Dedico este livro à minha adorada filha Ana Carolina, que imaginou comigo as aventuras de uma garota, que ouviu com atenção as histórias por mim criadas e suas perguntas e interesse faziam a história crescer e enriquecer.
Esta pequena obra foi escrita durante muitos anos, ao longo de minha caminhada com Carol. Foi pensado nas noites em que deitávamos na rede, na chácara de vovô Alexandre e vovó Terezinha, e ela, super interessada, ouvia as histórias que eu inventava até altas horas da noite, ou em Jaraguá, reunidos em algum lugar da casa de vovó Amélia, sempre dando asas à imaginação.
E Lorac não pára por aqui. É claro que, agora, aos dozes anos de idade, a nossa heroína mudou muito. Cresceu, pensa em outras coisas, mas a fantasia continua viva em seu coração e nunca há de abandoná-la, pois ser criança não exige idade e sim, o desejo de sempre sonhar.
Te amo, minha filha.
Feliz aniversário e parabéns para você e para mim, por ser pai de tão encantadora criatura.
Brasília, 21 de novembro de 2001.
Seu pai.
ÍNDICE
O INÍCIO DE TUDO
TEOBALDO E VALDICÉIA
O PRIMEIRO ENCONTRO
ADEDONHA
O SEGUNDO ENCONTRO
COELHINHO LÉO
A TEMPESTADE
A VOLTA PARA A FAZENDA
O INÍCIO DE TUDO
Lorac sempre passeava a cavalo pela fazenda; gostava de zanzar pela propriedade, sozinha, sem pressa. Achava tudo muito lindo. Adorava o campo. Nas férias sempre queria ficar o tempo todo naquele lugar maravilhoso. Mandavam escolher entre dez lugares e ela acabava optando pela fazenda. Os primos e amigos iam num final de semana, ficavam alguns dias e logo se mandavam pra cidade, mas ela preferia ficar.
Lorac gostava dos amigos e primos; tinha até uma casa na árvore onde eles se reuniam pra brincar de adedonha e outras coisas legais. Quando seus primos e amigos não estavam, Lorac, muitas vezes, gostava de cavalgar pela fazenda. Sabia montar muito bem. Aprendera desde pequena.
Lorac conhecia cada canto daquela terra. Galopava envolta em pensamentos. Parava nas sombras das árvores grandes e frondosas e ficava observando o horizonte. Ia até a cachoeira de águas límpidas e transparentes; às vezes se banhava nas águas cristalinas do riacho, ficando um bom tempo olhando as pedrinhas no fundo, brincando com os peixinhos ou com os próprios pés, se deliciando com aquela maravilha que a natureza colocou bem ali só pra ela.
Fazia tudo aquilo sozinha e sem nenhum temor. Ela não tinha medo de vagar pela fazenda sozinha. Ficava muito mais apreensiva com a cidade grande, onde a violência crescia assustadoramente. Ali, na fazenda, sentia sempre que tinha a proteção de Deus.
De manhã, ao levantar-se da cama, ela sempre pedia que Papai do céu cuidasse dela e, à noite, antes de deitar-se, sempre agradecia por ter corrido tudo bem durante todo o dia.
Seu pai lhe contara que ali, onde ela passeava sem medo, já tinha sido uma grande mata virgem cheia de animais selvagens. Os homens é que desmataram tudo. O que sobrou foi uma pequena floresta. Pequena, diante do tamanho que era antes. Pequena, mas assustadora. Ali, naquele pedaço ninguém mexia, ninguém entrava, ninguém explorava, pois diziam ser mal assombrada.
Nenhum trabalhador da fazenda ousava chegar nem mesmo próximo da floresta. Diziam que quem entrasse ali seria engolido por um monstro que morava num pântano de lama negra, cheio de outros bichos ferozes. Diziam que uma bruxa morava lá e comia gente.
Lorac sempre se aproximava daquele local, querendo entrar, mas lhe faltava coragem e voltava para casa imaginando se realmente era verdade o que diziam.
Certo dia ela estava feliz; seu pai avisara que, em breve, chegaria uma irmãzinha. No princípio se assustou, pois normalmente demorava nove meses e seu pai dissera que já estava a caminho e não ia demorar tanto. Não viu nenhuma barriga em ninguém a não ser a de seu pai, mas aquilo era de chopp e não de criança.
Depois que seu pai lhe explicara tudo com detalhes ficou super feliz. Seria uma irmã de coração. Uma criancinha enviada por Deus para alegrar mais ainda a família. Era o que ela sempre desejara; preferia uma irmã, pois teria mais paciência para ensinar as coisas e elas se entenderiam muito bem. As duas seriam muito amigas; tinha certeza disso.
Pensando na mana foi galopando; chegou bem mais perto da floresta do que costumava ir. Uma vontade imensa de entrar veio em sua mente. Aproximou-se mais um pouco, segurando as rédeas do cavalo e fazendo-o ir devagar. O cavalo começou a refugar, mas Lorac insistiu. Tanto insistiu que conseguiu levá-lo até a margem da floresta.
Olhou e não viu muita coisa. O lugar era sombrio, assustador. Mais alguns passos e ela estaria lá dentro. Sentiu um calafrio que começou em sua barriga e percorreu todo o corpo.
