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Infanto_Juvenil-->A SAGA DO PAU-BRASIL -- 09/03/2003 - 11:46 (Welington Almeida Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Welington Almeida Pinto
Editora: Edições Brasileiras
Tema: História do Brasil
Número de páginas: 80
ISBN 85-901 689 - 1 - 3
texto integral, sem ilustrações

*Pela disponibilidade do livro no seu computador, que está integralmente publicado abaixo, Você vai pagar apenas os direitos autorais: R$ 2,00 (dois reais) - o preço de um maço de Marlboro. Mesmo assim, se achar que deve. Então, mande por carta em dinheiro, ticket refeição ou vale transporte, à nossa OFICINA DO LIVRO/SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA, rua Leopoldina, 836/303 – Cep 30330-230 - Belo Horizonte/MG, ou como preferir. Se pensa que nosso trabalho vale um pouco mais, a diferença Você quita com uma atitude de solidariedade à Campanha FOME ZERO: doe um quilo de alimento não perecível a uma instituição filantrópica mais próxima de sua casa.

** PAGAMENTO ESPONTÂNEO – prática usada na Europa há séculos, temos o exemplo do do escambo de jornal. Lá o jornaleiro deixa em vários pontos da cidade uma banqueta com os jornais do dia, ao lado, uma caixinha de madeira com moedas para troco. O consumidor interessado pega o jornal preferido e põe o valor correspondente na caixinha. Se tiver troco, ele mesmo faz a operação.

*** Nos momentos de tensão, alivie o stress mergulhando-se no Mundo da Filosofia, acesse o site: www.welingtonpinto.kit.net/frasescelebres



A SAGA DO PAU-BRASIL
Welington Almeida Pinto


- Pau-Brasil? Nunca vi um, Professora.
- E Você, Maria Vitória?
- Só ouvi falar. Sei mais que a Ana Laura!
- E Você, Chico?
- Também já ouvi falar... Vi uma foto numa revista... Jornal... Que é bonita, posso garantir, Dona Diana.
A Professora:
- Levante a mão quem mais conhece ou já ouviu falar, viu fotografia, da árvore que é símbolo natural brasileiro.
- Direita ou esquerda? – brinca Maria Vitória.
- Só porque está com o braço na tipóia, aparecida! – caçoa Joana, no fundo da sala.
Chico, sempre gozador:
- Taí, gostei do aparecida... Só porque quebrou esse braço, fica levantando, na maior vantagem... Essas meninas, Dona Diana.
Maria Vitória pôs a língua para o colega, a Professora interfere:
- Chega de braço quebrado e de tipóia... Aposto que a Maria Vitória não quebrou o braço porque quis... Pelo jeito, mais da metade não ouviu falar e nem viu nossa árvore famosa. Isso mesmo, e nem uma, nem um de Vocês pode ter culpa nisso. Pau-Brasil quase foi extinto em terras brasileiras...


Depois dessa conversa de fim de aula, no Colégio Santos-Dumont, a Professora Diana combina com a classe dar um passeio até o Jardim Botânico e conhecer de perto, ao vivo e a cores, um exemplar de Pau-Brasil. Para os jovens, nada melhor: uma saída do comum das aulas entusiasma a todos. Motivação melhor? A árvore famosa ia favorecer uma boa escapada da floresta de pedra da cidade grande.
No dia combinado, lá vão todos contentes, inclusive o motorista do ônibus, o Tatão, um gorducho de queixo mole e cara arredondada, que adora passar a manhã longe do trânsito agitado e admirar a Natureza, principalmente uns passarinhos também raros, uma paixão de seus tempos de menino no Interior:
- Ô Dona Diana, a senhora é fogo com essas idéias.
Mal o especial estaciona em frente ao portão principal do Jardim Botânico, os estudantes, um mais assanhado que o outro, se debruçam nas janelas ou se levantam das poltronas para o corredor para descer o mais depressa.
- Já posso abrir a porta, Dona Diana? – pergunta o Tatão, cuidadoso.
A Professora, de pé junto à porta do ônibus, balança a cabeça, concordando:
- Só um minuto. Hei!... Hei!... Sem baderna, Pessoal! Sairemos em fila, bem comportados.
Os meninos, um a um, descem, falando e rindo. Acham graça em tudo.
Na entrada, orientados pelo Porteiro Juraci da Silva, um moreno troncudo, cara de índio e voz grossa, os meninos vão para a varanda do prédio da administração, onde aguardam o Diretor do Parque.
Manhã agradável, céu limpo e muito azul; poucas nuvens passeiam nas alturas. A vegetação desafiava a cidade, descia pelo Parque em camadas de glorioso verde. E nas árvores ao redor os passarinhos coloridos cantavam em galhos, ou cruzavam o ar em vôos rápidos de um lado para outro.
De repente, a voz rouca de um papagaio invade a varanda:
- Ô Felício! Ô Felício! Currupaco-papaco. Ô Esmaragdo!
Todos olham para cima, procurando o dono da estranha voz. Onde? Os mais danadinhos ameaçam correr para fora do alpendre, imaginando que o papagaio só podia estar no telhado. Chico sugere, metido a entender de papagaio:
- Podemos pedir uma escada e subir para procurar o bichinho no meio daquela folhagem no beiral da varanda.
Genial a idéia. Um alvoroço, um empolgamento; querem dar palpite. Nisso, sem ninguém imaginar, um homem aparece na porta da varanda e interrompe a algazarra:
- Tchã, tchã, tchã, tchã... Aqui estou eu, Cambada!
Num pulo, os meninos recuam um passo; se embolam. O estranho homem solta uma sonora gargalhada e pergunta:
- Nunca me viram?
Ninguém responde. Todos embasbacados, olhos arregalados de espanto e curiosidade.
- Meus Senhores! Minhas Senhoras! Sou o Felício Esmaragdo Valverde, o Professor Felício, se preferem. Vieram visitar o Jardim ou aprender mais alguma coisa sobre Botânica, aposto! Fiquem à vontade, por favor, Professora...
Aliviada pelo susto, sorrindo, aperta a mão do Professor e diz:
- Ambas as coisas. Meu nome é Diana; estes são meus alunos, conforme telefonei. Vamos cumprimentar o Professor Felício Esma...
- ... ragdo Valverde, Dona Diana, meu nome completo.
- Bom dia, Professor! – gritam em coro, com as mãos na boca, despistando uma risada pela novidade inesperada da situação.
- Bem vindos ao Jardim das Plantas.
Ana Laura, já descontraída, quer saber:
- Professor, ouvimos um papagaio tagarela por aí. Podemos ver o bichinho? Se é mesmo papagaio...
- Papagaio, aqui! Não é possível, Professora. Mas pode ser!... No Brasil, toda reserva florestal, por menor que seja, deve ter papagaio, que também simboliza esta terra...
A resposta do Diretor deixa o grupo encafifado. Entreolham-se, tentando entender a situação.
A Professora intercede:
- Vamos esquecer por enquanto essa história de papagaio. Estamos aqui para conhecer a árvore que deu nome ao nosso País. E para o Professor: - Sabemos que o senhor é botânico, ambientalista e especialista no assunto...
Felício percebe a inquietação geral e tenta acalmar o clima:
- Meu trabalho é uma obrigação e um prazer, aqui entre a Natureza. Muito bem, Garotada! Será que existe mesmo um papagaio aqui? Eu bem que desconfiava! Ouvi também voz de papagaio chamar meu nome por aí, mas ando tão entretido lendo um livro sobre vegetação brasileira que até nem prestei muito atenção... Bem, se existe um papagaio mesmo aí fora, vai ter que aparecer. Quem é vivo sempre aparece, diz o ditado. Aliás, este ambiente não pode ser melhor para um papagaio morar. Vai ver, fugiu dalgum cativeiro. O Jardim ainda não tem papagaio, a ave-símbolo do Brasil. Estamos providenciando um casal para povoar este pedaço... E também outras aves nacionais. Canários e sabiás já temos. Virão também jandaias e uns periquitos, o nosso pequeno e simpático tuim. Numa próxima visita, Vocês verão psitacídeos por todos os lados. Nosso pequeno paraíso vai ficar ainda mais bonito.
Maria Vitória, ainda um tanto confusa, insiste:
- Então pode existir mesmo um papagaio solto aqui?
Sem garantir nem que sim, nem que não, o Professor dá uma boa risada, que, para os alunos, soa com uma confissão. Felizes, se cutucam, com rizinhos de satisfação curiosa.
- Muito bem, vamos deixar esse papagaio falador para o final da história. Até lá, já mostrou a cara, quero dizer, o bico. Qual é mesmo o nome da árvore que vieram conhecer?
- Pau-Brasil! - gritam na maior euforia.
O Diretor ajeita a calça jeens, sempre escorregando para baixo da barriga avantajada. Vira o rosto em direção ao fundo do Jardim, arregaça as mangas da camisa e aponta na direção de uma árvore mais distante, alta e frondosa:
- Aquela bonita e cheia de espinhos é o nosso Pau-Brasil.


Os alunos levantam os olhos em direção da árvore, que se distinguia entre outras.
- Olhem: logo ali, eu vi primeiro – grita a Professora cheia de admiração, mordendo a ponta da caneta.
O Diretor, muito extrovertido, salta para o pátio. Os meninos, agitados, nem esperam pela Professora e descem atrás do Professor Felício, correndo, no rumo de uma estradinha de terra batida, toda riscada pelas rodas das carrocinhas dos zeladores até o pé da grande árvore.
Ainda na varanda, Dona Diana acompanha a felicidade dos alunos, também alegre e emocionada, aspirando o cheiro bom de mato. E elogia:
- Isto é um paraíso, Professor! E bem no perímetro urbano!
- Ou o que resta dele, nesta selva de concreto armado!
Os dois adultos descem ao encontro dos colegiais bem mais na frente, e já com estripulias em volta do tronco majestoso da árvore-símbolo do Brasil, apalpando com cuidado a casca áspera, apanhando folhas caídas para jogar uns nos outros, como se lançam confetes em bailes de Carnaval. Outros abrem os braços e rodopiam feito avião, em torno da planta.
Conheciam um típico exemplar de um Pau-Brasil: frondoso, bem copado, cheio de folhas miúdas e de casca espinhenta; mais grosso do que um poste de luz e mais de dez metros de altura.
O Professor pede atenção:
- Meninos e Meninas, hoje é o Dia da Árvore?
- Não! - respondem uns.
- Dia 5 de junho é o do Meio Ambiente. E o da árvore, qual é mesmo? – insiste.
- 21 de setembro – afirmam, em coro.
A Professora participa:
- Todo dia é dia de árvore, não é, Pessoal?
E depois de uma nova admirada na árvore em frente:
- Que tal agora todos assentados nesses banquinhos em volta do Pau-Brasil? O Professor vai-nos contar uma história interessante. Eu estou morrendo de curiosidade...
- Muito bem. Qual de vocês já tinha visto um pé de Pau-Brasil, assim tão de perto?
Rodrigo levanta um braço:
- Eu só conhecia de fotografia! Assim é muito mais bonito.
Daniel, que tinha estado calado, levanta também um braço:
- Só conhecia de gravura, de um livro de meu pai. Ao vivo, é a primeira vez. Legal!
- Eu também!
- Eu também!
- Eu também!
- Pela importância dessa árvore, meus jovens, ela deve ser plantada nas ruas, praças e jardins das cidades brasileiras.
- É só querer, não é, Professor Felício? – ajuda um no meio do grupo.
- Ainda tem muito Pau-Prasil em nossas matas? - pergunta, outra vez o Daniel.
Sorridente, o Professor apalpa o tronco da árvore e começa a história prometida:
- Está praticamente extinto, e isso tem uma explicação. Desde o descobrimento do Brasil, europeus ambiciosos, doidos para enriquecer, viram na extração dessa madeira um meio de conseguir, rápido e fácil, grandes fortunas.
- E ganharam muita grana? – quis logo saber o Beto, faiscando os olhos.
- Quem já era rico, mais rico ficou. Naquele tempo, cortaram Pau-Brasil por toda extensão das terras que iam de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, ao Cabo de São Roque, em Pernambuco; um arraso! Coloriam a Europa de vermelho com a preciosa árvore. O Governo Brasileiro, hoje, está preocupado em incentivar o replantio de nossa árvore-símbolo. Já é um bom princípio, não acham?
Todos concordam, os braços levantados. A Professora Diana repete os gestos dos meninos.

