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Contos-->O amor à primeira palavra -- 21/11/2003 - 22:16 (Luísa Ribeiro Pontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O amor à primeira palavra


Ela chegou ao areal de palavras em dia de grande vendaval e voavam consoantes pelo ar, enquanto as vogais, mais frágeis e friorentas se escondiam entre as rochas à espera que o temporal passasse. Algumas palavras haviam-se juntado em blocos fortes de advérbios de modo com sufixos vários e aguentavam firmes em terra. Outras revolteavam, como papagaios loucos sem fio, e vinham zurzir o rosto de quem passasse, penetrando fundo na boca que se ousasse abrir.
Prenhe de palvras-voadoras, ela sentou-se a contemplar o mar em fúria. Também aí, as ondas arremessavam e afundavam palavras e esculpiam no ar palavras já espuma.
Foi então que ela viu umas palavrinhas tímidas presas a uma árvore, enfeitando-a qual pinheiro de Natal, mas solidamente nela plantadas, seguras de si e por isso nada empolgadas, na sua simplicidade de palavras de firmeza.
Olhando-as melhor, ela pôde apreciar-lhe as cores, os matizes, os cambiantes, a luminosidade, os contrastes, as texturas e aproximando-se mais, até mesmo a fragrância. Depois viu-as de longe, uma e outra vez. Foi para outro ângulo observá-las e semicerrou os olhos: formavam um quadro. Não havia dúvida, aquilo era um pictórico conjunto harmonioso de palavras. Ela descobriu então que no areal havia palavras que juntas faziam quadros, que eram bonitos de se ver. Começou a lê-las em voz alta, levadas que eram depois pelo vento pareciam sopro de moribundo, mas ela repetia-as com paixão. Uma a uma de seguida, hiatos e elisões feitos, encadeadas de sílabas sonantes, acentuação dissonante, contrastadas de rima e cadência e ritmo e entoação ... parecera-lhe música de cítara que fauno sedutor soltasse dos bosques. Não queria crer. Voltou a proferir uma a uma as palavrinhas da árvore e não havia dúvida. Celestial e divina, lá estava a música. Ela começou a achar que gostava muito daquela árvore... Afastou-se como pintor da sua tela, para albergar na vista o conjunto e... olhando melhor, a pintura que era música, tinha traços. Traços marcantes de gente. Por detrás das palavras estavam sentimentos que lhe acenavam ridentes ou sombrios, que os havia vários. Afastou-se, ainda mais intrigada. A distribuição única das palavras na árvore, sugeria também uma forma oval, perfeita, com duas sombras a meio, dois pontinhos unidos mais abaixo e algo que parecia a forma de dois parêntesis curvos virados entre si. Seria possível? Não...
Olhou mais friamente semicerrando de novo os olhos. Não havia dúvida. Para além de matizados de cor, fragrância, música e sentimentos, as palavrinhas tinham uma forma esboçada. E essa forma era um rosto...
Não soube dizer por quanto tempo se quedou ali a contemplar aquela forma difusa de gente... apenas soube que no areal se dispunham mais árvores semelhantes, provavelmente mais acutilantes e firmes na sua reunião atraente de palavras e sentidos, mas dali não arredou pé. Aquela árvore, onde se depositava aquele rosto, era a primeira que a prendera e agora, cativada que fora, o seu fascínio fez-se enamoramento, como se...
tivesse havido... dir-se-ia assim uma... espécie de paixão à primeira palavra...



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