O cavalo estava muito assustado. Ela puxou as rédeas para retornar à casa da fazenda mas o animal não obedeceu; começou a pular e a relinchar. Era tão mansinho e de repente saltava como louco. Lorac se segurava e tentava acalmá-lo. Parecia que algo o estava puxando para dentro daquele lugar estranho e, sem controle, ele começou a galopar floresta adentro. A menina não conseguia controlar o cavalo e, depois de um certo tempo, não mais se segurou em cima do animal. Estatelou-se no chão úmido.
TEOBALDO E VALDICÉIA
Lorac abriu os olhos e olhou ao seu redor. Não reconheceu o lugar. Estava tão frio e uma fumaça encobria sua visão. Não enxergava além de alguns palmos à frente do nariz.
De repente caiu a ficha. Lembrou-se do que tinha acontecido; olhou em volta e não viu o cavalo. Sentiu medo. Estava dentro da floresta assombrada. Levantou-se para tentar ver melhor aquele lugar tenebroso, quieto, assustador.
Parece que o medo faz o frio aumentar. Lorac já estava rangendo os dentes, braços cruzados, o corpo todo tremendo que nem vara verde. Olhou mais uma vez, nada viu. Fechou os olhos e pensou consigo mesma: - Estou sonhando, só pode ser.
Ouviu passos, alguém estava se aproximando. Prendeu a respiração, ficou quieta, vendo o vulto caminhando em sua direção; parecia um homem, mas estava meio curvado, como se fosse corcunda; trazia algo na mão. Ela se assustou, podia ser uma arma, ele quer me pegar, deve ser algum bruxo, mágico ou coisa parecida e me quer para completar alguma poção maluca.
Pensou e quis fugir dali; virou-se e quando ia sair em disparada ouviu uma voz rouca e cansada dizer:
- Não se assuste menina, Véio Timbó só qué ti ajudá. Ela parou imediatamente, ficou estática, não acreditando.
Então existe mesmo; não é invenção de papai. Ele tá aqui, perto de mim. Meu pai diz que é um homem bom. A história dele foi contada para papai que me contou: Já faz muito tempo, ali, onde hoje é a nossa fazenda, era propriedade de um fazendeiro que insistia em manter como escravos as pessoas que ali trabalhavam. Ninguém saía da fazenda e não recebiam nada pelo trabalho. O fazendeiro lhes dava apenas comida porque precisava que ficassem fortes e agüentassem a labuta todos os dias, de sol a sol.
Os trabalhadores dormiam em colchões espalhados por um imenso galpão, sem cobertores, passando frio. Era uma vida terrível aquela que levavam.
Havia um rapaz, de mais ou menos quinze anos de idade que não aceitava aquela situação e queria acabar com a escravidão, pois, pelo que lhe contavam, em todos os lugares os trabalhadores eram pagos e tratados com respeito. Começou a espalhar suas idéias na fazenda.
O patrão, ao ouvir dos jagunços que aquele menino andava pregando a liberdade aos outros escravos, quase morreu de rir. Um rapazote desses, todo franzino, não consegue nem trabalhar direito, pois manca de uma perna, não vai conseguir nada; tenho todos sob controle, deixa esse meninote pra lá, não se preocupem com ele.
Só que o menino não era tão bobo assim e na calada da noite ia conversando com cada um dos trabalhadores: negros, brancos, índios, homens, mulheres, crianças. Ia convencendo a todos que aquilo não era vida, que deveriam se rebelar.
Tudo ia muito bem, mas, no meio deles, havia um traidor. Nesse caso, era uma traidora, uma mulher de nariz enorme e invejosa que, ouvindo os planos dos trabalhadores, na ânsia de agradar o patrão, correu a lhe contar o que estava por acontecer.
O fazendeiro ouviu toda a história, pensou e mandou chamar um velho índio que morava na fazenda. O tal índio fazia bruxarias. A traidora, cujo nome era Valdicéia, aguardava seu prêmio por ter denunciado ao patrão tudo o que tinha ouvido.
Só que o fazendeiro também não gostava de traidores, porque se eles traíam os amigos, com certeza, depois iriam traí-lo também.
O patrão malvado mandou buscar o menino rebelde, que se chamava Teobaldo. Disse ao velho índio que queria castigar os dois. A ouvir isto Valdicéia começou a chorar e a gritar:
-Esse é o prêmio que eu ganho por ter contado ao senhor tudo, por ter ajudado a salvar a fazenda? Ele é que é o culpado,disse apontando para Teobaldo. Eu não tenho nada com isso. Chorava e as lágrimas espalhavam pelo seu rosto todo e seu nariz, enorme, estava todo melado, nojento.
O patrão nem escutava e continuava a conversar com o índio para decidir qual a pena a ser aplicada aos dois. Depois de alguns minutos virou-se para Teobaldo e disse:
- Você quer a liberdade, não é? Quer andar livre por aí sem fazer nada? Então vai tê-la. Você será libertado. Tem só um detalhe: será deixado na floresta e um feitiço do velho índio vai fazer com que você nunca saia de lá. Se sair da floresta e entrar numa cidade, imediatamente você vai transformar-se num bruxo horrível, daqueles mais feios que se pode imaginar e aí vai ter que fugir da cidade senão vão matá-lo. Portanto, você, que quer liberdade, vai ficar preso para o resto da sua vida.