A VIAGEM DE CABRAL


O Professor Felício prossegue:
- Atrás de novas terras para conseguir riquezas, como as que extraíam no Oriente, os portugueses não perderam tempo, ainda mais depois das descobertas de Cristóvão Colombo, para a Espanha. Assim, cheio de planos, o Almirante Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa com uma frota de treze navios, com destino à Índia, onde as riquezas eram conhecidas e trazidas para a Europa com muitos lucros; viajaria mar afora pelo caminho descoberto por Vasco da Gama.
Contam alguns historiadores que uma calmaria, isto é: uma falta de ventos para soprar nas velas dos navios, obrigou a frota de Cabral a afastar-se da costa africana. Desviou-se tanto que, quarenta e quatro dias depois, com bons ventos, acaba por cruzar o desconhecido e temido Oceano Atlântico e descobre, em vinte e dois de abril de 1500, o nosso País, com a sua floresta rica em Caesalpinia echinata, o Pau-Brasil - as viagens marítimas eram muito perigosas e demoradas, como estão percebendo.
O Professor pára e pergunta:
- Muito bem, Turma, e qual mesmo o nome da elevação de terra que Cabral e seus tripulantes avistaram primeiro?
- O Monte Pascoal – Conceição acerta.
- Ótimo! – e tirando um livrinho do bolso de trás das calças – aqui está cópia da carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Cabral. Marquei o trecho em que descreve esse primeiro grande momento do descobrimento. Quem quer ler para mim?
Antes que alguém responda, Ana Laura levanta um braço:
- Manda o Chico, ele vive esnobando que tem voz de locutor de rádio.
O garoto cai na risada:
- Você é quem deve ler... É a mais tagarela da turma.
- Eu não!... Mas se é para o bem geral de todos...
- Muito bem, Laura. É um trechinho de nada – mostra o Professor.
- Mas só vale em sotaque português!... sugere um.
- Isso eu não sei imitar. Ah!... Vamos lá: ... quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra. Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo: e doutras serras mais baixas ao sul dele: e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o Capitão pôs o nome: o Monte Pascoal, e à terra, a Terra de Vera Cruz.
- Parabéns! E por que Cabral deu esse nome ao monte?
- Por ser época da Páscoa – apressa em dizer, Vitor.
- Professor, essa história de calmaria parece papo furado... – Maria Vitória, a do braço direito numa tipóia, insiste no assunto dos ventos parados.
O Diretor coça a testa, em sinal de pausa para raciocinar:
- Com o avanço dos estudos da História do Brasil, essa lenda das calmarias já está explicada. A frota de Cabral viajou mesmo com intenção definida para tomar posse de umas terras que Portugal sabia existir, embora superficialmente, por alto, por assim dizer. Pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em julho de 1494, entre os reis de Portugal e Espanha, todas as terras descobertas nos limites de 370 léguas, além da Ilha de Santão, no Arquipélago de Cabo Verde, pertenceriam a Portugal.
- Já li, Professor: os ventos fortes é que afastaram a frota de Cabral da rota – completa Matilde.
- A Carta de Pero Vaz de Caminha, aquela para Cabral enviar ao Rei, conta a descoberta com pormenores; desmente essa tese, mesmo com o desaparecimento da nau comandada por Vasco de Ataíde; como também a das calmarias. Caminha informou que durante a viagem não ter havido tempo forte nem contrário.
- Tanto segredo! Por quê?
- O silêncio pode ser de ouro – filosofa o Professor. Talvez o rei D. Manuel I não tinha absoluta certeza de encontrar terras dentro dos limites fixados no Tratado de Tordesilhas. Um fracasso desprestigiaria a memória de D. João II, que tinha assinado o documento, certo de assegurar parte de terras do outro lado do Mundo a Portugal, como fez Cristóvão Colombo para a Espanha. Pode ter sido essa a razão do sigilo. Caso Cabral não descobrisse nada, ninguém ia saber; o destino declarado publicamente da viagem era a distante Índia, onde ia constituir relações comerciais com Calicute e, principalmente, consolidar a presença portuguesa no continente. E quem duvidaria?
- Rei esperto! Não tinha pensado nisso – comenta Jaqueline.
- O segredo é a alma do negócio – cita a conhecida frase o Chico, sempre com um palpite.
Risos gerais.
- O assunto é polêmico. Em 1843, o historiador Francisco Adolfo Varnhagem, após consultar a Carta de Mestre João Faras, nos arquivos da Torre do Tombo, em Portugal, passa a defender a intencionalidade da descoberta do Brasil.
- Professor Felício – levanta a mão Sonia – não é esse Var...nhagem quem descobriu a tumba com os restos mortais de Cabral?
- Sim senhora. Isso se deu em 1839, lá em Santarém, também Portugal. Aí ele botou a boca no mundo acusando Portugal de descaso com o túmulo.
- Epa! – protesta um.
- Professor, existem mais provas de que a Corte Portuguesa sabia de terras por aqui? – pergunta Lucinha.
- Sim. E bem consistentes. Se Cabral não renovou o estoque de água em Cabo Verde, é porque ele tinha segurança que faria escalas em terras ocidentais. Caso contrário, a tripulação morreria de sede antes de chegar à Índia. Tem outra versão que é uma verdadeira bomba, a do historiador português Joaquim Barradas de Carvalho. Ele garante que, em 1498, Duarte Pacheco Pereira esteve no Brasil, numa viagem secreta, a serviço da coroa portuguesa. Em 1505, ele publicou um tratado sobre navegação e geografia da costa africana, com o nome Esmeraldo de Situ Orbis (Sobre os Lugares do Mundo), onde registra pormenores sobre terras na parte ocidental do Atlântico, como a de uma grande terra firme, com muitas ilhas oceânicas e coberta de muito fino brasil. Duarte foi um dos negociadores portugueses no Tratado de Tordesilhas e comandou uma das caravelas de Cabral.
- Que legal, sô! – surpreende Juquinha.
O Professor vai completando a narrativa:
- Outra prova importante. Em fevereiro de 1500, exatamente no dia dois, pouco antes da chegada de Cabral nas praias brasileiras, o espanhol Vicente Yañez Pinzon, navegando com uma flotilha de quatro caravelas, desembarca na Ponta do Mucuripe, atual Estado do Ceará. Dali é que avança para o noroeste, indo descobrir a foz do Rio Amazonas. Impressionado com a vastidão de seu leito, chama o local de Santa Maria del Mar Dulce.

Na volta para o mar, Pinzon, ainda próximo da costa do Pará, cruzou com a expedição de Diogo de Leppe, outro espanhol que navegou pelo Brasil antes de Cabral. O principal testemunho dessa viagem pioneira é a chamada Carta de Juan de La Cosa, cartógrafo e navegador, escrita ainda em 1500.
Os visitantes imaginam a cena, e o Professor Felício conclui:
- O certo, meus Caros: a Terra dos Papagaios, a Terra do Pau de Tingir, a Terra dos Tupis e dos Tapuias, chamada por estes de Pindorama, foi mesmo descoberta por Pedro Álvares Cabral, que encontrou ancoradouro firme, mais com alívio e satisfação, do que com surpresa. Acho que nada vai tirar o pioneirismo de Cabral. Para muitos historiadores, o ano de 1500, como descobrimento do Brasil, se reveste de um caráter mais simbólico e oficial do que real. Não importa!...
Ao pronunciar Terra dos Papagaios os estudantes remexem nos banquinhos. O Professor percebe a inquietação, e tranqüiliza os ouvintes:
- Não me esqueci da história do papagaio desconhecido. Vocês não perdem por esperar mais um pouquinho!
Risos confiantes. Ângela tira uma dúvida:
- Verdade que o nome do Rio Amazonas foi uma homenagem a uma tribo de mulheres guerreiras, que vivia na região?
- Conta a História que o navegador espanhol Francisco Orellana foi quem viajou pela primeira vez pelo enorme rio. No diário de bordo, ele relata ter encontrado índias guerreiras montadas a cavalo, como na lenda das amazonas. Pelo sim, pelo não, o fato determinou a escolha do nome para o maior rio do Planeta.
O Professor Felício volta a falar de Cabral:
- Ele era inteligente, ambicioso, profundo conhecedor de Geografia, Ciências e da arte de navegação. Tinha muito prestígio em Portugal, tanto que na sua despedida, uma multidão tomou conta do cais; e pelo Rio Tejo, dezenas de barcos, apinhados de gente, festejaram em torno de seus navios até a frota desaparecer no horizonte.
Tiago se ajeita numa pedra em que estava sentado, e pergunta:
- Aposto que Cabral também queria buscar Pau-Brasil?
- Não. A portentosa armada de Cabral, em cujas velas dos navios realçava o enorme símbolo da cruz da Ordem de Cristo, veio sondar a região. Confirmar terras, claro. Depois, voltaria à Índia para assumir de vez o domínio português naquele território; prender ao Reino Lusitano os samorins e rajás indianos pelos laços do comércio e da aliança, principalmente Glafer, o Samorim de Calicute.
- Pelo bem ou pela força, não é, Professor? – caçoa Ana Laura.
Chico levanta o braço para esclarecer uma dúvida:
- Uai! Então Pindorama foi o primeiro nome do Brasil?
- De certa forma, sim.
- Que significa Pindorama?
- Em Tupi, quer dizer Terra das Palmeiras.


O PRIMEIRO CONTATO

Entusiasmado com a motivação nos meninos, o Professor continua:
- Na quinta-feira, dia 23, assim que amanheceu, a esquadra cabralina avança um pouco mais, ancorando-se em frente à desembocadura de um pequeno rio, o Caí, ao sul do Monte Pascoal, aproximadamente meia légua (3 km) da costa.
Dos navios, a tripulação curiosa, avista um grupo de homens que andava pela praia. Nicolau Coelho, marujo que participou da viagem de Vasco da Gama à Índia, foi o primeiro a desembarcar para tentar um contato com os nativos.
- E o coitado foi sozinho? – se preocupa Ana Laura.
- Não, nem pensar... Levou o companheiro Gaspar da Gama, o judeu da Índia, conhecedor de vários dialetos hindus da costa de Malabar, um padre, um grumete da Guiné e um escravo da Angola.
E depois de um suspiro:
- Tudo era desconhecido até então. Ana Laura, venha ler o trecho em que a carta de Caminha registra este encontro histórico.
A menina, vaidosa:
- Sim, Professor. Parece que virei a narradora oficial do Jardim Botânico! Muito bem, me dá o livro.
- Não vale gaguejar – faz chacota a Maria Vitória.
- Eu não sou gaga. Muito bem, vamos lá: de acordo com Caminha eram poucos índios, cerca de 18 ou 20, pardos, todos nus, trazendo nas mãos arcos e suas setas, aguardavam na praia os estrangeiros com aquelas roupas mais espalhafatosas, jamais vistas por eles. Nicolau, por gestos, fez sinal para que pousassem os arcos. E eles consentiram. Dóceis, receptivos, tornaram fácil o primeiro encontro com o branco. Nicolau, para iniciar as relações diplomáticas com os índios, ofereceu-lhes o seu barrete vermelho, uma carapuça de linho e um chapéu preto. Em troca, os índios retribuíram com uns cocares de penas compridas, pintadas de vermelho, e colares de continhas brancas; o Padre dava-lhes a bênção, fazendo no ar o sinal-da-cruz, o que os índios, naturalmente, nada entendiam.
O Professor dá um tapinha de leve no ombro da estudante, agradecendo. E continua:
- Quando Nicolau regressou ao navio, todo satisfeito, Cabral esperava aflito no convés: - Vamos, Nicolau, (o Professor Felício acentua o sotaque português), diga logo o que viu, o que conversou com a gente dessa terra!
O marujo, o rosto avermelhado pelo sol forte da praia, o dólmã, um tipo de casaco militar, desabotoado no peito, responde ainda meio surpreso:
- Pura sorte!... Mal sabe o Capitão o que nossos olhos viram?
- Não me faça suspense, ó Nicolau. Sem trocadilhos, conte logo.
Nicolau, piscando muito, exclama:
- Todos nus, Capitão! Peladinhos! Peladinhos! Tanto homens como mulheres. Gente parda, de bons narizes e bons corpos. Ih!... Nusinhos, como Adão e Eva no Paraíso! Pobrezitos, de uma ignorância espantosa! Nunca dos nuncas meus olhos viram coisa igual. Mas, são muito agradáveis.
- Que nada vestem, isso lá eu sei, pá!... Afinal para que servem minhas lunetas! Diga que conversa teve com eles, homem de Deus? Não me minta pela gorja! – Cabral, impaciente, alisava com a mão direita a barba densa, arrebitando um pouco o dedo mindinho, onde exibia uma safira indiana, presa num grosso anel, reluzente ao sol.
Os olhos do Marinheiro Nicolau brilhavam como a safira do dedo do Capitão-Mor. E procura explicar melhor o encontro com os nativos:
- Ora, pois, pois, Almirante. Ih! Ih! Tentar, eu tentei falar no Português mais compreensível que pude. E nada. Não entendiam bulhufas. Também nada compreendemos do que eles falaram... Uma língua muito estranha! Entendemo-nos por meio de gestos. Capitão, isso garanto: aqueles lá não são negros, nem mouros, nem hindus.
- Arra! Isso eu também percebi, ora, Nicolau – bufa Cabral.
Cabral começa então a passear de um lado para o outro no convés do navio, absorto em pensamentos. Depois, torce o nariz e pergunta:
- Nicolau, diga-me mais: deu para saber se professam alguma religião; se temem ao nosso Deus?
Mais uma vez, com um sorriso amarelado, Nicolau Coelho se esquiva:
- Não, Capitão. Isso lá não me foi possível perguntar. Me perdoe... Nem lembrei.
Cabral andava cada vez mais ansioso pelo convés, com passadas tão rijas que tremem o soalho da embarcação. Pára e grita por um marinheiro, pede um jarro de água fresquinha, trazida da terra pelos companheiros de Nicolau, e bebe quase tudo num gole só. O calor tropical batia intenso; os portugueses não estavam acostumados com um clima assim.
- Jesus! De que adianta lembrar, Você só fala Português, Nicolau! Não ia entender nada mesmo! Os nativos terão pelo menos alma?
O marinheiro, num sorriso servil:
- Isso lá não foi possível observar, meu Capitão. Ih!... Se aqueles têm alma como nós, não mostraram. O padre pode responder com segurança. Assim que aterrarmos todos, vamos esmiuçar a vida dessa gente. Saberemos tintim-por-tintim o que se passa com eles. São pacíficos e curiosos, isso eu garanto, e facilitarão tudo, com certeza.
Após refletir, Cabral faz um sim com a cabeça e aplica várias batidinhas nas costas de Nicolau, aliás, confuso com tanta pergunta. Cabral, compreensivo:
- Pileca!... Está bem! Está bem, Companheiro! Todos ficam liberados para desembarcar, tão logo decida o dia e a hora. Um porém: não podemos esquecer que estamos aqui nesse fim do mundo para trabalhar; nada de excessos. Dos índios, primeiramente, cuidarão os religiosos. Encontre o Escrivão Pero Vaz de Caminha e relate tudo o que viu.
Terminada a conversa com o Marinheiro Nicolau, o Capitão-Mor, os olhos pregados no Continente, recosta-se num dos mastros do convés; emocionado pelo espetáculo de cores e de luz de um pôr-do-sol inteiramente novo.
O Professor continua:
- Vem a noite, Cabral ainda permanece na proa do navio, calado, namorando no infinito uma estrelinha solitária, que brilhava e tremia, muito viva, destacando-se no firmamento. E certamente pensando em Isabel de Castro!...
- Isabel de Castro! Quem era? - surpreende-se Isabela.
- A sua namorada. Muito ansiosa, esperava por ele em Portugal.
- Eles se casaram?
- Em 1503. Tiveram vários filhos e viveram felizes para sempre.
- Legal!
- Só mais tarde Cabral deixa o convés; dá algumas ordens à tripulação e entra na cabine para repousar. Junto à imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, reza uma oração: Ó bondosa Protetora dos filhos de nossa terra, nunca desprezes as preces, daquele que em Ti, sempre espera.
Apaga o candeeiro e logo adormece; feliz da vida, encantado.
Maria Vitória quebra o silêncio dos ouvintes e tira uma dúvida:
- Índios! Por que chamaram nossos selvagens de índios? Para mim, índio deveria ser gente da Índia.
- Você tem inteira razão, minha querida! Esse foi o nome que Cristóvão Colombo deu aos nativos, ao descobrir o Continente Americano, em 1492. Colombo morreu acreditando que tivesse chegado em terras indianas; por isso, chamava de índios as criaturas que encontrou nas Antilhas.



