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cronicas-->A última notícia de Wado Tigrão, ou seja, Mohamed Hamad -- 05/04/2003 - 18:26 (Wilson Gordon Parker) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tempos atrás encontrei o Wado Tigrão, amigo de quem não tinha notícias há muito tempo. Estava com uma cara estranha, um terno preto, barba enorme, uma longa gravata preta em cima de uma camisa de seda branca, olhos esbugalhados. Tinha o aspecto de fim do mundo. Um perfeito sósia do Enéas. Fiquei arrepiado.
Cautelosamente cheguei perto do amigo e perguntei:
"Que cara é essa ?"
"Agora eu sou fundamentalista !"
Fiquei espantado com a rapidez da revelação.
E o meu amigo Wado Tigrão continuou a sua explicação:
"Lá em casa eu sou o aiatolá. O absoluto, onde o "outro" não existe, pois de verdade em verdade vos digo que o outro "sou eu". O único ponto de vista que pode existir é o meu. Minha mulher não usa decote, não coloca maquiagem, minisaia nem pensar, não sai à rua, e quando o faz eu exijo que ela cubra o rosto. Minhas duas filhas estão sendo educadas por uma professora particular, para não se exporem aos olhos sedentos de sexo do mundo. Na minha casa ninguém bebe, nem fuma. Só recebo visitas de quem compartilha o mesmo modo de vida. Nada de televisão. Nem cinema, nem teatro. Alá é meu Deus."
Sem saber bem o que dizer, fiz a pergunta clássica:
"Você é feliz assim Tigrão ?"
"Muito feliz! Nunca fui tão feliz na minha vida. E para sua orientação, me converti ao islamismo, e meu nome atual é Mohamed Hamad."
Dito isto, me deu um abraço, se despediu e entrou num táxi.
Vale a pena lembrar que o Fundamentalismo é a doutrina que usa as palavras sagradas na plenitude de seus fundamentos, sem nenhuma concessão as novidades da época, que enxerga os dias de hoje com a visão dos antigos preceitos religiosos.
Eles não aceitam o criticismo, o movimento teológico moderno que interpreta as palavras sagradas de acordo com a época em que é lida, porque estes criticistas acham que as circunstàcias em que os textos foram escritos eram completamente diferentes da atualidade.
O fundamentalista segue fielmente os textos sagrados das Escrituras em que se baseiam as suas religões, sejam elas Bíblia, Talmude, Corão ou o Hadith.
No início do século passado, quando a sociedade americana passou por um profundo processo de liberalização, modernização, democratização, e passou a aceitar a concepção darwiniana da natureza que é o oposto do criacionismo, isto é, que exige a interpretação literal do Gênesis bíblico, e afirma ser a natureza um ato de criação divina e portanto intocável pelo homem, houve um afrouxamento dos costumes religiosos, e uma onda de prazer invadiu a civilização americana, tornando a vida de todos mais confortável e livre. As mulheres começaram a sua luta pela emancipação, os jovens deixavam suas casas para terem uma vida independente, e a diversão passou a ser a prioridade para todos.
Contra este estado de coisas os fundamentalistas fundaram a WCFA (World´s Christian Fundamental Association) em 1919. Os fundamentalistas passaram a ser contra qualquer renovação dos costumes e hábitos.
Mas eles ganharam força mesmo foi com o advento da guerra fria em 1947, com o início da militància anti-comunista. Surgiram vários pastores fundamentalistas nos meios de comunicação, direcionando os americanos na luta contra o "Império do Mal", conforme gosta tanto de falar o atual presidente George Bush, quando se refere ao Iraque.
Naquela época, apoiados por americanos endinheirados, os pastores fundamentalistas exerceram uma grande influência nas eleições americanas.
Com o término da guerra fria, os fundamentalistas americanos direcionaram suas baterias contra o aborto, contra a Emenda da Emancipação da mulher, contra os direitos dos homosexuais, e passaram a exigir a introdução da reza obrigatória nas escolas públicas.
Eles querem a preservação do mundo caipira, pois acham que o mesmo ainda não foi corrompido pela modernização urbana.
O presidente Ronald Reagan (1981-1989) deu todo o apoio a cognominada "Maioria Moral", pois a mesma era muito útil na mobilização anticomunista.
Atualmente o presidente George Bush é o fundamentalista americano de plantão, que iniciou uma verdadeira guerra santa contra o fundamentalismo islàmico, que nunca deixou de existir, mas que só começou a ser notado a partir da revolução Xiita no Irã, em 1979.
Foi o movimento dos aiatolás que conseguiu mobilizar todas as energias islàmicas que estavam adormecidas pela presença da modernidade. Tal qual os fundamentalistas americanos, os islàmicos consideram como sua política básica o retorno às leis corànicas, ao espírito da leis das Sagradas Escrituras do profeta Maomé.
Para eles, os costumes ocidentais resultam da perversão.
A modernidade é o império de Satã, que utiliza instrumentos sedutores como a música, a bebida, as boas roupas, os automóveis caros, e tantas outras "tentações", como uma maneira de contaminar a pureza dos verdadeiros muçulmanos.
De todas as formas de fundamentalismo hoje vigentes no mundo globalizado pelos norte-americanos, o fundamentalismo de mercado é o mais mesquinho.O fundamentalismo de mercado impõe seus valores a todos os povos. Economicamente ou financeiramente se possível, mas à bala se necessário. O fundamentalismo de mercado é a total devoção ao comércio e sem nenhuma preocupação com o social.
Os americanos globalizaram o mundo, mas não reconhecem nada que seja contra a entrada de dinheiro no seu caixa. Quem pensa diferente deles nunca tem razão.
Outro dia, quando estava pensando no Wado Tigrão, me deparei com a seguinte notícia no jornal:
"A Polícia Federal, por ordem do FBI dos Estados Unidos, prendeu muçulmano suspeito de participar do atentado ao World Trade Center. O acusado, Mohamed Hamad alega inocência, e diz que vive exclusivamente para a família. Ele deverá ser entregue a justiça americana, que diz ter provas irrefutáveis contra o terrorista."
Fiquei frio, comecei a tremer. Lá estava a foto do Wado Tigrão, com sua barba negra, sua aparência sinistra, e sua aparência de Mohamed Hamad.. Estava terrível.
Coitado do meu amigo muçulmano !
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