E para você, disse, virando-se para Valdicéia, a pena será a mesma porque o crime foi o mesmo: os dois traíram. Pode começar a magia, pagé, disse ao índio. Feita a magia os dois foram soltos na floresta, sem comida, só com a roupa do corpo.
Contam que Teobaldo, menino de bom coração, tentou ajudar Valdicéia, mas ela não quis auxílio: - Eu vou é me mandar pra cidade. Não creio nessas história de feitiço não, você é que é um negrinho bobo que acredita nessas coisas. Se quiser, fique aí porque eu vou agora para cidade arranjar um marido rico que vai cuidar de mim. Dito isto desapareceu na escuridão da floresta.
Dizem que Valdicéia chegou na cidade e meia hora depois se tornou uma bruxa tão feia, mas tão feia que o povo botou ela pra correr de lá. A delatora se embrenhou na floresta gritando por Teobaldo mas não mais o achou. Até hoje ela vive por essas bandas. Embora ninguém a tenha visto, muitos ficaram sabendo de suas maldades e feitiçarias.
Contam, ainda, que muita gente que entrou naquela floresta, nunca mais saiu, pois a bruxa cecéia, como ficou conhecida, os pegava e fazia um delicioso cozido em sua grande panela.
Quanto a Teobaldo, ele nunca quis sair da floresta pois ficou sabendo sobre a bruxa. Quem lhe contou? Os animais, pois sem ter com quem falar ele conversava com os animais. Aprendeu a língua deles, aliás, dizem que uma leoa foi quem cuidou dele quando vagava perdido pela floresta, caçando alimentos. Ela sempre o seguia e não deixava que outros animais ferozes se aproximassem do franzino rapaz.
Por que seu nome virou Timbó? Porque certo dia ele encontrou um índio e se tornaram grandes amigos. Um tentava aprender a linguagem do outro e ele dizia seu nome pro índio que sempre repetia:- Timbóóóó, Timbóóóóó. Dizem que ele nem mais sabe que seu nome é Teobaldo. Como já está velho, então tornou-se o Véio Timbó.
Agora estava ali o Véio Timbó, era verdade a história que contaram para papai e que ele me contou.
O PRIMEIRO ENCONTRO
Lorac não sentia mais medo. Virou-se e fitou aquele senhor magrinho e baixinho. Ele carregava um pedaço de pau na mão direita. Imaginou que fosse uma espécie de bengala, pois ele tinha uma perna mais curta que a outra, como seu pai lhe contara.
Ele aproximou-se devagar e Lorac pôde ver seu rosto cheio de rugas. Viu também seus cabelos brancos. Olhou nos olhos do velho e viu neles muita bondade. O velho foi chegando vagarosamente:
- Que coçê tá fazendo aqui, anjinho; num sabi qui essa floresta é assombrada?
Lorac ficou calada, olhando admirada para aquele homem. Quantos anos ele tinha? Talvez cem ou até mais de cem. Acordou de seus pensamentos quando ouviu novamente a voz do velho:
-Vem qui vô ti levá até a saída pruquê suzinha ocê num cunsegui não.
Lorac suspirou e disse ao velho:
- Há tanto tempo sonho em entrar aqui; agora que consegui não quero ir embora assim não. Com o senhor me sinto segura, peço que me mostre toda a floresta. O senhor mostra?
- Quer dizé qui sinhazinha num tem medo de Véio Timbó não?
-Não tenho medo não. Meu pai me contou a sua história; pra mim o senhor é um herói, pois tentou salvar sua gente da escravidão.
-Uai, sô, tanto tempo qui vivo aqui nesse mato qui nem me alembro mais do qui eu fiz, mas se sinhazinha tá dizendo Timbó aquerdita. Vou mostrá argumas coisas procê, pruquê o mato é grande e num dá pra vê tudo duma vez só não.
-Tá bom. Podemos combinar uma coisa: eu venho sempre aqui e o senhor me mostra aos poucos, tá combinado?
-Intão tá, pruquê tô memo pricisano de conversá, contá istórias, meu amigo índio morreu e a leoa, que era como minha mãe, tumbém já si foi. Vami intão qui vou mostrá pra sinhazinha minha cabana. Dispois ti ensino o caminho procê vortá sempre aqui, tá bão?
O velho virou-se e começou a caminhar lentamente. Tinha muita história pra contar e agora existia uma ouvinte que, pelo jeito, adorava ouvir histórias.
Lorac o seguiu e foram conversando como velhos amigos. Quem os visse pensaria que eram vô e neta. Depois daquele dia, as férias na fazenda nunca mais seriam as mesmas.
ADEDONHA
Lorac era uma garota bonita, muito esperta e inteligente. Quando estavam na fazenda comandava a sua turminha, que era formada por ela e mais cinco crianças, além de um cachorro cujo nome era Totó. Tinha o Marquinhos, o Betinho, a Cristina, o Fabinho e o Jaime, que era um menino bem gordinho, mas saudável.
Na casinha, construída em cima de uma árvore, eles passavam boa parte do dia brincando. Às vezes só desciam para comer ou ir ao banheiro, mas logo depois lá estavam eles novamente com suas brincadeiras.
