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Cronicas-->No limite do céu e do inferno -- 05/04/2003 - 14:02 (Wilson Gordon Parker) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que é o limite?
Quando é que sentimos a sua proximidade?
Alguns sentem antecipadamente a sua chegada, outros são pegos de surpresa. Preparados e alertados, amortecemos o efeito da nossa reação. Adestramos os nossos nervos, abençoamos o nosso espírito, congelamos o nosso cérebro, injetamos gelo seco em nossas veias, rezamos pela paciência divina.
Ao invés de transformarmos nossas mãos em armas mortais, abrimos o nosso coração, e transformamos o nosso interior num templo de compreensão.
A violência que surge quando ultrapassamos a fronteira de nosso limite, que normalmente toma conta da nossa cabeça, se abranda quando preferimos o movimento pacífico que nasce dentro da nossa alma.
A paz interior impede que mergulhemos no mundo da irracionalidade. O desejo de compreender o próximo, na tentativa de poder justificar os seus atos, nos engrandece, e nos transporta para a fronteira do mundo surrealista da santidade.
Neste momento cabe a indagação:
"Pode o homem ser Santo sem Deus?"
Sempre beirando o limite da paciência, caminhamos calmamente pela nossa existência. Nos projetamos para dentro do outro, mergulhamos fundo no corpo e alma do próximo, vasculhamos as suas vísceras, tudo isto para entender os seus atos.
Antes desta penetração ao interior do outro, precisamos nos despir de todos os nossos conceitos, jogar fóra tudo aquilo que os antigos empurraram pela nossa goela abaixo, transformando a pequena criança que fomos um dia, no adulto neurótico que passamos a ser.
Precisamos de força total para entrar na órbita do outro.
Quando lá estamos, navegamos no vácuo aparente, no universo da calma relativa, onde tudo se move lentamente, flutuando plácidamente no gel do microcosmo do outro.
Quando finalizamos a nossa missão, temos que nos preparar para a volta a nós mesmos, quando vamos viver o momento mais perigoso da nossa viagem.
O retorno ao nosso eu tem quem ser realizado no momento certo, quando alma e corpo deverão estar alinhados, tudo coordenado, para que a dormência em que deixamos o nosso microcosmo não seja abalada por uma violenta entrada em nós mesmos.
O filósofo francês Jean Paul Sartre, lá pelos anos de 1950, dizia que "o inferno são os outros" . A partir daí todo mundo começou a culpar o "outro" pelos fracassos e chatices de suas vidas. Houve uma transferência de culpa, antes mesmo de mergulharmos dentro do outro, para saber se o inferno estava lá mesmo.
Precisamos mergulhar dentro do outro, para saber se os diabos realmente estão dentro dele.
Entretanto, se formos honestos para reconhecer a verdade, muitas vezes descobrimos que o inferno começa dentro de nós mesmos.
Produzimos os mais esfuziantes e terríveis demónios, e, inconscientemente, achamos que os mesmos estão dentro dos outros.
Mas também não devemos colocar toda a culpa em nós mesmos. Muitas vezes somos contaminados pelo inferno alheio, dentro do qual mergulhamos, na ànsia de procurar entender as razões que teriam levado uma outra pessoa a fazer de nossa vida um inferno.
Apesar de tudo, continuo dizendo que a principal arma para combater o nosso inferno, que são os outros, é a compreensão e a paz que levamos para dentro destes outros, para que possamos entender porque o outro quer esquentar cada vez mais o nosso inferno.
Precisamos ser ágeis para percebermos com rapidez o limite que podemos chegar dentro do nosso inferno, principalmente para ter o controle da nossa imaginação, pois é ela que anima o mito do nosso inferno, que pode ter sido doado pelo outro.
Ninguém fala muito de como o homem se comporta no inferno dos outros, dentro dos quais ficamos à beira da loucura, pois esse inferno é medido pelo espaço sem céu, e pelo tempo sem profundidade.
O absurdo dos infernos em que nos metemos, ou nos metem, só é trágico nos raros momentos em que ele se torna consciente.
No livro de Albert Camus, "O Mito de Sísifo", o personagem passa o tempo todo empurrando uma enorme pedra, tentando coloca-la no alto de um monte. Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso, um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde ela caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho e o amor inútil, sem esperança. Aquela pedra empurrada por Sísifo, nada mais era do que os fardos da nossa existência. Sísifo deveria estar pensando, com toda a razão, que o inferno são os outros.
Vale a pena colocar um trecho esplendoroso do livro de Albert Camus, porque é preciso imaginar Sísifo feliz, e fóra do inferno:
"Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis.
O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade.
"Acho que tudo está bem", diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado.
Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe."
Todos nós continuaremos a ter os nossos infernos, mas devemos pensar e meditar muito quando formos sentenciar que "o inferno são os outros".

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