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Contos-->A Grande Dama -- 29/11/2003 - 15:04 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um casal faz amor numa cocheira. Os cavalos, instigados pelo cheiro do sexo escoiceiam loucamente.
Terèsia, a Grande Dama, passeando por acaso pelo local tem a libido atiçada pelo som frenético. Com os sentidos à flor da pele excita-se com a macheza eqüina, entra na estrebaria para admirar os puro-sangue. Tocá-los, quem sabe?
Os amantes, pernas entrelaçadas em furioso amplexo, copulam vigorosamente estimulados pelo tumulto provocado pelos animais. A Dama os surpreende em pleno ato. Revoltada pela castidade forçada que lhe é imposta pelo marido, famoso guerreiro ora em combate, alcança o chicote esquecido pelo cavalariço e golpeia, impiedosa, os corpos nus dos jovens criados. Com uma ferocidade até então desconhecida, ela os fustiga com violência fazendo o sangue porejar nas peles alvas. Os gritos de dor, mais os brados da Senhora, trazem os poucos soldados encarregados de guardar o castelo. Terèsia ordena a prisão dos amantes, malgrado o rigor do inverno deverão desfilar desnudos por toda fortificação. Como ponto final do castigo exige que sejam dependurados por duas horas, sujeitos às intempéries, na viga mais alta da fortaleza. Eles choram implorando perdão, mas a Grande Dama, com os sentidos espicaçados e ofendida, é irredutível em sua sentença.

De seus aposentos observa os dois corpos nus amarrados um defronte ao outro. Terèsia vê os abutres volteando-os sem parar. Lutando para manter o tom de voz indiferente, pergunta à dama de companhia:
- Qual a idade do pajem?
- Dezesseis, minha Senhora.
- A menina tem quatorze, eu sei. É tua sobrinha, Mafalda?
- Não, minha Senhora, gagueja a mulher. É filha de criação da minha prima.
As outras aias, de cabeça baixa, fingem tecer enquanto ouvem a conversa, volta e meia interrompida pelos gritos do casal.
- Qual é o nome da desavergonhada?
A pergunta é cuspida com ódio por Terèsia, os olhos azuis cintilando maldosos.
- Daphne, minha Senhora. Ele se chama George.
- Isto eu sei, cortou com rispidez.

Fazia algum tempo se encantara pela voz do rapaz. Sozinha, praticamente abandonada pelo marido muito mais velho e sedento de guerra, criara fantasias a respeito do jovem. Acreditara que fossem para ela dirigidas suas belas canções, portanto, sentira-se traída ao surpreendê-lo na cocheira com a daminha. Um ciúme feroz, incapaz de disfarçar, apoderara-se da sua alma. O ódio maior dirigia à menina, bonita e no frescor da idade, que em sua irreverência juvenil usava soltos os longos cabelos castanhos. Se pudesse a escalpelava com as próprias mãos.
Retorcendo as tranças louras em um gesto de nervosismo, ordenou:
- Já chega. Manda que os soltem, quero-os expulsos. Mas que saiam nus!
- Senhora, estamos no inverno, disseram em uníssono as mulheres.
Terèsia as petrificou com o olhar. Apavoradas, baixaram a cabeça em respeito.
- Sim, minha Senhora, murmurou baixinho a velha Mafalda, horrorizada com a súbita crueldade da Grande Dama.

Envergonhados, em prantos, os amantes abraçavam-se numa proteção mútua tentando ocultar a nudez dos corpos feridos. Mais que nunca era visível o amor a uni-los. O pessoal os observava em silêncio. Nenhum riso, sequer uma piada.
- São jovens, pensava Terèsia, desconsolada. Irão recuperar-se. E eu? Quem me livrará desse velho odioso com quem divido o leito e que só pensa em acumular glórias? Por que não morre o desgraçado?
Uma idéia começou a germinar no cérebro da Grande Dama. Jurou que dali para frente mudaria o comportamento abandonando a atitude severa. Seria uma dama licenciosa, como tantas outras em sua condição. Afinal, contava apenas vinte e dois anos e tinha direito a amar. Não lhe saía da cabeça a cena voluptuosa que assistira no estábulo. Nunca o marido a possuíra daquela forma. Era sempre rápido e brutal; portava-se na cama como no campo de batalha, o importante era a vitória. Sua vitória. Seu prazer.

Estava decidido. Teria um amante.
- Um não, pensava, vários. E desejava que o consorte perecesse, o mais breve possível, naquelas guerras inúteis de que tanto se jactava.
Via-se cercada por uma corte de jovens menestréis onde reinaria como soberana da poesia, da música e do amor. Uma verdadeira imperatriz. Imaginava festas contínuas, bailes galantes onde escolheria o companheiro de cada noite. Não voltaria a se casar e seria por todos reverenciada como única dona daquela extensa área de terra, sua por direito.
E ai da menina ou da mulher que atravessasse em seu caminho.

Com o correr do tempo Terèsia mergulhou em profundo devaneio. Mal notou que o inverno cedera lugar à primavera, as flores vicejando, radiosas, nos belos jardins do castelo. O sol, cada vez mais potente, enchia o ar com luz e calor, envolvendo os botões que lhe ofereciam o gineceu numa dança sensual.
De súbito, aquele ambiente plácido foi tomado por grande agitação. Corria o boato que os soldados voltavam após longa jornada. Verdade. Adentraram o castelo esfalfados, em andrajos, trazendo único cavalo selado sobre o dorso do qual jazia o corpo do Grande Senhor, morto numa emboscada.

Durante as exéquias, coberta de negro dos pés à cabeça, Terèsia exultava com a viuvez.
O destino, grande operador de surpresas, havia livrado a Senhora do jugo matrimonial. Dialogando com a própria alma ambas se prometiam, mutuamente, abandonar a simples existência e trocá-la pela vida plena.
Enfim, a Grande Dama ia viver.

12/11/02

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