Numa certa tarde, estavam brincando de adedonha.
-Adedooooooonha, disse Marquinhos e todos estenderam as mãos, cada qual com uma quantidade de dedos.
-Deu J, falou Betinho.
-Judith, disse Lorac.
-Eu, disse Jaime todo orgulhoso.
-José, falou Betinho.
-Júlia, disse rapidinho Cristina.
-Marquinhos falou Jardel, e Fabinho, o último a responder, lembrou-se de Joana.
-Vamos de novo, e gritaram Adedoooonha.
-A, b, c,...T, disse fabinho contando os dedos que todos haviam mostrado e imediatamente começaram a responder:
-Tadeu.
-Túlio.
-Tales.
-Taís.
-Tafarel.
-T...gaguejava Lorac, pois só faltava ela e não conseguia lembrar-se de nenhum nome que começava com T.
-1, 2, 3,4.. contava todos, se chegasse até dez ela perdia.
-Timbó, gritou Lorac quando chegavam já no 9.
-Há!há!há! todos riram, menos ela.
-Não existe ninguém com este nome esquisito.
-É, não existe mesmo, você tá inventando, Lorac, só pra não perder.
-Existe sim, é o Véio Timbó, afirmou Lorac. É um senhor idoso que mora aqui mesmo na fazenda, lá na floresta assombrada.
-Não acreditamos nessa conversa, porque você nunca foi lá na floresta assombrada. Como é que sabe que tem um homem lá e ainda por cima sabe o nome dele?
-Eu entrei lá um dia desses e ele me salvou a vida, pois estava perdida e ele me ajudou.
-Não acredito, disse Fabinho.
-Mas é verdade. E Lorac contou toda a história para os coleguinhas. Eles ouviram calados, com atenção. Agora acreditavam em Lorac, porque ela contou tudo com tantos detalhes que não podia ser invenção.
-Ele sabe um montão de histórias legais e disse que quando eu quiser conversar com ele posso ir lá na sua casa.
-Nós podemos ir com você, Lorac?
-Acho que não tem problema, não. Se vocês são meus amigos o Véio Timbó não vai se importar. Mas tem uma coisa, vocês não podem contar pra ninguém, combinado?
-Combinado, disseram todos, mesmo alguns deles sentindo medo, mas se Lorac iria na frente, eles confiavam.
-Certo, disse Lorac. Vamos nos preparar e amanhã cedo nos encontramos aqui, na casa da árvore, tá bom?
-Tá legal.
- O SEGUNDO ENCONTRO
Estavam todos reunidos conforme o combinado. Após acertar os detalhes, desceram da casa da árvore e entraram na charrete já preparada para eles por Alemão, um trabalhador da fazenda que morava ali há muitos anos, antes mesmo do pai de Lorac comprar a chácara.
-Querem que manobre a charrete procês, meninada?
-Não! Alemão, obrigada. Hoje vamos passear sozinhos, eu já sei manobrar e o Tição é mansinho disse Lorac. Tição era o cavalo que ia puxar a charrete.
-Então tá bão. Tomem cuidado com a floresta assombrada, não deixe o Tição passar lá perto senão ele se assusta e joga ocês no chão. Aquilo lá é assombrado, mesmo; tem demônio e monstros lá no pântano. Lorac percebeu uma certa hesitação de sua turminha ao ouvir aquelas palavras ditas pelo Alemão. Jaime estava tremendo. Fez de conta que não percebeu o medo dos meninos.
-Não se preocupe, a gente sabe se cuidar.
Tomou as rédeas da charrete e saíram. Deram algumas voltas pra despistar quem estivesse olhando; depois se aproximaram do local onde Lorac sabia que podia entrar na floresta. Os meninos estavam quietos, temerosos, mas confiavam na líder e só por isso estavam ali, prestes a embarcar numa aventura com final imprevisto. Desceram da charrete. Seguiram Lorac, que seguia o caminho ensinado pelo velho. Andaram mais ou menos uma hora, seguindo a margem do rio. Já estavam meio cansados quando avistaram um casinha de madeira e barro.
-É aquela casinha lá, disse Lorac, ali mora o Véio Timbó.
-Eu tô com medo, falou Cristina, será que lá não é a casa da bruxa malvada não?
-Eu também tô com medo, disse o gordinho Jaime. Já estou muito cansado, com fome e não consigo correr; não quero ser comida de bruxa não; eu sou recheadinho e ela vai adorar a minha carne macia. Vamos embora agora enquanto é tempo.
-Calma, calma. Fiquem calmos. Eu já vim aqui. É a casa do Véio Timbó e ele é meu amigo; não vai deixar acontecer nada de ruim e Deus também tá olhando a gente. Vamos lá. Aproximaram-se de mansinho, sem fazer ruído, e Lorac bateu na porta: toc, toc, toc.
-Quem é?
-É Lorac, Véio Timbó. Trouxe minha turminha pra te conhecer.
-Pode entrar, a porta tá distrancada.