ÍNDIOS VISITAM CABRAL

O Professor faz uma pequena pausa e continua:
- Naquela noite caiu uma forte tempestade na região, tão forte que, por pouco não causou grandes prejuízos à frota de Cabral. Como a sexta-feira amanheceu cheia de sol, o Conselho de Pilotos, sugeriu ao Capitão levantar as âncoras e fazer velas, em busca de algum lugar mais abrigado. As embarcações pequenas foram na frente, rumo ao norte, à procura de um ancoradouro mais seguro. Após bordejarem umas dez léguas, já à tardinha, atingem a foz do rio Mutari e descobrem um recife com um excelente porto, ampla entrada, com capacidade para abrigar mais de duzentas caravelas.
Cabral, fundeado com sua nau Capitânia mais ao sul do recife, manda o piloto Afonso Lopes, homem vivo e destro, sondar o porto. Ele toma uma almadia e desce até a praia. Mais tarde, à noitinha, volta trazendo dois indígenas, que foram muito bem recebidos por Cabral e pela tripulação. Entusiasmados com tudo que viam, os nativos logo ficaram à vontade sem se importar com a curiosidade dos portugueses.
Caminha, surpreso, pega a pena e assim descreve os gentios: ... a feição deles é serem pardos - maneira de avermelhados - de bons rostos e bem feitos; andam sem nenhuma cobertura; trazem o beiço de baixo furado e, metido por ele, cenhos brancos de ossos, agudos na ponta como furador. Os cabelos são corredios, e tosquiados de boa grandura.
- Almadia! Quê isso, Professor? – pergunta curioso Igor.
- Almadia é uma embarcação muito comprida e estreita. Vem do árabe: al-ma’adiã. Muito bem, continuando: - Cabral pede para mostrar aos nativos um papagaio, eles reconhecem. Depois, uma ovelha, eles nem ligam. Uma galinha, eles ficam assustados e com medo. Depois, Cabral manda servir aos índios, peixe cozido, biscoitos, arrufadas, mel e uma taça de vinho. Rejeitam tudo. Um deles aponta o dedo para o colar de ouro de Cabral e, depois para a praia, querendo dizer que ali havia ouro...
Caminha mata a charada:
- Isso nós assim pensamos, por assim o desejamos.
O Professor deixa de imitar os portugueses e arregala bem os olhos, dizendo:
- Aí que a tripulação ficou mais interessada nos jovens guerreiros!
O olhar do Chico chega a brilhar:
- Os índios mostraram o caminho da mina?
- Os navegantes bem que tentaram tirar deles mais informações sobre metais preciosos. Deram a eles camisas novas, carapuças, dois rosários de contas brancas e alguns guizos. Mas de nada valeu o esforço.
Na manhã seguinte, sábado, Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias desembarcam com os dois índios. Ficaram tão contentes e amigos dos portugueses que facilitaram o entrosamento deles com sua tribo.


A EMOÇÃO DO DESEMBARQUE DE CABRAL

- Conforme determinado, meus jovens, dia 26 de abril, domingo da Páscoa, Frei Henrique Soares, de Coimbra, o principal dos padres a bordo, celebra a primeira missa num altar armado nas areias de um país ainda para eles sem nome. Na segunda-feira, grumetes cuidam de abastecer os navios de água fresca e lenha, enquanto outros iniciam a preparação de uma pesada cruz de madeira. No dia 29, Sancho de Tovar, o imediato de Cabral, comanda a procura de alimentos. No dia 30 os marinheiros continuam levando água, lenha e alimentos para as embarcações, ajudados pelos nativos, que se fizeram amigos dos portugueses.
Na sexta-feira, dia 1º de maio, Cabral manda erguer a cruz, adornada com o brasão do rei de Portugal, como sinal de posse e domínio. Ao pé dela, Frei Henrique e seus freis, num altar rústico construído na véspera, celebram a segunda missa na nova terra.
O Capitão-Mor permanece o tempo todo ao lado do altar, todo garboso, vestido de gala: um fardamento azul, com debruns dourados, espetado de medalhas, capacete com penachos azul claro e amarelo, espadachim na cintura, botas longas de couro cru e com um colar de ouro muito grande no pescoço.
Depois da cerimônia, cercado pelos seus Capitães, Cabral, emocionado com os acontecimentos, passeia pelas praias do ilhéu da Coroa Vermelha, saudando todo mundo, isto é, os marujos que festejavam a posse e os nativos, curiosos, reunidos na beira do mar, já bastante familiarizados com os portugueses.
Pedro Álvares Cabral fica impressionado com a densa floresta logo na sua frente: árvores colossais, tão grandes de alcançar as nuvens. E muito mais alegre ao ver a imensa quantidade de Pau-Brasil, destacando-se na mata, ao longo da orla marítima.
- Os Tupiniquins receberam tão bem assim os portugueses? – Matilde quer saber, quase junto com outros meninos.
- Com festa. Mais ou menos assim: os mais jovens cercam Cabral por todos os lados, deslumbrados com sua vistosa vestimenta. Mães índias, cheias de curiosidade, vão e vêm com seus filhos escanchados na cintura; riem de tudo, com pureza. Os mais velhos, ainda desconfiados com a novidade, permanecem meio afastados, observando a chegada dos estrangeiros. E os meninos, estes mais alegres com a movimentação e, já bem entrosados com os brancos, promovem macaquices na areia da praia, tentando chamar a atenção dos adultos.
- E Cabral foi mesmo legal com os índios? – pergunta Rafael.
- Adorou o bom entrosamento entre os gentios e a sua tripulação. Pedrálvares cumpria as recomendações de D. Munuel I: fazer amizade com os povos, estabelecer com eles relações de comércio e, se for o caso, covertê-los à fé cristã.
Querendo agradar, procura logo um jeito de retribuir a recepção e pede ao ex-Bobo da Corte, o Marinheiro José Esperto, também conhecido pela alcunha de Zé Bom de Pé, para fazer uma apresentação, isto é, dar um show, e divertir ainda mais aquela gente. Aí, o moço, que de bobo não tinha nada, esperto até no nome, abre uma roda no meio das pessoas e começa a palhaçada: levanta-se sobre as pernas arqueadas e se lança em uma série de figuras acrobáticas, cada uma mais engraçada do que a outra, numa flexibilidade física e cênica fenomenal. Salta de frente, salta de costas, gira no ar. Com as mãos no chão, corre de pernas para cima. Dá cambotas. Saltos mortais. Faz careta. Apronta. Depois de tanta estripulia, o Marinheiro, ainda consegue fôlego para pegar uma gaita de foles, tocar músicas alegres e dançar; inspirado na ginga da capoeira africana, introduzia até elementos de angola na coreografia. Um espetáculo e tanto, onde só faltou mesmo o berimbau.
A Professora ressalta:
- Esse João Esperto devia, lógico, como um bom Bobo-da-Corte, parecer muito engraçado mesmo. Tão ágil e espirituoso que rapidamente conquistou a atenção e admiração dos silvícolas e até dos marinheiros, acostumados com suas macaqueações.
- Os índios, também caíram na farra? – mostra-se curioso, o Mateus.
- Aposto que sim! - adianta a menina Rita de Cássia, com ar de sabichona.
- E como!... Os índios assistiam tudo, hipnotizados. Observavam o espetáculo com um encantamento que crescia à medida que o Zé Bom de Pé encadeava cambalhota após cambalhota. Cada um mais contagiado do que o outro, dançava a seu modo ou arremedava gestos dos brancos.
E imitando Cabral, Felício Esmaragdo segue com a narrativa:
- Santos Anjos!... Nessa colônia dinheiro dá em árvores, ou melhor, no sulco bendito, colorido e afortunado dos seus troncos. Sua Majestade, D. Manuel I, precisa ser muito bem informado de tanta riqueza, ora, pois-pois!
Os meninos começam a rir com a remedação lingüística do sotaque português, representado pelo Professor, já um artista para os ouvintes, agora bem mais descontraídos:
- O Jovem Cabral, Alcaide-Mor de Azurara e Senhor de Belmonte, assim também chamado, vibra com tudo. Logo despacha importante ordem a Caminha, escrivão que entrou para nossa História por causa de uma carta: - Escrivão Pero Vaz de Caminha, cesse tudo que está aí a descrever dessa festa e prepare uma descrição especial, em carta ao nosso rei; diz que tudo anda certo no achamento das novas terras e que, nessa região santificada pela fantástica natureza, existe em abundância a planta que dará muita riqueza ao Reino de Portugal. É o Pau-Brasil, Pero Vaz, é a madeira de afortunadas qualidades. Estamos feitos!
Cabral convoca alguns ajudantes, e impõe:
- Tragam os machados mais afiados e derrubem quantas boas árvores de Pau-Brasil puderem. Quero todas viçosas e sadias, dignas de um monarca português. Enviarei tudo, já, já, a Lisboa! A Europa mais uma vez cairá aos pés dos domínios lusitanos, ora pois!
Risos gerais.
Felício Esmaragdo Valverde aprecia a própria versatilidade e dá outra de artista, arremedando de novo o Almirante Português, no sotaque e nos gestos. Com a mão direita, assim, na altura do peito, posudo, importante, fala mais grosso e ordena:
- Capitão Gaspar de Lemos, tão logo o Escrivão Caminha termine a Carta ao rei, prepare sua nau e faça velas ao mar; retorne a Portugal com boa quantidade de troncos de Pau-Brasil; D. Manuel vai adorar receber nossa encomenda. Que os ventos lhe sejam constantes!
O Professor faz uma pausa e continua:
- Aí, meus jovens, ruídos estranhos dentro da floresta chamam a atenção de Cabral e de seus comandados; barulhos muito esquisitos. Admirados, reparam ao longo daquele imenso tapete verde. Cabral leva o dedo indicador aos lábios e pára para observar melhor e escutar uns guaribas, uns macacos, trançando de galho em galho, no alto das árvores, no maior alvoroço. Terra mais estranha! Pensou, com toda certeza.
Neusa ergue a mão:
- Pelo entusiasmo de Cabral, o Pau-Brasil só existia aqui!...
- Que nada! Documentos registram que uma espécie semelhante, a Casealpinia sappan, nativa da Sumatra, já era industrializada na Ásia há muito tempo, desde o século XI. O produto chegava a preço de ouro ao mercado europeu, vindo principalmente do Egito e da Turquia, através dos comerciantes venezianos e genoveses, habitantes de cidades hoje da Itália, que eram os melhores navegadores do mar Mediterrâneo. Cabral tanto conhecia a famosa e procurada Madeira de Tingir (Caesalpinia echinata, este o seu nome científico de uma das espécies encontradas no Brasil), que mal põe as botas na areia da praia já vai de olho nas árvores de Pau-Brasil, logo na sua frente. Imaginem Vocês como ficaram os olhos cobiçosos do Capitão-Mor com o achado...
Marco Antônio aproveita a deixa e brinca:
- Cabral não quis mandar também umas belas moças índias para Portugal?
- Menino esperto! Cabral não achou prudente enviar índios entre as amostras da nova terra. Mandou apenas arcos, flechas, enfeites, papagaios de várias cores e muitas toras da madeira vermelha, o cobiçado pau-de-tinta. Quanto mais nativo ficasse para ajudar na derrubada da preciosidade, melhor, maior o lucro, deve ter concluído fácil o Capitão.
César, até então calado, indaga:
- Quantos dias Cabral ficou no Brasil?
- Dez dias, meu Caro. Tempo suficiente para tomar posse do território achado, descoberto, como queira; recolher amostras da nova terra, mandar rezar duas missas, como de costume e impressionar os índios, já caindo de amores pelas gentilezas dos chegantes.
- Pelo menos por enquanto!... - critica Ana Laura, cada vez mais ativa.
- Os índios levam a pior, desde aquele dia... – interfere a Professora. - Os europeus chegaram como os legítimos donos da terra, sem respeitar os direitos dos povos que viviam aqui há séculos.
- A Professora tem razão. Mas... Só para encerrar esse capítulo: no sábado, pela manhã, a frota de Cabral parte para as Índias. E a nau de Gonçalo, abarrotada de Pau-Brasil, volta para Portugal.
- Professor, – pergunta Tijuca balançando o braço – a frota de Cabral tinha mesmo os melhores navios daquele tempo?
- O que havia de mais moderno, ou melhor, a síntese da mais alta tecnologia existente na época. As caravelas eram consideradas as embarcações mais sofisticadas disponíveis no mercado; o ônibus espacial da era dos descobrimentos.

