Teus olhos já foram mais de uma vez
objetos dos meus delírios,
assuntos de muitas poesias,
causa de deliciosa insensatez.
Já iluminaram caminhos,
já acenderam fogueiras,
já retiraram espinhos,
juntaram os meus pedaços
e me botaram de novo inteira.
Teus olhos puseram luz na estrada
mostrando-me outras rotas
antes não vislumbradas.
Teus olhos, tome nota:
são mais que dois faróis azuis,
são o mapa completo,
o guia do céu, a rota
para perder-me do que já fui,
a canção que, nota por nota,
vai limpando, clareando, dilui
as águas escuras, paradas
daquilo que um dia fui.
Teus olhos abrem estradas,
pintam de azul o horizonte,
são água pura de fonte
e eu estou sedenta, cansada:
descansarei nas tuas mãos
os montes da minha paisagem
certa de que elas seguirão
certeiras a mesma viagem
que os teus olhos indicaram,
abrindo estradas, mostrando paisagens,
fazendo chover a cântaros
nos desertos de minhas paragens...
|