Entraram naquela casinha pequena e, ao mesmo tempo, aconchegante. A casa era feita de madeira e rebocada com uma espécie de barro; o telhado era de folhas de coqueiro. Todas as coisas ali eram de madeira ou de barro, mas tudo tão bem arrumado que Lorac imaginou que uma mulher morasse com Véio Timbó, pois só uma mulher deixava tudo arrumadinho daquele jeito; mas lembrou-se que, no primeiro encontro, ele lhe contara que morava sozinho, que não tinha ninguém, até o índio ele tinha perdido. Ah! Se meu pai fosse organizado assim, pensou Lorac.
-Olá criançada, cumo vão ocês?
-Estamos bem, responderam. Alguns, aliviados por encontrar aquele senhor que inspirava confiança ao invés de uma bruxa malvada.
-Eu trouxe eles aqui porque não acreditaram que existia uma pessoa chamada Timbó. A gente tava brincando de adedonha e eu lembrei do seu nome quando saiu a letra T, só que ninguém acreditou em mim.
-Num sei qui coisa é essa de dedonha não, mais pode aquerditá qui meu nome é Timbó, criançada.
-Agora nós acreditamos, mas a Lorac disse também que o senhor sabe contar história, é verdade?
-Sei contar muitas istórias. Istórias de monstros, animais, peixes.
-Então conta uma história pra gente.
-Agora?
-Éh!, agora! exclamaram todos juntos.
-Quando a gente tava chegando aqui, eu pensei que a bruxa malvada é que morava nessa casa, disse Cristina.
-Isso mesmo. O senhor não sabe uma história de bruxa pra contar não?
-De bruxa? Tem uma do coelho Léo, cês querem iscutá?
-O que tem a ver coelho com bruxa? perguntou Jaime.
-Carma, garrotizinho, carma qui ocês vão intendê. Senta todo mundo qui a istória é longa.
O Véio Timbó começou, então a contar a sua primeira história para aquela meninada. Sua primeira história para gente que entendia, pois ele as contava para os bichos. Ele estava feliz por ter gente para conversar. Ia contar quantas história aqueles meninos pedissem.
-
- COELHINHO LÉO
A história será contada com as palavras do narrador porque, como pudemos perceber, Véio Timbó fala muita coisa errada, tropeça feio na língua portuguesa, atropela e engole letras, troca L por R, e diz algumas coisas esquisitas como "qui", "istória", "iscutá", etc.
Madame Xin era uma bruxa que gostava de fazer malvadezas, principalmente com os animais. Tinha um livro de receitas que usava para fazer poções mágicas, mas qualquer receita levava sempre à tortura ou morte de algum animal. Era asa de borboleta, dente de elefante, rabo de tatu, pé de coelho e outros tantos. A bruxa sempre conseguia essas coisas para incrementar suas receitas de poções mágicas.
Um dia ela acordou (bruxa também dorme, só que durante o dia) querendo aprender a nadar (sabia voar mas não sabia nadar, não é interessante?). Ela queria aprender a nadar e sempre conseguia tudo o que queria. Abriu o livro de receitas:
-Está aqui a receita que eu quero, vamos ver do que preciso: rabo de peixe, (como ela tinha rabo de peixe em casa?) Era tarefa do gato preto chamado Mocó, que pescava no rio e trazia para a bruxa sem comer nada do peixe, pois era enfeitiçado por ela e obedecia às suas ordens.- ôba eu tenho.- casca de cobra, rabo de urubu, ôba eu tenho.- pé de coelho.- ob...ham... eu não tenho pé de coelho. Preciso arranjar urgentemente um pé de coelho senão minha poção não vai funcionar, mas coelho é muito rápido, como o pegarei? Eu sou uma bruxa má e inteligente, vou dar um jeito, tenho certeza.
Dizem que bruxa não tem sorte? Olha só que coincidência. Pertinho dali, um coelhinho chamado Léo brincava descontraído, pulando de pedra em pedra, quando, de repente, para seu azar, e sorte da bruxa, saltou sobre uma pedra que estava solta e esta caiu sobre um de seus pés.
O coelhinho estava sentindo muita dor, aliás, gemia de dor; e quem não gemeria tendo uma pedra em cima do pé? Com muito esforço afastou a pedra, mas seu pé já estava inchando e ele não conseguia andar direito, muito menos pular.
Léo sabia do perigo que corria, ficando perto da casa de madame Xin. Vagarosamente tentava afastar-se dali, quando a bruxa apareceu na janela e o viu. A malvada sorriu diante daquela imagem maravilhosa: um coelhinho manquitola bem pertinho de si. Agradeceu aos magos e feiticeiros pela sorte grande e saiu em disparada atrás do pobre coelho.
Foi fácil pegá-lo, pois Léo não conseguia correr; tentou fugir mais foi em vão e a bruxa o agarrou pelas orelhas.
-Agora vou aprender a nadar. Só faltava um ingrediente para a minha poção mágica e aqui estão: os pés de coelho que tanto queria. Que peninha, esse pézinho aqui tá machucado, olha só como tá inchado. Apertou o pé de Léo fazendo-o gritar de tanta dor.
-Calma coelhinho, vou cuidar desse pézinho até ele ficar bom, pois quero usar os quatro pés na minha fórmula mágica para aprender a nadar e não quero que nada dê errado.
