POEMA PARA SER LIDO A BORDO DAS ILUSÕES
“...ó linda imagem de mulher que me seduz,
se eu pudesse tu estarias num altar.; és a
rainha dos meus olhos, és a luz... és Malan-
drinha, não precisas trabalhar”.
DO CANCIONEIRO POPULAR
Procura-se um homem de muita finança
que goste muito de grana e tenha muita.
Um cara que desdenhe o mundo real,
Cultive a maior das ganâncias e que
Jamais solicite nota fiscal.
Um homem que não seja tão jovem
Mas de preferência acima dos quarenta
Para eu poder me lembrar eventualmente
Do medo quase mórbido que tenho
Do pai e nosso amor mal resolvido.
Procura-se um gajo que não tenha opinião
Formada sobre um mero resfriado ou sobre
As guerras do Iraque ou Afeganistão.
Enfim, procura-se alguém que não seja
Tão James Dean, mas que não seja feio:
Para bancar ad aeternum uma mulher branca,
Encantadoramente mal-humorada, bonita e verbal.
Distante, contraditória, dorminhoca, confusa e
Sem projeto, mas que pratica um fellatio
Generoso e cheio de volúpia.
Uma mulher que pouco se importa em saber
Quem é, aonde vai ou o que será do seu presente,
Repetindo diuturnamente: “depois a gente vê isso”.
Que alimenta a fantasia, fermento do passado
Insepultável, sob a alegação de ser
Um caso mal resolvido.
(Procura-se um homem que encontre essa mulher
Que se procura, mas não se tem encontrado
Ao longo desses dias, dessas horas, dessa ilusão).
WALTER SILVA
Campina Grande, agosto, 2004.
Num quarto de hotel.
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