A FESTA DO PAU-BRASIL

- Dias mais tarde, – continua o Professor Felício - D. Manuel I recebe com entusiasmo o mensageiro de Cabral. Depois de ler todas as cartas dirigidas a ele, fica impressionado com a riqueza de detalhes do relato de Pero Vaz de Caminha. Faz o sinal-da-cruz e beija os dedos cruzados, agradecido: pareceu que Nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse terra tão generosa em tão preciosa planta de tinta!...
O rei enchia os olhos diante dos toros de Pau-Brasil, e também dos papagaios tagarelas. Na verdade, não esperava notícias tão agradáveis da nova colônia. Juntava gente no Palácio para escutar, imaginando todos mundos e fundos com a minuciosa descrição da terra encantada.
- Babava, isso sim, com as novidades - completa Ana Laura.
- E as outras cartas? - Dinha questiona.
- Também importantes, é claro. Tinha carta até do próprio Cabral e de outros tripulantes das caravelas para D. Manuel I, como também para as suas famílias, amigos, namoradas. Entre essas cartas, a do Mestre João, que descrevia a constelação do Cruzeiro do Sul, muito bonita e jamais vista por olhos europeus.
Mas a Carta de Pero Vaz de Caminha destacou-se das demais, lógico, pelas minúcias bem relatadas durante a viagem e da descrição da nova terra, num depoimento de entusiasmo e alegria, de um escrivão impressionado com a beleza do lugar e com a felicidade dos nativos, sempre com um perpétuo sorriso em tudo. Foi através dela que a Europa ficou sabendo que tinha portos seguros, gentio amigável e ares balsâmicos. E, na sua vastidão, coberta pela esbraseada madeira. Através da Carta de Caminha, ainda hoje é possível reconstituir com pormenores os dias inaugurais do Brasil, o nascimento de nossa Pátria.
- Um bom historiador, esse Caminha, heim Professora!?
- Muito bom mesmo, Márcia. Boa observação. Quando voltarmos, vamos ler mais trechos da Carta. Muito curiosa e importante.
Todos:
- Claro, Dona Diana!!!
Um fala meio escondido:
- Convida o Professor para ir escutar a Carta também...
- E lá em nossa sala de aula...
- Assentadinho bem na frente...
- E bem comportado...
- E sem dar muito palpite feito o Chico aí...
- Só o coitado do Chico?
- Evidente, Meninos! Já está convidado, em nome de toda a turma, Professor Esma...
- ... ragdo Valverde, Dona Diana. Vou, sim, e com maior prazer. E me comporto de acordo... Marquem o dia e a hora. Aproveito e levo um personagem muito importante que ainda vão conhecer e admirar... Surpresa! Também...
- Professor, essas cartas estão guardadas em algum museu?
- A grande maioria, Vitória, foi queimada num incêndio em Lisboa, em 1580. As que escaparam do fogo, foram engolidas pelo terremoto de 1755. Azar e tanto, né! Restaram apenas a de Caminha, do Mestre João e a Relação do Piloto Anônimo.
Risos parcelados. O professor continua a história:
- O poder, então, sobe à cabeça do rei D. Manuel I. Tanto que anuncia aos outros reinos, com muita propaganda, a nova descoberta de Portugal. Para o rei da Espanha escrevera carta especial, considerando-se senhor da Guiné e da conquista, da navegação e do comércio da Etiópia, Arábia, Persia e Índia... Senhor da Terra de Vera Cruz, onde existe a maior concentração de pau-de-tinta do Mundo.
Lisboa transforma-se num atrativo centro de negócios dalém-mar, tornando-se uma das cidades mais ricas da Europa e o mais ativo mercado de Pau-Brasil, escravos e especiarias do Mundo. Imediatamente foi invadida por banqueiros alemães, liderados pela família Fugger, comerciantes italianos e agentes judeus que especulavam com especiarias e Pau-Brasil.
D. Manuel I manda instalar no Salão Imperial uma grande exposição e exibe com destaque as peças de Pau-Brasil e outras amostras da Terra de Vera Cruz. Tinha papagaio até falando Português misturado com língua dos índios... Um grande acontecimento em Lisboa, prestigiado pelos maiores comerciantes e industriais ligados ao mercado têxtil da Europa.
Renata, interessada:
- E aí, Professor, quando apareceu pela primeira vez o nome do Brasil nos mapas?
- Em 1501, no mapa de Cantino, logo após a viagem de Américo Vespúcio, que dá o nome de rio Brasil, o que fica próximo de Porto Seguro.
O Professor, após uma pequena pausa:
- Portugal vivia o Século Áureo. Vasco da Gama descobrira o itinerário das especiarias e Pedro Álvares Cabral o país do Pau-Brasil... Lisboa tornava-se a Senhora dos Mares.


O PAÍS DAS MARAVILHAS


E prossegue Felício Esmaragdo Valverde:
- A madeira vermelha, meus jovens, produz uma sensação ambiciosa de poder na Corte Portuguesa, naqueles anos dos mais surpreendentes descobrimentos. Assim, foi logo decretada sua exploração comercial. Em seguida, D. Manuel I convoca Gaspar de Lemos para fazer velas, como diziam, até a nova colônia, com o objetivo de verificar as verdadeiras riquezas do lugar; realizar um levantamento minucioso da costa e informar a quantidade presumida de Pau-Brasil, existente.
Nisso, o Diretor olha para a Professora, dando sinal de que queria descansar um pouco, e pede:
- Dona Diana, explique aos seus alunos a missão de Gaspar de Lemos, já que este assunto é também de sua área.
- Com prazer, Professor,... Mas fique sabendo que não tenho nenhum jeito de representar, como Você faz, imitando sotaque português, dramatizando como poucos a história. Então, vamos lá, Meninos: Partindo de Lisboa, em maio de 1501, com três navios, noventa dias depois, a expedição exploratória de Gaspar de Lemos ancora na costa do atual Estado do Rio Grande do Norte, onde começa o trabalho de identificar, um a um, os acidentes geográficos do litoral da então chamada Terra de Vera Cruz, que, depois, como devem saber Vocês todos, vai receber novo nome por causa da sua madeira principal.
Valdemar, braço levantado, pede logo mais esclarecimentos:
- Essa história de identificar acidentes geográficos...
- Acidentes geográficos! Ora, Valdemar, Você se lembra muito bem quando estudamos essa matéria na História do Brasil e também em Geografia! Tudo bem, não temos obrigação de lembrar tudo. Podem perguntar à vontade, não é Professor Felício Esma...
- ... ragdo Valverde... Claro que sim, Diana. Bobo quem não pergunta nada.
Rapidinho Cidinha pega a pergunta no ar e entra no assunto dos acidentes geográficos:
- Também vou ajudar, com licença, Dona Diana. Li sobre isso, é muito interessante. Gaspar de Lemos levou com ele especialistas em várias áreas da Ciência. Entre eles, o italiano Américo Vespúcio, cosmógrafo super experiente. Aparecia um morro, um lugar para estacionar um navio, um... Ancoradouro, uma saída de rio para o mar... Uma... Foz de rio, o acidente geográfico acabava batizado com o nome do Santo comemorado naquele dia. Deviam levar também no navio uma folhinha, um calendário, tipo Folhinha de Mariana... Cada dia tem um santo para comemorar.
- Olha aí, Chico: a Cida ganha de Você e da tipóia da Maria Vitória! – graceja o colega Douglas.
- Muito bem. Quais foram as nomeações feitas por Gaspar de Lemos?
Chico, enciumado, sai na frente:
- Essa eu sei. Decorei todos. Decorar é comigo mesmo... O primeiro: Cabo de São Roque; depois o de Santo Agostinho; os rios... Espere aí... Ah: São Miguel e São Francisco, até cá em baixo, o Porto de São Vicente. Todos. É duro saber de cor e salteado...
O Professor dá um tapinha no ombro do Chico, e aperta sua mão:
- Menino supimpa, sô! E a Cidinha, a grande sabichona! Vou ter mais cuidado com esta sua turma, Professora!
Uma voz de menina não identificada:
- Chico Decoreba!
- Cidinha é fogo!
A Professora Diana retoma o fio da meada de sua narrativa:
- Depois da expedição de Gaspar de Lemos, não é Professor Felício... ?
- Esmaragdo Valverde ...
- ... A notícia da fartura de madeira de tinta no Brasil se espalha rapidamente pela Europa, despertando a cobiça de contrabandistas de todo Mundo. A Coroa Portuguesa se apressa em determinar o monopólio real de sua extração - reserva estatal que permaneceu até o Século XIX, quando os corantes artificiais desbancaram os naturais.
A Professora faz uma pausa e segue:
- Aí... começa a exploração sistemática do Novo Mundo lusitano, principalmente pelos piratas. Navios saem daqui abarrotados de toras de Pau-Brasil, de animais exóticos, como sagüis e papagaios, peles de animal, redes de algodão - era elegante uma dama européia carregar nos braços um macaquinho tupiniquim, amarrado pelo pescoço, por uma corrente de ouro.
- Que pesadelo, meu Deus!... Era o homem branco, civilizado, deixando a marca da maldade em nosso Brasil! - critica Vicentina.

O ARRENDAMENTO


O Professor retoma a narração da história:
- D. Manuel I, empenhado em explorar cada vez mais as terras asiáticas, bem mais lucrativas, vai perdendo o interesse em colonizar de imediato a nova colônia. Então, o rei teve uma idéia: como a corte não podia se dedicar de corpo e alma à Terra Brasilis, autorizaria alguém para fazer isso. Resolve arrendar nosso país.
- Mas um rei decidia tudo sozinho? – pergunta Maria Vitória, sem levantar o braço com tipóia.
- A palavra de rei naquela época, minha querida, era absoluta. Todos, aliás, chamados reis absolutistas com poderes extremos, além de serem considerados os representantes de Deus na Terra - um rei sancionava e executava as leis que ele próprio fazia. Luis XIV, ao assumir o reino da França, no final do Século XVII, declarou: - O Estado sou eu!
- Prepotente!... – debocha Jaqueline.
E com sotaque português, o Professor imita D. Manuel I:
- Caros Ministros, tomei, em meu nome e em nome de Deus, a decisão de arrendar a Terra de Santa Cruz, assim como fez D. Afonso V, que, em 1469, arrendou a Fernão Gomes o comércio da Guiné. Certo deu lá, certo dará nas terras dos brasis. A razão é muito simples: no momento investir nas Índias é mais lucrativo aos cofres portugueses, ora, pois, pois.
Risinhos gerais.
- Como ninguém se manifestasse contrário à decisão irrevogável, o rei ordena: - Que a ata dessa reunião seja lavrada e que o Edital do Arrendamento esteja redigido imediatamente. Quero-o afixado nas portas das principais igrejas de Portugal, como também deverá ser enviado para todos os jornais que circulam em território europeu.
O Professor provoca, com um ligeiro raspar de garganta, uma pausa. Dona Diana observa:
- Podemos dizer que essa foi, então, a primeira experiência em privatizar um monopólio no Brasil. Vejam que, durante muito tempo o Brasil teve um dono. Muito bem, Professor Felício, vá em frente que a turma está gostando. Até os passarinhos escutam lá nos galhos.
Risinhos e cutucadas.
- Boa lembrança, minha cara. Ganhou a concessão um cristão novo, isto é: um judeu convertido à fé cristã, o comerciante espanhol Fernão de Noronha, também conhecido por Fernão de Loronha, representante de empresários alemães de origem judaica, o grupo dos Fugger, que detinha o monopólio do cobre na Europa. O contrato permitia aos arrendatários explorar por três anos o Pau-Brasil em novecentas léguas, mais ou menos cinco mil quilômetros na costa brasileira. Em troca, teriam que estabelecer feitorias e defender a Colônia contra a cobiça de estrangeiros, além de pagar um quinto, isto é, vinte por cento, dos lucros à Coroa. Esse arrendamento foi prorrogado três vezes.
Chico ergue-se, outra vez:
- Professor Felício Valverde...
- Você pulou o Esmaragdo, Chico...
- O que é mesmo arrendamento?
- É o mesmo que alugar, por exemplo, uma fazenda ou um sítio, onde o inquilino pode usar a propriedade como quiser, explorando tudo para ganhar dinheiro.
Marcelo aproveita para tirar uma dúvida:
- Professor Valverde... Não, não vou pronunciar seu nome todo... Pode ficar sossegado... O que era mesmo uma feitoria?
- Um local fortificado para armazenamento de toros de Pau-Brasil, já prontos para o embarque. Entre várias feitorias implantadas nas costas brasileiras, uma das mais importantes foi a de Itamaracá, fundada em 1526, onde hoje é o Estado de Pernambuco.
Maria Vitória protesta, com o braço levantado, o sem tipóia:
- Na verdade, foi a primeira iniciativa para devastar nossas florestas, para degradar o meio ambiente brasileiro. Céus!... Sabemos que Pedro Álvares Cabral encontrou aqui uma floresta vasta e rica, toda arranjada, cada árvore no seu lugar; porque Deus assim queria a nossa Pátria!...
- Parabéns, pela observação, minha querida.
- Vender Pau-Brasil dava o mesmo lucro que vender especiarias da Índia? – pergunta Geni Maria.
- Não. Veja Você: um navio carregado de Pau-Brasil valia sete vezes menos do que um navio carregado de especiarias da Índia, mesmo assim capaz de apurar mais de trezentos por cento de lucro.
- Puxa! E quanto o tal Fernão de Noronha pagava pelo aluguel do Brasil?
- Existem controvérsias... É Marilda mesmo seu nome!?... Já estou conhecendo o nome de Vocês; ótimo! Historiadores afirmam que havia parceria, entre os arrendatários e a Coroa Portuguesa, também nos lucros. Outros garantem que o preço do arrendamento era fixo, isto é, mil Ducados por ano. Deveria ser um ótimo negócio, pois o contrato com o grupo de Fernão de Noronha durou até 1513, quando o direito de arrendamento foi arrematado por Jorge Luís Bixorda ...
- Poxa, que nome mais esquisito!...
- E em 1516, Nuno Manuel ganhou a concorrência.
- O quê!... Ducado! – exclama Jussara, sem levantar nenhum braço.
- Ducado era uma moeda de ouro ou prata, cunhada pela primeira vez em Veneza, em 1284. Na época, também utilizada em Portugal.
- Seria quanto no dinheiro do Brasil, hoje?
- Cálculo difícil. Tanto tempo passou de lá para cá... O melhor é sugerir à Professora Diana que combine com Vocês uma pesquisa sobre essa moeda, o Ducado. Senão nosso bate-papo vai até o escurecer. Como Fernão de Noronha era um comerciante de bom faro para negócios, deve ter aumentado em muito a fortuna dos empresários que representava, explorando o Pau-Brasil.
- Também o trabalho era só mandar índio cortar Pau-Brasil, encher o navio com as toras e levar para vender, não é? – critica Matilde.
- Havia, sim, outros problemas, mas, na essência, era mais ou menos assim mesmo. Para essas viagens, admitia-se gente de toda espécie, principalmente prisioneiros que aceitavam viajar em troca da liberdade. Eram muito perigosas, aquelas viagens!
Laura procura tirar outra dúvida:
- O arquipélago de Fernando de Noronha foi descoberto por Fernão de Noronha?
- Não. Por Gonçalo Coelho, que trabalhava para ele, em 1503. No mesmo ano, Gonçalo também fundou uma feitoria na Bahia e outra em Cabo Frio.
- Foi esse Comandante, para puxar o saco do patrão, que sugeriu mudar o nome do arquipélago de São João para Fernando de Noronha? – brinca Robson.
- Não, não foi. Mais tarde, o arquipélago foi dado de presente pela Corte Portuguesa a Fernão de Noronha. Daí, mudar o nome foi só um capricho do dono. Mas além de São João, também se chamou Quaresma e São Lourenço. Darei um pirulito de mel de abelha a quem adivinhar por que Gonçalo Coelho batizou o arquipélago com o nome de São João?
Rafael arrisca um palpite:
- Aposto que era Dia de São João!
- Muito bem, aprendeu direitinho. Aqui está o pirulito.
- Epa! – acertei na mosca. Quero ver alguém aí me chamar de decoreba...
- No final, todos vão ganhar desse pirulito. É feito pelo Porteiro Juraci, de colméias daqui mesmo do Jardim. Vão adorar. Ele entende de coisas naturais como poucos. Também...
Ôbas gerais.