Madame Xin prendeu Léo numa gaiola e começou o tratamento na sua pata machucada. Água com sal, pomada preta feita por ela sabe-se lá de que. Mas estava sarando. Dois dias depois o pé estava curado.
Léo não sentia dor, mas estava triste pois sabia que a bruxa ia mesmo cortar seus pés e ele nunca mais poderia correr, brincar de pula-pula, pulando de pedra em pedra. Estava desanimado, quase chorando quando, de repente, teve uma idéia e rezou para que desse certo pois era sua única chance de escapar ileso daquela aventura.
Passou-se mais um dia e a bruxa estava toda contente, cantarolando, porque ia, finalmente, fazer sua poção mágica e aprenderia a nadar sem esforço nenhum, apenas tomando a poção durante uma semana.
Encontrou um coelhinho tristonho e assustado, rezando bem baixinho.
-Olá coelhinho, bom dia, estou tão feliz. Ah, não fique triste assim, você não vai morrer, eu só vou cortar os seus quatro pés, não vai doer nada; o facão tá amolado, veja, disse mostrando um enorme facão que fez Léo estremecer. Além do mais, você deveria ficar feliz por ajudar uma velhinha simpática como eu.
-Eu sei que a senhora é simpática, dona bruxa (já era o plano sendo posto em prática). Estou triste não é por isso não; nem gosto muito dos meus pés, eles são muito feios.
-Então porque você tá jururu?
-É que eu adoro nadar e sem os pés não poderei ir até o rio tomar meu banho. Eu queria que a senhora me concedesse um último desejo, antes de cortar meus pés.
-E qual é seu último desejo?
-Tomar banho no rio. Só uma nadadinha de nada.
-Ah! Ah! Ah! Você acha que sou idiota pra cair nessa? Deixo se banhar e você se manda pra longe, né? Nem pensar.
-Não, dona bruxa, Tá vendo aquela corda ali? A senhora pode amarrar uma ponta na minha perna e a outra ponta na sua cintura. Eu salto do barranco amarrado na corda. Assim, a senhora pode me puxar quando quiser.
-Hum! Acho que não tem perigo. Para provar que não sou tão má como todos dizem, vou conceder o seu último desejo, disse a bruxa, pegando a corda e amarrando na perna de Léo e na sua cintura. Depois abriu a gaiola e deixou o coelhinho sair.
Foram para a beira do rio; o coelhinho se preparou e zás...saltou do barranco. Léo tinha escolhido um local onde o barranco era muito alto e a bruxa nem percebeu a manobra, de tão feliz com a possibilidade de aprender a nadar.
O barranco era alto e a corda não era tão grande assim. Quando Léo bateu na água a bruxa veio junto, pois não conseguiu se segurar, e tchbuuuum na água. Léo roeu a corda e se soltou; nadou até a margem e estava feliz, pois seu plano havia funcionado. Todos os seus pés estavam ali, inteirinhos.
Já ia saindo, pegando a direção de sua casa, quando lembrou-se que a bruxa não sabia nadar. Ficou com pena, virou-se e avistou a malvada se debatendo na água. Conseguiu pegar a corda e arrastou a bruxa até a margem.
-Muito obrigada coelhinho, você me salvou, nunca mais vou te perseguir; vou procurar outra receita pra fazer minha poção.
-De nada, dona bruxa. A senhora não merece, mas tenho o coração mole, disse Léo, desamarrando a corda da cintura de madame Xin.
Quando terminou de desatar o nó da corda, madame Xin se levantou de uma vez e pulou sobre Léo tentando agarrá-lo. Este deu um salto e escapou das garras da malvada.
-Não me pega, não me pega, agora estou com o pé bom.
-Venha cá seu coelho danado, preciso dos seus pés.
A bruxa estava desesperada, se sentindo uma perfeita idiota por ter caído que nem um patinho naquela armação do coelho. Léo já estava longe, pulando de pedra em pedra, em busca de sua família.
-Cês gostaram da istória, criançada?
-Adoramos. Conta mais uma?
-Não. Tá na hora docês i imbora, tá iscurecendo e armando muita chuva.
-É verdade, disse Lorac, se levantando, vamos nessa, galera.
Todos se levantaram, se despediram do Véio Timbó e saíram da casa. Nem imaginavam o que estava por acontecer.
A TEMPESTADE
Já estavam caminhando a mais ou menos meia hora quando o tempo escureceu de vez, embora não fosse ainda noite, e os trovões que se ouviam davam arrepios nos meninos. Lorac sabia que tinha que sair daquela mata antes do início da chuva, porque, certamente, não seria uma chuva simples e sim, uma tempestade.
Mal acabara de pensar e o toró d água caiu com uma intensidade assustadora. Estava escuro. As crianças, não enxergavam nada além de um palmo do nariz. A pedido de Lorac todos deram-se as mãos para não se perderem; foram andando bem devagar, de mãos dadas, um atrás do outro.
De repente todos escorregaram e caíram num abismo. A descida durou uns 30 segundos. Foi aquela gritaria, todos ladeira abaixo, numa espécie de escorregador cheio de lama negra. Lorac pensou logo na areia do pântano onde diziam estar cheio de monstros. As outras crianças pensaram a mesma coisa e se arrepiaram de medo.
