de historiador, y por ellos su relato no puede ser calificado de novela histórica. Nos parece que en ningún momento el novelista puede ver los hechos que narre, sean próximos o lejanos a su tiempo real, con ojos de historiador. Es más, la condición para que sea novelista y no historiador, y por tanto para que su producto sea novela y no historia, es que no vea los hechos en que se basa com ojos de historiador, sino de novelista”.



Quando se falou, há pouco, em um grande telão de fundo histórico, referindo-se ao esquema scottiano, onde se construiria uma ação fictícia que tomaria a maior parte da atenção do leitor, não se queria dizer, como não se disse, que esse fundo histórico teria uma importância secundária. Pelo contrário, constitui parte viva da ação romanesca. O acontecimento fictício vem completar o quadro daquilo que o romancista pretende mostrar. No entanto, o narrador pode limitar seu esforço narrativo aos fatos históricos comprovadamente ocorridos, aplicando um tratamento literário adequado para que o produto seja um romance e não um livro de história. Esse dispensar o fictício e o tratamento literário adequado colocam o romance em outro patamar diferente do esquema scottiano. Isto já é um outro assunto que, oportunamente, terá a sua vez.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



MÁRQUEZ RODRÍGUEZ, A. Evolucion y alcances del concepto de novela histórica. In: Historia y ficción en la novela venezolana. Caracas: Monte Ávila, 1991, p.15-54.

MATA INDURÁIN, C. Retrospectiva sobre la evolución de la novela histórica. In: SPANG, K. et. al. (ed.). La novela histórica. Teoria y comentarios. Barañain: Un. Navarra, 1995, p.13-63.

MENTON, S. La nueva novela histórica: definiciones y origenes. In: La nueva novela histórica de la América Latina, 1979-1992. México: FCE, 1993, p.29-66.



Dante Gatto

Professor da UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso).

gattod@terra.com.br

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