SUOR E SANGUE TUPI


Pausa na narrativa.
No galho alto de um Jacarandá, um Canário-da-Terra, o nosso popular Chapinha, ou Cabecinha-de-Fogo, como é chamado em diferentes regiões do Brasil, quebra o silêncio momentâneo com o estalar seu canto cheio de alegria. E quase oculto entre as folhas de uma Cerejeira, ouvia-se, em dueto com o canário, o lamento de um Sabiá-Laranjeira; enquanto um beija-flor cruza o espaço aberto e se aproxima de um cacho de banana em formação para dividir o mel da flor da bananeira com um bando de pequenas abelhas.
Todos param um instante, distraídos, voltados para cima, ao derredor, procurando descobrir em que galho cantavam o Chapinha e o Sabiá, tentando acompanhar a agilidade do Beija-Flor que girava em volta de mais flores, numa parceria harmoniosa com as abelhas.
- Professor!... – Tiago levanta o dedo.
- Pode perguntar.
- Será que Cabral ouviu aqui o canto de um Chapinha?
- Com certeza. Tanto do Cabecinha-de-fogo, como do sabiá, do pintassilgo, de tantos outros pássaros que encantam pelo canto e pela plumagem. Escutem o que o Comandante Américo Vespúcio disse da fauna alada brasileira: ... pássaros de diversas formas, e cores, e tantos papagaios que era deslumbrante; alguns corados como carmim, outros verdes e cor de limão e outros negros, e encarnados, e o canto dos pássaros que estavam nas árvores era coisa tão suave, e de tanta melodia, que nos acontece muitas vezes estarmos parados pela doçura deles. E a mata é de tanta beleza e suavidade que pensamos estar no Paraíso Terrestre.
Em seguinda, o Botânico convida outra vez a Professora para substituí-lo na palestra. Ela concorda e começa falando da exploração do índio pelo branco:
- Para o europeu os selvagens tinham parentesco com os monstros medievais; andavam nus e cultivavam hábitos estranhos, portanto, considerava-se superior, com direito sobre a terra, à liberdade e a própria vida do índio. Partindo deste princípio, os exploradores brancos utilizaram os silvícolas para cortar e carregar o Pau-Brasil para seus navios, em troca de pequenos objetos que mal valiam um vintém!
Jaqueline pede mais explicação:
- Desculpe! Não entendi direito...
- Como o nosso litoral era habitado por tribos indígenas de boa índole, pacíficos e dóceis, fazer escambo com essa gente foi moleza. Ainda mais que as ferramentas européias eram de grande serventia ao índio na luta que travava com a Natureza pela sua sobrevivência.
- Escambo!...
- Escambo, meu Caro Chico, era a maneira de realizar uma troca de um produto por outro, entre pessoas interessadas, sem envolvimento de dinheiro. Os índios davam Pau-Brasil aos europeus; em troca, recebiam quinquilharias ou ferramentas, coisas de pouco valor monetário.
- Então, o europeu era fera na tapeação dos índios! - debocha Marildinha.
A expressão do rosto da Professora muda rapidamente. Alisa com as palmas das mãos a frente da blusa, e censura:
- Uma judiação! Os nativos eram ignorantes, limitados às suas aldeias. Inocentes que nem crianças ficavam até zonzos diante de tantos objetos desconhecidos. Tudo era novidade: espelho, pente, guizo, colar de miçangas; ferramentas, como machado e faca, necessários para a própria obtenção da madeira para o branco; foices, enxadas, cunhas de ferro, tesouras, panelas, anzóis, tambor, sininho, pedaços de tecido, gorro vermelho. Por qualquer um desses objetos, um índio era capaz de dispor tudo que possuía, ou trabalhar duro de sol a sol para o branco, em troca de um presentinho de nada.
- Poxa, Pessoal, sinto até um frio por dentro...
- Dose acreditar, Maria Vitória Aparecida...
- Maria Vitória Ferreira Pinto, seu Chico Decoreba, e nem levantei o braço quebrado, desta vez.
- Mas os índios aceitavam tudo numa boa, Professora?
- Para eles, Marisa, uns meninos, era uma festa... A maioria das tribos trabalhava com satisfação para o europeu invasor. Ainda mais cortando Pau-Brasil com machado de ferro! Comemoravam o fim da idade da pedra.
Ana Laura zomba:
- Engabelavam os coitados com coisinhas iguais aos mixurucos presentes das nossas lojas de 1,99!
- E até menos...
Hunnnnssss gerais.
- Coitados, Dona Diana! Essa exploração deve ter sido a parte mais amarga da história – conclui Renata, inconformada.
Ana Laura sente um frio por dentro. Pensa no sofrimento dos índios. Mas fica calada.
Cidinha levanta uma dúvida:
- Professora: se os índios não falavam a língua dos brancos, como entendiam e obedeciam as ordens dos exploradores?
- O homem civilizado, quando esperto, arruma sempre um jeito para garantir suas vantagens, levar o seu lucro com o mínimo de gasto e quase nenhum trabalho pessoal. No princípio, fazendo gestos; depois, aprendendo a linguagem dos indígenas e também ensinando a eles palavras de ordem, em sua língua. Não era difícil.
- Como que um nativo escolhia o objeto de seu agrado?
- Filipe, os brancos empregavam uma tática infalível: expunham os produtos na beira da praia. Coisinhas bem vistosas, brilhantes, coloridas! Atraídos, os nativos ficavam boquiabertos diante de tanta bugiganga. Logo, um interessado apontava com o dedo, mostrando o que desejava. Pulava e gritava palavras na sua língua, que os exploradores interpretavam como eu quero isso ou aquilo. Aí, o espertalhão branco fazia o índio entender:
- Muito bem, esse espelho será seu; primeiro, corte dez pés de Arabutã, o nome do Pau-Brasil em Tupi-Guarani. E mostrava os dedos das mãos.
O índio escancarava os dentes de alegria. Pegava um machado, cortava as árvores, trazia a madeira para a Feitoria e ganhava o espelho. Outro ficava doido por um gorro vermelho, aí o explorador impunha:
- Ótimo... meu Amigo.
- Mui amigo!... – grita um.
- Traga tantos troncos bem aparadinhos de Ibiratinga, outro nome que os índios davam ao Pau-Brasil. Sempre com gestos de cortar galhos, carregar nos ombros. E mostrava os dedos das mãos: tantos e tantos toros.
Um morubixaba, caído de amores por uma campainha, um mero sininho, que retinia diferente de todos os sons já ouvido, se tornava uma presa fácil. O explorador abusava:
- Tudo bem. Será seu e mais esta tira de pano vermelho, mas quero o navio cheio de Muirapiranga, referindo-se ao Pau-Brasil; e dos melhores, dos mais grossos. Fazia o gesto já conhecido de aparar a árvore. Entendeu? Índio nenhum reclamava da sorte. Diante de uma mercadoria que preenchia seus sonhos, não resistia, corria para mato com um machado bom de corte, mourejava de sol a sol, trazia a madeira e trocava pelo objeto desejado, ou melhor, sonhado. Não havia sábado, nem domingo de folga para um índio, depois do descobrimento; a semana toda derrubava a floresta para algum explorador europeu.
Ana Laura levanta-se como se impelida por uma mola, corada:
- Que gente malvada esses comerciantes brancos, faziam tudo para enganar os coitadinhos! Não tinha índio bravo no Brasil?
- Para botar para correr aquela corja de exploradores...
- Índios bravos? Ah, sim, havia. Lógico, mais para o interior do Continente. Como exemplo os Caetés, que habitavam desde a Ilha de Itamaracá até as margens do Rio São Francisco. Ferozes, rebeldes e androfágicos, comedores de carne humana; eram inamansáveis. Defendiam seu território com bravura; aliás, como os verdadeiros donos da terra; não aceitavam ser capiturados, reagindo às ameaças dos invasores estrangeiros. Já os Tupiniquins, os Tamoios, os Tabajaras, os Carijós e outros que viviam no litoral eram de boa índole, aceitando com facilidade o entrosamento pacífico e danoso com os europeus.
Maria Vitória lembra:
- O Bispo Sardinha foi devorado pelos Caetés. Confere, Professora?
Sim. Em junho de 1556. Numa viagem para Portugal, seu navio Nossa Senhora da Ajuda naufragou-se nas costas de Alagoas. O Bispo e outros marinheiros salvaram-se, mas foram aprisionados e devorados pelos índios Caetés. Tribos tão selvagens que até o Padre José de Anchieta tinha medo deles: - eram tribos bárbaras e indômitas, aproximam-se mais à natureza das feras que à dos homens. Mais tarde foram exterminados pelo Governador Mem de Sá.
E depois de uma pausa:
- O Comandante Antônio Pigafetta, da frota de Fernão de Magalhães, escreveu sobre a antropofagia de índios no Brasil: ... comem algumas vezes carne humana, porém somente a de seus inimigos. Mas não é por gosto ou apetite que a comem. Não os comem nos campos de batalhas, nem tampouco vivos. Despedaçam o corpo e repartem entre os vencedores...
- Quantos índios existiam aqui no tempo de Pindorama?
- Boa pergunta, Rita. Antes de Cabral, supostamente mais de cinco milhões de aborígines viviam aqui dentro das matas e no litoral. Os primeiros extintos foram os Tupiniquins, pouco tempo depois da chegada de Cabral. Por volta de 1570, a tribo já era considerada extinta.
Índios morriam pelos maus tratos, massacres e também pelas doenças transmitidas pelos brancos, como a varíola, desinteria, tifo, lepra, pneumonia e outras. A mais devastadora dessas epidemias foi a varíola, cujos sintomas, de acordo com os gentios num relato ao Frei Bernardino Sahagun, em 1555, eram: ... tosse, grãos ardentes, que queimam... Muitos morreram com a pegajosa, compacta, dura doença de grãos.
De lá para cá desaparecerem aproximadamente 1200 línguas nativas no Brasil e, com elas, seus povos. Hoje, somando todas a Nações Indígenas, são menos de trezentos mil índios. Cento e sessenta mil na região amazônica, falando aproximadamente cento e cinqüenta línguas distintas. Juntos, mal lotariam três estádios de futebol.
- Puxa!
- Dose!
- Fogo!
Ana Laura ergue um braço e pede para recitar o versinho chamado Erro de Português. O Professor concorda e ela declama:

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio.
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha
Despido o português

Risada geral.
- Ana Laura, parabéns, nota dez – festeja a Professora. E virando-se para a turma: - Cinco pontos para quem acertar o nome do autor do poema. Não vale a resposta de Ana Laura.
Alguns abanam os braços, gritando:
- Eu... Eu
- Eu...
- Você – aponta a Professora para Filipe.
- Foi o poeta paulista Oswald de Andrade.
Felício levanta-se do seu banquinho e se dirige à Professora, sorrindo:
- Muito bem!... Muito bem!... Professora Diana, ótima sua explicação. Ana Laura, boa a lembrança do poeta modernista Oswald de Andrade. Anote aí... Estudar o Movimento Pau-Brasil, liderado por esse escritor no Brasil. Parabéns para todos.
- Ótimo que gostou, Diretor. Agora, sua vez de continuar.