Caíram num banco de areia branca. Tão branca que nem de longe parecia aquela lama negra por onde escorregaram. O interessante é que ali não chovia; tudo era claro, embora não estivessem vendo o sol. O lugar era lindo, cheio de pedras brilhantes que clareava tudo. Estavam numa caverna, por isto não viam a chuva lá fora. Ali estava quentinho, aconchegante. Isto fez com que todos sorrissem, aliviados de não terem caído no pântano.
Passados os momentos de euforia, voltou a preocupação. Como iriam sair dali, se desceram por aquela lama escorregadia? Subir por ali era impossível, precisavam encontrar outro caminho. Lorac, mesmo preocupada, procurou tranqüilizar os amigos:
-Não se preocupem, acharemos uma saída. Deve haver alguém por aqui para nos ajudar. Não é possível ninguém viver num lugar lindo como este.
Mal acabou de falar e ouviram barulho de algo se aproximando do local. Ficaram quietos, mal respiravam. Viram vários vultos nas paredes da caverna. Andavam rápido e estavam chegando ao local onde se encontrava, toda encolhida, a turminha.
-Não se assustem, disse uma voz de mulher, não vamos machucá-los.
Aproximaram-se. Eram mulheres, todas mulheres, e não passavam de meio metro de altura. As crianças ficaram maravilhadas, olhando aquelas criaturinhas maravilhosas que se aproximavam. Eram pequenas, mas sabiam o caminho para sair dali, pensou logo Lorac, pois era responsabilidade dela levar sua turminha sã e salva de volta à casa da fazenda, antes que dessem pela falta deles. Interrompeu seus pensamentos e tomou a palavra:
-Viemos parar aqui escorregando num barranco e precisamos voltar antes que nossos pais se preocupem. Vocês podem nos ajudar?
-Sabemos o caminho para sair daqui, minha menina, mas não conseguimos porque a bruxa Cecéia bloqueou a saída e fica esperando para nos prender. Ela não gosta da gente e quer matar a todos nós. Já exterminou os homens da nossa tribo, quando eles tentaram sair. Ela tem um corvo falante que vigia a saída noite e dia. Ele usa suas garras para capturar-nos. Estamos presas e já não temos mais comida aqui para nos sustentar. Algumas das nossas já morreram de fome, só restamos nós e, se não sairmos logo desse lugar morreremos e morrerá também a nossa raça, a raça das fadas madrinhas.
-Calma, calma. Nós a ajudaremos, não é turminha?
-Éhhhhh!
-Mas como vocês podem nos ajudar?
- Ainda não sei, disse Lorac, pensativa; vamos bolar um plano e rezar para dar certo. Nós também precisamos sair daqui; somos muitos e a bruxa é uma só. Não é tão poderosa assim, é só muito feia. Lorac então contou a história da bruxa para as fadas.
- Nossa, exclamou a que sempre falava, cujo nome era Patativa, então é isso. Mas ela é má, pois matou nossos homens, ou será que não? Nunca vimos os corpos. Achamos que ela os tinha comido.
- Pode ser que eles estejam vivos e aí nós o salvaremos também. Fiquem tranqüilas que vai dar tudo certo.
-Obrigada, obrigada, você é um anjo.
-Só não entendo uma coisa. Se vocês são fadas, deviam saber mágicas, ter aquelas varinhas e, pelo que sei, fadas não se casam.
-Vou contar a nossa história, disse Patativa, e começou a falar:
Nós somos descendentes daquelas fadas que faziam mágicas, mas não nascemos com esses dons. De cada 100 fadas que nascem, uma não tem dom, portanto, não pode fazer mágicas. A única coisa que sabemos fazer são essas pedras brilhantes que vocês estão vendo aqui. A gente pega uma pedrinha comum, como esta aqui, coloca-a nas mãos, esfrega e minutos depois ela fica brilhando assim (a fada mostrou como fazia e as crianças ficaram boquiabertas). Os homens fados não têm o dom da mágica. Nem pedrinhas conseguem fazer. Então, nos juntamos e formamos uma família de fadas e fados sem mágicas. Escolhemos esta floresta para morar. Somos pessoas comuns. A única diferença é o nosso tamanho. Por isso vivemos escondidos aqui na floresta. Sempre vivemos com tranqüilidade, até a bruxa malvada aparecer.
Todos escutaram Patativa silenciosamente, afinal, era mais uma descoberta para aquela criançada que gostava de saber das coisas. Prometeram mais uma vez ajudar as fadas. Certamente, Lorac teria um plano. Confiavam muito em Lorac. Não era à toa que ela liderava aquela turminha.
De repente escutaram um grosnado vindo lá de fora.
-É o corvo, gritaram as fadas, assustadas. O barulho era tão assustador que as crianças também ficaram com medo.
-Fiquem todos aqui que vou chegar mais perto e tentar enxergá-lo, disse Lorac, se afastando. Aproximou-se do local de onde tinha partido o grosnado; por uma fresta viu o corvo do lado de fora.
-Oi, seu corvo, posso falar com você?
-Quem ousa interromper meu descanso e meu grosnado?
-Sou eu, aqui embaixo.
-Mas você não se parece com essas criaturinhas que moram aí, disse o corvo, olhando para baixo. De repente Lorac teve uma idéia.
