Prezada Adriana.
Como participante e leitor dos artigos, cronicas, poesias e demais publicações que são apresentados na Usina, não pude deixar de notar e anotar de modo particular a crónica de sua autoria que leva o sugestivo título de "Ora, faça-me o favor!".
Na verdade, você (permita-me o tratamento) consegue expressar sua indignação, que também é a nossa, utilizando-se da ironia, diante dos chamados "aproveitadores da bondade alheia", incluídos aqui os parentes (próximos e distantes), "conhecidos íntimos", "amigos de ocasião", todos cultores da famosa "lei de Gerson" (segundo a qual é lícito levar vantagem em tudo).
Todavia, ao ler sua crónica não consegui dissociá-la da verdadeira vocação, que tem certas pessoas para a prática do bem, mesmo sabendo que muitos dos favorecidos não são de boa-fé. Essas pessoas são "marcadas com o sinal do bem" e mesmo que não percebam se realizam pela bondade, pelo desprendimento, pelo "servir".Pelo que pude depreender da sua crónica, você é uma delas.
Para ilustrar esta árida correspondência, permita-me socorrer-me da História Nos idos dos anos 20/30, em Santos/SP vivia um médico que ficou célebre pelo seu exercício diário de benemerência, tisiologista da Santa Casa de Misericórdia de Santos (a primeira do Brasil). Poeta dos mais festejados foi amado e idolatrados pelo povo, principalmente pelos mais humildes a quem servia com dedicação. Refiro-me a MARTINS FONTES, 1884-1937, médico, poeta, conferencista, humanista e um símbolo da prática do bem.Seu lema de vida ficou famoso e foi transformado, como nós sabemos, no seu soneto mais conhecido: "COMO É BOM SER BOM", que merece ser transcrito.
Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.
Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.
Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.
E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.
Atenciosamente,
Emílio Carlos Alves.
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