VIAGENS PELO MAR DO MEDO

- A madeira vermelha ficou mesmo muito famosa! O negócio era tão atraente e tentador que para muitos valia a pena atravessar o Atlântico, em sua busca, apesar das dificuldades, dos incômodos nas caravelas desconfortáveis, dos riscos da longa e demorada travessia e outros problemas inesperados.
- Essa madeira despertava muito interesse mesmo!...
- Prefiro o termo ganância, Menina...
- Joanna, com dois enes, Professor...
- Não vou esquecer... Pau-Brasil, como sabemos, meus Caros, minhas Caras, é uma madeira de tronco duro, compacto; contém uma substância corante de tom vermelho muito vivo e brilhante, a brasileína, empregada para tingir tecido de linho, seda e algodão com um tom carmesim ou purpúreo. Um vidrinho dessa tinta custava um bom dinheiro. Naquela época, o vermelho era o príncipe das cores. Rei que se prezava tinha seu manto vermelho. Cardeais e nobres, também. Tanto interesse encarecia o produto, porque a oferta era sempre menor do que a procura.
A Professora Diana observa:
- O sexo feminino, Gente, também teve participação no excesso de consumo da tinta preciosa. A partir do Século XVI, a mulher européia, principalmente a inglesa e a francesa, passou a se interessar pelos requintes da moda, atraída pelo suntuoso tom carmesim ou purpureo: a cor da nobreza. Isso deu um grande impulso na indústria têxtil, exigindo cada vez mais dessa tinta extraída da árvore, aos milhões em nossas terras. Confere, Professor Felício?
- Sim. Não só para tinta servia o Pau-Brasil. Os móveis da Universidade de Coimbra e de vários outros prédios públicos na Europa foram fabricados com essa rica madeira do Brasil.
- Brincadeira!...
Iago, até então quietinho no seu canto, levanta a mão e pergunta, como se faz em sala de aula:
- Uma viagem da Europa para o Brasil durava quantos dias?
- Xiii!... Dias e dias. A calmaria atrasava muito uma viagem. Dois, três meses ou mais, enfrentando o mau tempo, a fome e a sede. Há notícias de navio que levou até cento e oitenta dias para cruzar o Atlântico. Boa parte da tripulação morria antes de chegar ao destino, em conseqüência da má alimentação, da falta de remédios e de conforto. Os marinheiros dormiam ao relento, no assoalho ou em redes espalhadas ao ar livre pelo convés, com ou sem chuva. Deixar Lisboa rumo ao Brasil ou a Índia era mesmo uma loteria. Precisava de muita sorte para chegar bem ao destino.
- De que o pessoal do navio se alimentava? – procura saber Maria Vitória ainda sem levantar o braço com tipóia, mas de olho no Chico, com receio de outra gozação.
- Peixe, carne salgada, de porco e de boi; bolachas secas. A conservação era de péssima qualidade. Depois de certo tempo, a situação tornava-se insuportável, os alimentos iam ficando raros, apodrecidos e mofados.
Uma menina faz careta:
- Coitados! Ora, se estavam no mar por que não pescavam?
- Isso os marinheiros faziam sempre que possível. Mas durante uma tempestade quem é que consegue fisgar um peixe? Quando não tinham nada mais para se alimentar, comiam ratos caçados no porão do navio ou gaivotas que voavam em redor das embarcações. E quando nem isso mais existia, cozinhavam tudo que era de couro na embarcação, como couro retirado dos mastros, sola dos sapatos, das bolsas ou de qualquer outro objeto de pele de animal.
Cara de nojo, Geni Maria observa:
- Se a comida, argh, era tão ruim, a água então devia ser uma nojeira!
- Acertou, menina. Antes da partida de um navio, a tripulação enchia pipas e barris de água potável suficiente para a viagem programada. Depois de duas semanas, o líquido ia-se tornando esverdinhado, viscoso, cheio de bichinhos e infestado de bactérias, cada dia mais impróprio para o consumo.
Novas caras de nojo e penalizadas.
- Já existia o pernilongo da dengue?
Risos.
- A água servida nos navios tinha mesmo um gosto horrível, insuportável. Mas era a única fonte disponível para matar a sede.
- Santa Maria! Ainda aparecia gente para se aventurar numa viagem dessa! – suspira Luísa, chocada.
- E as doenças?
- Muitas. De arrepiar os cabelos. Doenças provocadas pela má alimentação, pela falta de higiene, pela dieta carente de sais minerais e vitaminas encontrados nas frutas e nas verduras; fundamentais à saúde do ser humano. Morria gente todo dia, atacada por febres malígnas ou pelo medonho mal-de-luana. Outra doença freqüente entre os navegantes era o escorbuto, pela falta de vitamina C, uma doença terrível que atacava as gengivas dos marinheiros, fazendo cair os dentes. Morriam à míngua, no maior sofrimento.
Para viajar naqueles navios o aventureiro tinha que ter muita coragem, saúde de ferro, gostar exageradamente de dinheiro e nenhum amor à vida. Coisa de louco! Mesmo assim, o Oceano Atlântico vivia cheio de navegantes ambiciosos, que não tinham medo de tempestades em alto-mar, de monstros marinhos, nem da fome, nem da sede e muito menos da morte. Eram meses ao relento dentro de uma embarcação, sem cama nem banheiro, pouca comida, enfrentando terríveis tempestades e naufrágios. Mas, para muitos era preferível a passar o resto da vida trancafiado numa masmorra de prisão em seu país de origem.
Filipe arregala os olhos:
- Monstros Marinhos! Monstros no mar? Vi na televisão...
- Lógico que não. Antigamente, meus Jovens, o mar assombrava, porque era desconhecido. A comunicação entre os povos era muito difícil; faltavam bons livros de informação para difundir o conhecimento entre os povos. Assim, o homem via como verdadeiro uma escabrosa mentira, uma lenda sem nenhum fundamento.
O Oceano Atlântico era conhecido por Mar Tenebroso ou Mar da Escuridão. Pensavam que a Terra era plana e que, depois do Cabo Não, que fica nas costas do Marrocos, as águas se despencavam num precipício sem fim; indo cair no inferno. Imaginavam ser o Mar habitado por gigantes imensos, por almas penadas, por homens sem cabeça, por monstros de um olho só ou de quatro olhos pregados nos ombros, por belas sereias, capazes de enlouquecer os marinheiros com seus cantos sedutores. Tudo invencionice, fantasia pura.
Risos amarelos.
- E divertimento, não tinha? - Vitor, ainda meio assustado com o sofrimento dos navegantes daquela época.
- Quase nada. Um ou outro tripulante, com sangue de artista, é que improvisava uma apresentação de teatro ou de música. Mas, para preencher mesmo as horas de ócio no convés, o jogo de cartas era imbatível.
- Professor, dá licença? – levanta o braço a Renata.
- Pode perguntar.
- Por que deram o nome de Não ao Cabo Não?
- Ali era o limite da navegação costeira da África Setentrional. Só em 1418, os navegantes João Gonçalves Zaco e Tristão Vaz Teixeira, orientados pela Escola de Sagres, do Infante D. Henrique, conseguiram navegar além do Cabo Não, descobrindo a Ilha do Porto Santo. O limite passou a ser o Cabo Bojador.
- Que legal! – admira Rogério.
- Havia até um ditado: quem navegar para além do Cabo Não, ou voltará ou não.
- E o Cabo Bojador foi ultrapassado por Gil Eanes, não foi?
- Parabéns, sabichão. Isso é história para outro dia.
Jaqueline espanta-se:
- Meu Deus! Tanto martírio para ganhar dinheiro!
- Ainda hoje muita gente enfrenta horrores para garantir a sobrevivência. Depois, Vocês poderão pesquisar sobre profissões no Mundo; ainda existem trabalhos que lembram o sofrimento dos navegantes de mais de quinhentos anos atrás.
Vitor dá sua opinião:
- Eu acho, Gente, que o pior trabalho é nas minas de extração de ouro ou de carvão. Já vi num filme...
Pausa.
A manhã continua cheia de luz e sombra no Jardim Botânico, onde os meninos estão ouvindo histórias da História do Brasil. Um galo cocorica longamente; outros galos respondem. Existem soltos na área, dezenas de galos e galinhas, todos com uma missão muito importante: são agentes controladores de pragas, bem treinados em comer insetos nocivos às plantas; além de produzir ovos, é claro.

OS PRIMEIROS BRASILEIROS


Ao ver a cara de pesar dos estudantes sobre o sofrimento dos navegadores dos tempos de navio à vela, o Professor Felício resolve antecipar a distribuição dos doces, dos pirulitos de mel prometidos. Chama o Porteiro Juraci e pede que lhe traga um tabuleiro furado com os pirulitos.
Todos saboreiam a doçura.
- Pode pedir bis? – Laura mostra-se gulosa.
O Professor dá uma risada:
- Pode pedir mais pirulito, sim, Laura, e quem mais quiser. E tudo por conta da casa! Depois o Jura, como o chamamos na intimidade, arranja mais. O Juraci Silva é responsável pelo portão do Jardim e de outras surpresas agradáveis a simpáticos visitantes, como Vocês... Repito, meus Jovens: para enfrentar o desconhecido e perigoso Atlântico o sujeito precisava ser um destemido, desprendido de tudo, movido apenas pela ambição de enriquecer a qualquer custo. Ah, ia-me esquecendo... Sabem como eram conhecidos esses aventureiros, comerciantes da madeira de tinta? Brasileiros. Isso mesmo: brasileiros... Ficaram conhecidos assim na Europa.
Chico dá um salto. E grita:
- Matei a charada, Turma. Vem daí o nome de nosso País!
- Evidente, seu decoreba...
- Em parte sim, meu Caro. Em todo canto da Europa, depois do descobrimento de Pedro Álvares Cabral, referiam-se ao nosso território como a terra do Pau-Brasil, ou a terra que fornecia brasis às tinturarias. O comerciante da madeira era conhecido por brasileiro. Isso mesmo, brasileiro. Até que, em 1503, D. Manuel I oficializa o nome de Brasil para sua colônia do outro lado do Mundo - do Orbe Terrestre, como diziam.
- E Vocês, o que acham do nome Brasil? – interrompe a Professora.
- Lindo! Imponente! Sonoro! - responde primeiro Maria Vitória com orgulho na voz.
Dona Diana dá sua opinião:
- Nome bonito de uma árvore produtiva, rica e que representa a fertilidade de um solo abençoado.
Outros concordam.
O Botânico Felício Esmaragdo Valverde explica:
- Quem não gostou foi a Igreja. Religiosos protestaram, acharam um absurdo trocar o nome sagrado de Santa Cruz por Brasil.
- Ainda existem dúvidas da influência do Pau-Brasil no nome do Brasil, Professor?
- A madeira rubra contribuiu, sim. Mas a origem etimológica da palavra brasil é um tanto quanto misteriosa. Existem mais de vinte interpretações sobre a sua origem; a palavra é antiga. Querem ter uma idéia? De 1351 até 1731 o nome Hy Brazil poderia ser visto em mapas e globos usados pelos pesquisadores, denominando uma ilha mítica em meio às névoas do Mar Tenebroso, quer dizer, do Oceano Atlântico.
- Hy Brazil! Ilha mítica! O que é isso? – Douglas se espanta.
- Segundo a lenda, Hy Brazil era uma ilha movediça, que sumia misteriosamente no horizonte sempre que os navegadores se aproximavam dela. Etimologicamente falando, brasil vem do celta bress, com origem do inglês to bless, e significa abençoar. Por outro lado, pode-se afirmar que brasil vem do francês brésil, que, por sua vez, tem sua origem do toscano verzino, a denominação da madeira de tinta na Itália.
A Professora faz uma observação:
- Ainda bem. Se não fosse o elevado valor comercial do Pau-Brasil, não teria nosso País escapado da vexação de ter como nome Terra dos Papagaios, denominação que recebeu, por breve tempo, em mapas e documentos imediatamente posteriores ao descobrimento.

A CORTE PORTUGUESA ABRE OS OLHOS


- Vejam bem: os corsários contrabandistas, também conhecidos por brasileiros, não só influenciaram o nome de nosso País, como também contribuíram para abrir os olhos da Coroa Portuguesa, na conquista definitiva do Brasil.
Luísa não se contém:
- Quais foram os maiores contrabandistas?
- Os franceses. Campeões absolutos do tráfico de Pau-Brasil, sem a menor sombra de dúvida. Dizem que, com a ajuda dos Tupinambás, levaram daqui mais Pau-Brasil do que os portugueses, para atender a demanda crescente de corantes na industria têxtil francesa.
Em 1503 o navio L´Espoir de Honfleur, tripulado por bretões e normandos, abriu o caminho do contrabando francês de Pau-Brasil na costa brasileira. A partir daí as visitas tornaram-se constantes, e, com o apoio da Corte Francesa. O rei Francisco I (1515-1547), até mandou ao rei de Portugal o seguinte recado: eu não conheço o testamento em que meu avô Adão legara herança americana apenas aos primos de Portugal e Espanha.
Respondendo a ousadia, a Corte Portuguesa intensificou o combate aos contrabandistas. Entre os vários navios de bandeira francesa apreendidos e incendiados, destaca-se o La Pélérine, preso pelos lusitanos no torna-viagem, carregado de centenas de toras de Pau-Brasil, 300 macacos, 600 papagaios, 3.000 peles de onças, 300 quintais, isto é, 1762 quilos de algodão e outros produtos.
- Os franceses eram amigos dos índios? – quer saber Alice.
- Poucos exploradores podiam se igualar aos franceses no conhecimento e no trato com os índios, o que contribuía para facilitar o escambo. A maioria dos exploradores considerava os nativos uma raça inferior e bárbara; tratava-os como escravos, como já vimos.
- Que horror?! – quase grita Maria Vitória, ressabiada.
- Olha aí apareceu a aparecida!
- Olha aqui, Chico Decoreba, o gesso no meu braço...
Risos e olhares para o lado do Chico.
- Ordem na assembléia, Meninos!... – pede a Professora.
Pausa com risos despistados. O Professor conclui:
- A pirataria, meus Jovens, nas costas brasileiras crescia dia a dia. E o Governo Português, pouco ou quase nada fazia para combater o tráfico de Pau-Brasil.
Vitor empina a mão direita e protesta:
- Por que aqueles portugueses não usaram canhões para estourar os navios invasores!...
- Ora, Vitor, é claro. Canhões Portugal tinha aos montes, só que estavam ocupados em garantir as conquistas na Ásia. Vez ou outra Portugal mandava uma expedição para vigiar as costas brasileiras e botar os piratas a correr, digo: para nadar, com estouros de seus pesados canhões.
Até 1531, a expedição de guarda-costa mais importante foi a de Martim Afonso de Souza, comandante de uma frota de cinco navios e quatrocentos homens armados até os dentes. Mal desembarca no Porto de Piaçagüera, na altura de Pernambuco, aprisiona dois navios franceses lotados de Pau-Brasil.
- Então Martim Afonso foi um herói na defesa do Pau-Brasil? – entusiasma Tijuca.
- Sim, meu Jovem. A fibra, a coragem, a decisão de Martim Afonso fez com que, durante muito tempo, navio pirata para ancorar aqui tinha que dar sorte ou ser muito esperto. A frota do Capitão Martim subia e descia a costa brasileira com a ordem de atirar em navios de bandeira estrangeira, que estavam levando a madeira brasileira.
- Atirava e depois perguntava, Professor? – brinca o Vertinho.
- A partir daí, o Pau-Brasil se torna um monopólio da Coroa Portuguesa, ficando encarregada exclusivamente de sua exploração e comercialização.
- Até quando exploraram o Pau-Brasil, no Brasil? – pergunta Marise.
- Acredite se quiser: até acabar. Derrubaram o Pau-Brasil a torto e a direito. Em pouco mais de trezentos anos o estoque natural em nossas matas quase zerou. A ação destruidora dos europeus foi tão violenta que a Natureza foi incapaz de se recompor. Uma devastação! Alguns pés ainda são preservados em pequenos projetos florestais, em Jardins Botânicos, em praças e em ruas de algumas cidades brasileiras. Ou ainda outra, camuflada no meio de mata fechada, que escapou dos predadores ou rebrotou.
- Pau-Brasil rebrota? – pergunta Róbson.
- Ainda bem. Mas sua muda se faz com semente. Uma curiosidade: na Estação Ecológica Pau-Brasil, lá na Bahia, ainda restam algumas espécimes dessa madeira do tempo de Cabral, possivelmente árvores rebrotadas. Uma delas é chamada pelos pesquisadores de Pau-Brasil Rei, tem dois metros e sessenta centímetros de circunferência e 40 metros de altura.
Dona Diana aproveita e cita:
- A descoberta da anilina, no princípio do XVIII, contribuiu para diminuir o interesse pelo Pau-Brasil. Estou certa, Professor Valverde...
- Felício Esmaragdo... Minha cara Diana...
- Desculpe-me, Professor. Prometo me lembrar do Esma... ra... gdo direitinho.
- Sim. O produto químico, extraído do carvão-de-pedra, então, substituiu a tinta vegetal, por um custo menor e com qualidade extraordinária. Tanto que, em setembro de 1826, Dom Pedro I, mandou cinqüenta quintais, isto é, três toneladas de toras de Pau-Brasil para serem leiloadas em Londres e liquidar parte dos juros da dívida brasileira. Um fiasco. A venda não deu para cobrir o custo de transporte, a madeira de tinta estava com a cotação em baixa no mercado europeu, em conseqüência do crescimento da indústria de anilinas.
- A dívida foi paga? – pergunta Adauto com um sorriso torcido.
- Acredito que sim, mas não com o resultado do leilão de Pau-Brasil na Bolsa de Mercadorias de Londres.
Isabel levanta a mão e com ar de mistério:
- A cidade onde moro tem ruas plantadas com Pau-Brasil.
- Uê!... Você não mora aqui?
- Ora, Filipe, eu não disse que não moro aqui. É aqui mesmo que tem ruas arborizadas com Pau-Brasil.
- E onde ficam essas ruas?
- Em vários bairros. Na rua onde mora minha Vó Filhinha mesmo tem. Na rua da Tia Ila. Da Tia Guiomar, da Tia Ida. Na pracinha onde mora o Tio Oliveiro. Na cidade onde mora o Tio Zezé.
- Eu também sei onde tem pé dessa árvore – ri toda orgulhosa, Ana Laura.
- Se Você sabe, então conte.
- No clube que freqüento tem dezenas de árvores de várias qualidades, quero dizer, espécies, não é assim mesmo Professor Felício? E, no meio delas, alguns pés de Pau-Brasil.
- Parabéns para seu Clube! - festeja Cidinha.
O Diretor dá uma risada, feliz, e também aplaude:
- Gosto do bate-boca de vocês. É uma ação cívica plantar nossa querida árvore em praças, jardins públicos; ruas, clubes recreativos e principalmente, nas margens das estradas, o que daria sombra, proteção e madeira para ser utilizada em construções públicas. Desde o princípio do século XX a idéia era difundida pelo biólogo pernambucano, Professor Roldão Campos, que queria ver em cada cidade brasileira pés de Pau-Brasil preservados.
- Professor, como hoje é utilizado o Pau-Brasil?
- A sua utilidade é muito variada, excelente madeira para construção civil e naval. Na marcenaria fina também; serve até para fazer arco de violino.
- Instrumento musical!... - admira Ana Lúcia.
- Sim. Beetohven, Mozart e outras feras da música clássica eram fãs de carteirinha de arco feito de Pau-Brasil para tocar violino. O som sai mais cristalino, vai mais longe. Curiosidade: na cidade de Guaraná, no Estado do Espírito Santo, tem uma velha fábrica de arco de Pau-Brasil para instrumento de corda.
- Legal!... – todos.
- Os escultores também gostam de fazer suas peças com Pau-Brasil. A madeira bem lixadinha adquire uma textura muito fina e delicada... Como bumbum de neném!
Todos riram. O professor continua entusiasmado:
- Na medicina popular, os índios usavam o pau-de-tinta para curar diversos males. E Maurício de Nassau foi o primeiro homem público a recolher amostras de Pau-Brasil para estudos científicos na Europa. No Brasil, o cientista pernambucano, José Lamarotti tem uma longa pesquisa sobre o poder medicinal dessa planta. São infinitas as propriedades de nossa árvore.
Dona Diana, sorridente:
- Muito bem, Professor Felício. Adoramos sua história. Só para completar: tem gente preocupada em repovoar nossas matas com Pau-Brasil. Entre tantos, a professora Ana Cristina, filha do Professor Roldão, que dirige a Fundação Nacional do Pau-Brasil. Na Bahia, a Embrapa estuda o DNA das árvores existentes na Estação Pau-Brasil. Ainda tem gente trabalhando para devolver ao seu habitat natural uma espécie vegetal que jamais poderia ser extinta!
- Professora Diana, quero parabenizá-la por trazer seus alunos para conhecer a Natureza in-loco.
- In ... lo... O quê!... – estranha Ana Laura.
- In-loco - repete a Professora. - Isso quer dizer: estudar, observar uma árvore no local onde está plantada. Entende?
O Professor Felício sugere:
- Cheguem todos para cá, vamos abrir uma roda em torno deste Pau-Brasil. De mãos dadas, recitaremos um poema em sua homenagem, como se hoje fosse o seu dia. Repitam comigo, legal?
- Siiiimmm! - todos num grito.
Meninos e meninas abrigam-se debaixo da majestosa árvore, pisando o chão coberto de folhas secas.
O Diretor, já de pé, endireita o colete, ajeita a calça jeens e tira do bolso uma folha de papel. Contempla por um minuto a copa do Pau-Brasil. Depois, coloca-se no meio dos estudantes, faz pose e com a voz cheia, também de um artista de teatro, gestos pausados, lê:

Ao Viandante
Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor de teu lar nas noites frias de inverno,
Eu sou a sombra amiga que tu encontras,
quando caminhas sob o sol de agosto.
E os meus frutos são a frescura apetitosa,
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga de tua casa, a tábua da tua mesa,
a cama em que descansas e o lenho de teu barco.
Eu sou o cabo de sua enxada, a porta de tua morada,
A madeira de teu berço e do teu próprio caixão.
Eu sou o pão da bondade, a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me bem e não me faças mal.

Sem risinhos atravessados, nem deboche, os meninos acompanharam direitinho os versos lidos.
- Esse Doutor Felício é cobra criada... – brinca Chico.
A Professora sensibilizada:
- Que lindo, Professor! O Senhor também é um excelente intérprete. De quem é o poema?
Felício, que ruborizara, agradece com discreta cerimônia:
- Bondade sua. O Autor é desconhecido – e com os dedos reverentes dobra a folha de papel. - Certa vez, visitando o Castelo de São Jorge, em Lisboa, vi uma prancha de madeira gravada com esse poema. Amei os versos, fotografei a tábua e hoje passo para Vocês. Tenho cópias xerocadas no escritório, que sempre distribuo aos visitantes.
- Poxa!
- Eu quero uma!
- Eu também!
- Eu também!
- Vou xerocar um tantão e espalhar com a galera do meu bairro! – insiste Ana Laura, gracejando.
- A tabuleta com os versos era de Pau-Brasil? – provoca Chico.
- Infelizmente não. Era de Cedro.
- Legal, assim mesmo! – aplaude Alessandra com um sorriso.
- Jóia!
- O Professor é um barato mesmo! – aclama Rose, radiante.
Felício Esmaragdo Valverde sorri amável. Curva o tronco num gesto de agradecimento, aquele gesto de artista no palco, emocionado com os aplausos de uma grande platéia. Dona Diana aproveita a oportunidade:
- Que ótimo que nos recebe com tanto carinho, tornando nosso passeio uma fonte de aprendizado e divertimento. Aprendemos História e Ecologia e...como declamar um poema!
- Disponha. Entendo cada vez mais porque seus alunos são tão interessados, conscientes e amigos.
Risos gerais.
- O Jardim Botânico, Diana, minhas Meninas, meus Meninos, está aberto a qualquer interessado em ter um contato direto com a Natureza. Tenho a certeza de que os visitantes saem daqui mais puros de alma, bem mais interessados em defender a Ecologia e muito mais responsáveis.
Súbito, a mesma voz de um papagaio invisível interrompe as fala e os risos:
- Ô Felício! Ô Professor! Ô Esmaragdo! Currupaco!
Os estudantes olham uns para os outros, ainda mais admirados e curiosos. Procuram o misterioso papagaio por todos os lados.
- É o mesmo, Professor, o mesmo papagaio!
- Pelo menos, a voz é igual ...
Nisso, uma flecha de índio, da verdadeira, corta o ar, assobiando, numa velocidade tremenda e se finca no chão, próximo ao pé do Diretor.
Susto geral.
- Vamos cascar fora, Pessoal! – gritam uns.
- Essa não!!!
- Aqui tem índio de verdade!
- Eu, heim, Rosa!?
- Quero minha mãe!...
E um outro mais retumbante:
- Salve-se quem puder!
Debandada geral.

Uns correm; outros se escondem em moitas próximas; outros sobem em árvores; as meninas se agarram nos braços da Professora, também espantada e sem saber o que fazer.
O Diretor do Jardim Botânico nem se abala. Ria-se com o apavoramento dos visitantes, enquanto a flecha enfeitada de penas coloridas, enterrada no chão, ainda tremia pelo impacto.
A Professora, implicada, num inquieto reparo de curiosidade:
- Essa flechada quase acerta o Senhor! Que brincadeira é essa?
Sem dizer uma palavra, Felício Esmaragdo Valverde mantém o sorriso zombeteiro diante da apreensão do grupo visitante; alisa a barbicha, e em tom macio, carinhoso, amigo:
- Dona Diana, meus Jovens, calma! Tudo uma brincadeira fora do script, com sabor de alegria. A flecha é verdadeira, sim, feita de osso de canela-de-ema, envernizada com veneno de cobra e escorpião. O guerreiro, também. Mas não se trata de ataque do Índio Peri. Na haste da flecha tem um papel amarrado. Traz uma mensagem, aposto. Leia para nós, Dona Diana.
A Professora ainda ressabiada, retira, mãos trêmulas, o pedacinho de papel.
Silêncio.
Ela lê o bilhete com atenção, tranquilizada exclama:
- Escute, Gente: aqui está escrito: Educação Ambiental - o caminho mais curto e eficiente para modificar a relação do homem com a Natureza. Parabéns, Professora Diana Pena! Parabéns Meninas! Parabéns, Meninos! Voltem sempre.
Sorrisos curiosos. Todos olham para o Professor, admirados.
A Professora, agora tranqüila:
- Uê! Como esse índio guerreiro sabia meu nome?
- Muito simples. É uma homenagem do Jardim Botânico aos professores que trazem alunos para um contato direto com a Natureza. O seu nome e de sua escola já estão registrados em nossos arquivos. Agora, cada estudante, ao sair, vai assinar o livro de visitas. E olhando para todos: - No futuro, quando Vocês passarem aqui, muitos vindos de muito longe, e rever nossos registros, as assinaturas de Vocês lembrarão com doçura este dia.
- Hummmm, que chique! – brinca a Professora.
- Ôba! – gritam os estudantes, sentindo-se importantes.
- Estou maluco para ficar adulto, casar e trazer meus filhos para conhecer o Jardim e ver minha assinatura – apressa Pascoal.
- Vamos assinar o tal livro, já!!! – conclama Henri.
Chico se apressa:
- Onde está, Professor, já destampei minha esferográfica!
- Quem chegar por último é...
Ana aproveita e cobra, resumindo o consenso geral:
- Espera aí, Gente, e o papagaio?
- Verão já. O Diretor adianta uns dez passos e grita, com voz no jeito de índio falar:
- Índio Misterioso, poder descer da árvore.
Rapidamente, surge um homem vestido de índio, isto é: descalço, de tanga recoberta com penas coloridas, colares de osso no pescoço, nos braços e nas pernas; a cara pintada de vermelho. Mesmo disfarçado assim, não foi difícil reconhecer, travestido de selvagem, o Porteiro Juraci Silva. Muito sorridente, caminhando de mansinho até o grupo de pessoas.
Os meninos batem palmas.
- Olhem: é o Juraci, Gente, o dos pirulitos...
- ... Aquele do portão do Jardim!
- Aqui só tem artista...
- E Pau-Brasil!
Em sotaque tribal, Juraci Silva agradece, numa brincadeira:
- Índio ficar grato, ficar muito emocionado.
Ana Laura insiste e também brinca:
- Bom dia, Índio Juraci. Uê!... Achei que o papagaio que ouvimos vinha empoleirado no seu ombro!
Gritos em coro:
- O papagaio! Queremos ver o papagaio!
Juraci promete:
- Índio mostrar o papagaio, sim. Aqui e agora.
Dá um salto para trás, tira preso no elástico que segurava a tanga, bem camuflado, um gravador pequeno, levanta no ar e justifica, rindo:
- Este ser papagaio eletrônico, índio fazer ele falar direitinho, que nem de verdade.
Num gesto delicado, liga o aparelho e a gravação repete:
- Currupaco-papaco! ! Ô Felício! Ô Felício! Ô Esmaragdo!
A meninada decepciona-se.
Cada um com o sorriso mais amarelo:
- Ah!... Ohhhh ....
Os adultos desatam uma risada com o desapontamento momentâneo dos colegiais. O Diretor bate palmas, chamando a atenção dos estudantes, e esclarece:
- Calma, meus Jovens! Não quero ver ninguém triste aqui. O nosso Juraci é um índio de verdade, da tribo dos Maxacalis, nosso funcionário há muito tempo. Sempre que pode, encena essa demonstração. Aqui até as aves são artistas alegres!... Mas temos outra surpresa...
Maria Vitória, em nome dos colegas:
- Professor, deixa de fazer hora e mostra logo o papagaio. Queremos era ver um papagaio de verdade.
Silêncio.
O Professor chama, em voz alta, por um dos zeladores. Logo aparece um homem de aspecto humilde, olhos redondos e negros, muito brilhantes. Agitando no ar uma das mãos; com a outra, toca uma música num instrumento desconhecido, um velho Realejo, onde também se equilibra, serelepe, uma maritaca anã.
Mais surpresas.
Nenhum dos meninos conhecia um instrumento assim; nem de ouvir falar, nem de gravura. Ficam satisfeitos e, com jovialidade, recebem o velho, a quem o Professor chama Godofredo, e sua maritaca adestrada.
O Professor abana a cabeça:
- Não é um papagaio dos grandes. Não fala, mas desperta muita emoção. Antigamente o Realejo, este instrumento popular, como vêm, é espécie de órgão mecânico portátil; tem um fole e teclado, que são acionados por um cilindro dentado movido por esta manivela; servia, e ainda serve, de meio para consultar a sorte de um curioso; principalmente no amor.
- Ôba!!!
- Quero saber o nome de meu namorado! – brinca Maria Vitória.
- Calma, Gente. Deixe o Professor Felício...
- Esmaragdo Valverde...
- Terminar a explicação... - interfere a Professora.
- Poxa que passeio este de hoje!
- Vejam só: o Godofredo faz um sinal com a mão, a maritaca desce até a cestinha presa ao lado do realejo e pega com o bico um papelzinho, tem um tantão deles, cada com uma mensagem escrita.
O Professor, com cara de mistério, puxa Maria Vitória pelo braço:
- Vamos ver o que a Maritaca Ana, xará de sua irmã, tira para Você? Usam muito essa brincadeira para conhecer recados de namorados... Vamos ver...
- Anã, ou Ana?... – quer saber Ana Laura.
- Ana é apelido aproveitado de anã... tudo brincadeira...
Ao ver o sinal do Godofredo, a maritaca puxa um bilhetinho do cesto, dobrado em quatro.
Maria Vitória lê, em voz alta:
- Escutem: Na natureza nada é inútil. Tudo tem a sua razão de ser. Tudo precisa ser respeitado.
- Quebrou a cara a Aparecida...
- Bem feito! Com esse braço na tipóia nenhum namorado quer Você nem morto...
- Mas a mensagem é bonita, Chico!
Ana Laura quer uma mensagem. A maritaca faz seu trabalho, e a menina lê: Viver de bem com a Natureza só depende de Você. Ame a Natureza. Seja feliz.
Chico também ganha um bilhetinho: Defender a Natureza é um ato de cidadania. Um compromisso de amor.
Ôbas gerais.
Foi preciso fazer uma fila indiana, senão embolavam todos de uma vez em redor do Godofredo. Todos foram agraciados com uma mensagem.
Logo, o Professor recomenda ao encarregado:
- Seu Godô, agora guarde o realejo com o mesmo cuidado e carinho que o senhor lhe dedica há anos; solte a maritaca na sua árvore predileta. E aguarde meu sinal para acompanhar a Professora e seus estudantes em um passeio pelo Jardim Botânico. Mostre a eles tudo que quiserem, certo?
- Sim senhor! – também simpático o Zelador.
O Diretor despede-se de Dona Diana; enaltece-lhe a profissão:
- Educar é um sacerdócio. Exige de nós muita dedicação, amor e, principalmente, acreditar no ser humano, como fonte de crescimento. Só a educação pode fazer com que uma Nação mude a sua cara.
Os olhos negros e miúdos da Professora Diana umedecem. Num gesto rápido, tira os óculos escuros de sua bolsa e coloca no rosto.
O Professor Felício suspira, sai apressado, limpando a testa, o pescoço, molhados pela emoção. E ainda acrescenta:
- Só falta mais uma coisa... Para encerrar o passeio de Vocês...
- ???
- Vamos almoçar que ninguém é de ferro.
Chico aproveita para caçoar:
- Quero ver a Maria Vitória pegar no garfo com a mão esquerda...
- Vivaaaaaa o Professor Felício E s – m a – r a – g d o Valverde!
O canário estala. O sabiá canta noutro galho e distante. As abelhas no afã de cumprir ordens de sua rainha, zumbem, pesadas de mel no corpo e pólen nas patinhas e o beija-flor, agora de companheira, descansa num ramo de árvore, observando tudo ao redor.
Primavera no Brasil é assim. E muito mais.



INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

Pau-Brasil - Caesalpinia echinata Lam - família Leguminosae-Caesalpinoideae leguminosa - a mesma do Pau d´óleo, da Cássia, do Feijão, do Jacarandá, da Sucupira, da Sibipiruna, do Pau ferro, da Braúna, do Barbatimão.

Nomes populares: pau-brasil, ibirapitanga, orabutã, brasileto, ibirapiranga, ibirapitã, muirapiranga, pau-rosado, pau-de-pernambuco.

Características morfológicas - planta espinhenta de 8-12 m de altura (a literatura cita exemplares de até 30 m que existiram no passado), com tronco de 40-70 cm de diâmetro. Folhas compostas bipinadas de 10-15 cm de comprimento com 5-6 pares por pina, de 1-2 cm de comprimento.

Ocorrência: Ceará ao Rio de Janeiro na floresta pluvial Atlântica, sendo particularmente freqüente no sul da Bahia.

Madeira: muito pesada, dura, compacta, muito resistente, de textura fina, incorruptível, com alburno pouco espesso e diferenciado do cerne.

Informações ecológicas: planta semidecídua, heliófita ou esciófita, característica da floresta pluvial Atlântica. Ocorre preferencialmente em terrenos secos e inexiste na cordilheira marítima. É planta típica do interior da floresta primária, sendo rara nas formações secundárias.

Árvores derrubadas: 70 milhões de pés, mais de 3 mil toneladas por ano, durante três séculos.







DADOS HISTÓRICOS

Nomes do Brasil: Pindorama (não oficial – indígena: país das palmeiras), Ilha de Vera Cruz (1500), Terra Nova (1501), Terra dos Papagaios (1501), Terra de Vera Cruz (1503), Terra de Santa Cruz ( 1503), Terra de Santa Cruz do Brasil (1505), Terra do Brasil (1505) e Brasil, a partir de 1527.

Tupiniquins – índios da família Tupi-Guarani. No século XVI, cerca de 85 mil habitavam duas regiões do litoral brasileiro: nos costões do sul da Bahia, norte do Espírito Santo e numa faixa entre Santos e Bertioga, na costa paulista.

Acidentes Geográficos ( principais registros ): O primeiro foi o Monte Pascoal, em 22 de abril de 1.500. Em 16 de agosto de 1501, o Cabo de São Roque. Depois, no mesmo ano, o de Santo Agostinho, em 28 de agosto. Mais adiante os rios São Miguel, em 29 de setembro e São Francisco, em 4 de outubro; a Baía de Todos os Santos, em 1º de novembro; o Cabo de São Tomé, em 21 de dezembro; o Rio de Janeiro, em 1º de janeiro de 1502; a baia de Angra dos Reis, em 6 de janeiro; a ilha de São Sebastião, em 20 de janeiro e o Porto de São Vicente, em 22 de janeiro.

Rio Caí - pequeno rio, conforme registra Caminha, é contestado pelo historiador Max Justo Guedes, capitão-de-mar-e-guerra, do Serviço de Documentação da Marinha, defende a tese de que o rio citado pelo escrivão português é o atual rio do Frade, a 15 quilômetros ao norte do Caí, no município de Troncoso.


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** OFICINA DE LIVROS – ONG em desenvolvimento com o objetivo de difundir nas escolas públicas do Brasil do ensino fundamental Literatura Nacional de boa qualidade. Participe. Faça parte, mande sugestões. Vale a pena. Podemos fazer do Brasil um país de leitores. Lembrando Pitágoras... Eduque a criança e não terá que punir o adulto.

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CONQUISTANDO A LINGUAGEM
Compreensão do Texto

Atividades - Respostas em folha anexa:

01) - Você conhece outro livro sobre a História do Pau-Brasil?
02) - Você já viu uma árvore da Pau-Brasil? Onde?
03) - Você já viu um móvel ou uma peça de arte fabricada com Pau-Brasil?
04) - Replantar o Pau-Brasil no Brasil seria bom para o nosso País?
05) - Onde Você acha que o Pau-Brasil deve ser plantado?
06) - Se Você tivesse um quintal, um jardim ou uma área rural plantaria um pé de Pau-Brasil?
07) - Você acha que se os franceses tivessem colonizado o Brasil, o Pau-Brasil teria sido melhor preservado?
08) - E os holandeses?
09) - E os Índios, que já moravam aqui?
10) - Divida o texto em quatro trechos em que o autor narra situações diferentes. Escolha um e reescreva, acrescentando mais diálogo entre os personagens.
11) - O autor insere no texto vários adágios populares. Você conhece todos? Explique, em outras palavras, o que significa cada um dentro do contexto.
12) - Transcreva do texto todas as palavras que Você não conhece.
13) - Pesquise e monte um painel sobre o Mar Tenebroso.
14) - Faça uma pesquisa sobre as moedas no Mundo e monte um painel.
15) - Pesquise sobre profissões no Mundo.
16) - Descubra mais sobre o Movimento Pau-Brasil, de Oswald de Andrade.
17) - Interprete o poema: Ao Viandante.
18) - Crie uma historinha ou uma estrofe falando do Pau-Brasil
19) - A história fala sobre o Realejo, descubra alguém que o conheça e peça para contar uma história envolvendo o instrumento.
20) - Invente duas ou mais frases defendendo a Natureza.


Para o Professor

Reflexão
Falar com apuro a Língua Vernácula é prestar culto a uma herança sagrada que recebemos do passado através dos lábios de nossas mães (Coelho Neto).

Motivação

Converse com os alunos sobre recontar uma história, lembrando a eles que o processo tem como objetivo básico atualizar a linguagem, explorando de maneira substanciosa, novos termos e situações relacionadas com a realidade deles. Cite algumas frases ou palavras que foram extraídos da linguagem coloquial ou da científica, mostrando a diferença.
Trabalhe e elabore um Vocabulário do livro com os alunos.
Peça as crianças para contar, com suas palavras, o trecho que acharam mais engraçado.

Educação Ambiental

Mostre a importância e a dinâmica de um ecossistema, onde diversos tipos de vida dividem a mesma área.
Peça aos alunos para colar uma foto ou um desenho do pé de Pau-Brasil, no caderno de exercícios.



DATAS COMEMORATIVAS

Abril, 7 – Dia Mundial da Saúde; 15 – Dia da Conservação do Solo; 19 – Dia do Índio. Maio, 10 – Dia do Campo. Junho, 5 – Dia da Ecologia – Dia Mundial do Meio Ambiente. Julho, 28 – Dia do Agricultor. Agosto, 5 – Dia Nacional da Saúde; 11 – Dia do Estudante. Setembro, 5 – Dia da Amazônia; 21 – Dia da Árvore. Outubro, 4 – Dia da Natureza; 5 – Dia da Ave; 15 – Dia Mundial da Alimentação; 15 – Dia do Professor. Novembro, 8 – Dia Mundial do Urbanismo. Dezembro, 2 – Dia Pan-Americano da Saúde; 07 – DIA DO PAU-BRASIL; 10 – Dia da Declaração dos Direitos Humanos; 25 – Natal.


A LEGISLAÇÃO E A ESCOLA

Foi determinado que toda escola elabore um Plano de Educação Ambiental, de acordo com a Constituição Federal de 1988, Art. 225 – “Todos têm direito ao meio embiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
... § 1º - Inciso VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.



BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Antônio, História da Expansão Portuguesa no Mundo, Lisboa, Ática, 1937
BARROSO, Gustavo, História do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil-América, 1968.
BUENO, Eduardo. A Viagem do Descobrimento. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 1998
CALMON, Pedro, História do Brasil, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1963
CALÓGERAS, J Pandiá, Formação da História do Brasil. R. J. Ed. Brasiliana, 1957.
CORRÊA, Viriato, História do Brasil para Crianças, São Paulo, Ed. Nacional, 1957.
DANTAS, José, História do Brasil, São Paulo, Ed. Moderna, 1991.
DIAS, Manuel Nunes. O Descobrimento do Brasil. São Paulo, Ed. Pioneira, 1996.
FARIA, Antônio A. C., Caravelas no Novo Mundo, São Paulo, Ática
GALVANI, Walter, Nau Capitânia, São Paulo, Record, 1999.
GARRET, Almeida, Viagens na Minha Terra, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1999.
GOMES, Paulo Miranda, História do Brasil, B Horizonte, Ed. Lê, 1974.
MAIOR, A Souto, História do Brasil, São Paulo, Ed. Nacional, 1968
LORENZI, Harri, Árvores Brasileiras - Vol I
MELATTI, J. C. Índios do Brasil, São Paulo, Ed. Hucitec, l983.
PILLETI, Nelson. História do Brasil, São Paulo, Ed. Ática, 1989.
PINTO, Welington A, História do Brasil, em Aula Viva, Belo Horizonte, Edita, 1977.
POMBO, Rocha, Descobrimento do Brasil, São Paulo, Melhoramentos, 1961.
SANTOS, J. R. História do Brasil, São Paulo, Marco, 1979.
SCHAFF, Adam. História e Verdade, São Paulo, Ed.Martins Fontes, 1996.
SILVA, Joaquim. História do Brasil, São Paulo, Ed. Nacional, 1963.
VARGANHAGEM, Francisco Adolfo, História Geral do Brasil, São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1975


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O AUTOR E SUA OBRA
Welington Almeida Pinto
O Autor e sua Obra
Mineiro de São Roque. Em 1971, conclui seus estudos em Passos, Minas. Transfere-se para Belo Horizonte para trabalhar no departamento contábil de uma empresa imobiliária, sem abandonar o gosto pela leitura dos grandes clássicos da literatura universal e a prática de Escritor e Jornalista. Entusiasmado com o movimento cultural da Capital, freqüenta as reuniões da Academia Mineira de Letras e outras instituições culturais da cidade.
Em busca de novos horizontes culturais, viaja por cidades da Europa e das Américas, onde manteve produtivo contato com artistas e entidades produtoras de cultura. De 1972 a 1976, estuda no Centro de Pesquisas de Artes Plásticas da ACM, especializa-se em Publicidade e funda sua agência.
No Teatro, produz A Cela, de sua autoria. Depois adapta e monta Flicts, de Ziraldo, como peça adulta; ambas dirigidas por Luciano Luppi. Participa da equipe de produção do espetáculo A Noite dos Assassinos, de José Triana, dirigida por Paulo César Bicalho. Adapta O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupery, para teatro infanto-juvenil, com trilha sonora de Fernando Boca, direção de Noema Tedesco. Publica Aula-Viva, com 6 scripts sobre assuntos da História do Brasil para aplicação em Sala de Aula.
Eleito para o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, associa-se também à UBE – União Brasileira dos Escritores/São Paulo,SP, à ABRALE-Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos/São Paulo, SP e à AEI-LEJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil/Rio de Janeiro.
Publicou contos infantis no Gurilândia, do Estado de Minas, Belo Horizonte, Zero Hora Infantil, Porto Alegre e Gazetinha, do Gazeta do Paraná, Curitiba.

Livros Publicados

Coleção Infantil Vitória Régia/Edita, 1997:
* A Águia e o Coelho
* Clin-Clin, o Beija-Flor Mágico
* Tufi, o Elefante Equilibrista
* Seu Coelhino, em Viagem ao Sol
* O Gato-do-Mato e o Preá
* A Caçada
* O Ataque do Furadentes

Literatura Adulta:
* A Cela- Helbra/1973
Poesia:
* Antologia Poética - Edita/1980

Toponímia:
* Dicionário Geográfico e Histórico do Estado de Minas Gerais – Edita, 1986
* Dicionário Geográfico e Histórico do Estado de São Paulo – Edita, 1987

Coleção Legislação Brasileira/Edições Brasileiras/1993:
* O Condomínio e suas Leis
* Licitações e Contratações Administrativas
* A Empregada Doméstica e suas Leis
* Lei do Inquilinato
* Assédio Sexual no Local de Trabalho

Coleção Infanto/Juvenil/Edições Brasileiras/1998:
* Malta, o Peixinho-Voador no
São Chico
* Santos-Dumont, no Coração da Humanidade
* A Saga do Pau-Brasil

Dramaturgia:
* A Cela – peça adulta, adaptação do livro “A Cela”
* Flicts - adaptação do livro “Flicts”, de Ziraldo.
* Pequeno Príncipe - adaptação do livro “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupery
* História do Brasil, em Aula Viva - adaptação de temas históricos para teatro,aplicados em sala de aula - Edita/1978.

Ver livros nos sites: www.welingtonpinto.kit.net/

www.literaturanacional.kit.net/


www.ensinofundamental.kit.net/


www.legislacaobrasileira.kit.net

www.ministeriodacultura.kit.net/


E-mail: welingtonpinto@globo.com.br

* O livro é um instrumento importante na luta pelo desenvolvimento de uma Nação –W.A.Pinto































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