-Não sou fada não. Vim aqui mandada pela grande águia, sua maior rainha. Ela pediu que eu ajudasse as fadas e se você tentar me impedir vou contar para Dona Águia e ela virá te caçar pessoalmente.
- Por favor, não faça isso. Dona Águia é minha rainha, não posso decepcioná-la, mas se eu deixar vocês saírem quem vai me matar é madame Cecéia.
-Você pode nos ajudar e ir conosco. A bruxa não vai saber onde você está. Por favor, nos ajude.
-Pensando bem, disse o corvo, madame Cecéia só quer me explorar. Me trata como escravo. Tenho que ficar aqui dia e noite vigiando. Mal tenho tempo pra comer e lazer então nem pensar. Não, não posso fazer isto, a bruxa me pega e me usa para fazer uma daquelas poções mal cheirosas.
-Não se preocupe, ela não vai te encontrar porque a rainha águia me deu o poder de transformar um pássaro em príncipe. Um príncipe bonito e rico. Posso fazer isto com você, se ajudar a gente a sair daqui. O corvo ficou muito feliz, afinal, seu grande sonho era ser um príncipe. Além do mais seria rico e bonito. Podia até casar com uma linda moça.
-Tá certo, eu ajudo vocês. Ficar com essa bruxa não ia dar mesmo. Ela não faz nada além de ficar inventando aquelas fórmulas malucas dela e querendo prender todo mundo que vive na floresta. Não agüento mais ficar vigiando noite e dia.
-Você disse prender? Não disse matar?
-Eu disse prender.
-Então os fados estão vivos. Ela não os matou?
-Não. Todos os fados capturados estão vivos, presos numa cela.
-Então vamos fazer o seguinte, Corvo: você me deixa sair com a minha turma e as fadas, nos mostra a casa da bruxa e nos ajuda a soltar os fados, combinado?
-Combinado, disse o corvo. Trato é trato. Eu cumpro a minha parte e você cumpre a sua.
Lorac sentiu um frio na barriga porque não poderia cumprir o prometido e ainda não tinha uma idéia para contornar a situação. Mas o importante, naquele momento, era sair daquela prisão, depois as coisas se resolveriam e Deus ajudaria.
Conforme o combinado com o corvo foi feito. Lorac saiu com sua turma e as fadas. Foram, juntamente com o corvo, até a casa da bruxa. Ela estava dormindo e roncava tanto que nem o barulho que fizeram durante a soltura dos fados a acordou. Todos saíram de mansinho e o corvo os acompanhou até percorrerem uns três quilômetros. Depois ele pousou numa árvore e ficou ali. Quando Lorac percebeu que o corvo ficara para trás, parou para conversar com ele.
-Está cansado Sr. Corvo?
-Não, menina. Estou pensando na bruxa, que deixei para trás. Apesar de tudo eu gosto muito dela. Ela é que me criou. Graças a um feitiço dela é que eu posso falar. Se eu sair daqui não vou conseguir mais falar. O feitiço só vale aqui na floresta. Além do mais, mesmo que você consiga me transformar num príncipe eu serei um príncipe mudo. Então eu prefiro ser o que sou e continuar falando. Não vou com vocês. Vou voltar.
- Mas a bruxa vai querer te matar quando descobrir tudo.
-Fique tranqüila, menina. Eu arranjo uma desculpa para a fuga. Ela vai ficar muito brava, mas no fim me perdoará. Ela só tem a mim e não vai me deixar tão cedo. Adeus, Lorac. Adeus pessoal.
O corvo bateu asas e se mandou.
-Adeus. Gritaram todos.
A VOLTA PARA A FAZENDA
Lorac respirou aliviada pela decisão do corvo, pois não tinha pensado em nada para aquela invenção de transformá-lo em príncipe.
Agora ela estava mais tensa porque, até aquele momento, era o corvo que estava indicando o caminho; e ele nem esperou Lorac dizer isto; bateu asas e voou. E agora? O que fazer? Ainda estava escuro e Lorac estava confusa.
Lorac rezou para que Deus os guiasse de volta à fazenda. Ninguém ali sabia o caminho. Ela não sabia o caminho de volta. Ainda estava rezando quando ouviu aquela voz conhecida:
-Finarmente incontrei ocês, garotada.
-Véio Timbó, gritaram todos. Era a salvação.
Lorac apresentou os fados ao Véio Timbó que, ao saber que não tinham pra onde ir, convidou-os para morar com ele.
-É casa de pobre mas cabi ocês. Agente constrói mais quartos e vai dá pra todos durmi.
Os fados e as fadas aceitaram, agradeceram Lorac e sua turma por tudo que tinham feito por eles.
Véio Timbó realmente conhecia toda aquela parte da floresta. Em menos de meia hora Lorac e sua turma já estavam na charrete, rumo à fazenda.
Todos estavam cansados, mas muito felizes com a história que ouviram e viveram. Felizes e agradecidos à Lorac, por ter-lhes proporcionado as férias mais gostosas de todos tempos, pelo menos até aquele momento. Iriam visitar Véio Timbó todos os dias.
Decidiram que no próximo ano iriam passar as férias na fazenda. Todos juntos, vivendo aquelas aventuras maravilhosas.
FIM