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Cronicas-->Perdido na Metrópole (12) Meu estómago fala! -- 09/04/2003 - 13:49 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem, estabeleci uma comunicação interessante com o meu estómago. Quando fui ao supermercado, depois do serviço, já ia comprar o macarrão instantàneo de sempre quando minha barriga reclamou. Fortes sinais vitais energéticos estomacais foram enviados ao meu cérebro. Senti, como que por encanto, um inusitado desejo de comer pão com mortadela.

A princípio, não respeitei o comando e, além disto, resolvi testá-lo. Parei frente às lasanhas de quatro queijos, cinco queijos, vinte queijos! Nenhuma resposta. Passei pelo setor de importados e admirei extasiado, por pura provocação, guloseimas muito acima do meu humilde poderio económico. Nada!

Quando cheguei ao setor de frios e olhei aquela simples mortadela... Um coro angelical mental tomou conta dos meus ouvidos, seguido pelo som de trombetas, como que anunciando a entrada de Julio César.

Disparei a falar sem que percebesse. - Trezentos gramas, por favor, daquela ali, mais cara. Mais cara? Quando dei conta, entregava um dinheirão à mocinha do caixa. Ela sorriu e meu estómago também! Olhei para a minha carteira vazia.

Entrei em casa e passei pelo ritual das cartas. Eu explico. Todos os dias quando chego à minha kitchenette, abro a porta, ansioso, esperando encontrar correspondências deixadas pelo porteiro. Geralmente a expectativa é frustrada por contas a pagar ou por um triste vazio. Quando recebo algo, porém, a alegria é imensa.

Vou devorando algo de comer e, ao mesmo tempo, com os olhos e mãos, os pacotes, envelopes, o que tiver passado pelo vão milagroso.

Terminado este processo e tendo saboreado a entrada do meu jantar, um pacote de salgadinhos, sabor nada, satisfaço a gula em definitivo, preparando três suculentos sanduíches de mortadela com queijo provolone, ao microondas, acompanhados de uma caneca, modelo Jó Soares, de leite longa vida, sabor vitaminas de A à Z. Satisfação total! Enquanto levava aquelas preciosidades gastronómicas à boca senti um prazer gustativo indescritível!

Aprecio, em seguida, um maravilhoso "cappuccino" instantàneo. Gasto uma lata a cada dois dias. Isto é Incrível! Sou viciado em "cappuccino". Admito.

Depois desta vivência marcante: música e poesia. Leio Luis de Camões. Sob o meu edredom, degustando a sobremesa, pêssego em calda, horizontalmente à vontade, ouvindo uma antiga canção, sucumbo frente à genialidade do poeta. Voltando os olhos e a mente para o vácuo, reflito.

Como posso ter depressão? Penso. Penso, logo existo. Nenhuma conclusão.

A única conclusão a que chego é... Preciso arrumar esta bagunça que chamo de lar. Livros de todos os gêneros. Incontáveis CDs espalhados. Papéis, muitos papéis por todos os lados. Roupas perdidas, largadas.

Da cama, sem a mínima vontade de mexer, sequer o dedão do pé, mentalizo, focalizando as vestimentas com todos os super poderes que julgava ter: - Para a gaveta já! - Eu ordeno! Sem resposta. Esqueço.

Lembro da Mafalda, minha geladeira. Ela precisa de mim. Está fria como sempre. Agora, mais do que o normal. Outro dia comprei sorvete e tentei colocá-lo no congelador. Não cabia de jeito algum. Muito gelo. Um Alaska particular. Entrou à força. No dia seguinte, o congelador estava vermelho morango silvestre. O pote cedeu e aquele treco doce e gelado tomou conta da parte superior da Mafalda. Alguém me avisou que era necessário fazer degelo de vez em quando? Não! E não posso comprar aquelas novas que fazem tudo sozinhas, falam em inglês, cantam e até dançam balé moderno. Sorry!

Moro sozinho há, apenas, um ano, nunca fui encarregado de serviço doméstico algum. Tenham paciência comigo meus amigos, que um dia aprendo.

Salto da cama num esforço incomum e vou para a cozinha. É longe. Paro para pensar mais uma vez. Vou ter cãibra neuronial. Hoje estou pensando mais do que vencedor de Big Brother! Isto é incrível!... Quando eu tirar a Mafalda da tomada, o gelo vai derreter, mas também estragará o leite longa vida vitamínico, não? Sim!

Desisto. Muito trabalho. Deixo aquele "iceberg" lá. Volto a deitar.

O gelo continua a tomar conta da minha geladeira, aos poucos. Uma praga! A saída será tomar aquele produto de vaca um dia. Está ali há um certo tempo. Hoje, não. Não cabe mais nada.

Ah! A reencarnação do leite condensado, longa vida, da outra crónica, foi para o lixo. Ontem!

Não posso reclamar. Tenho meus problemas domésticos, mas resido em um local aprazível decorado e pintado, ainda que pela metade, por mim. É uma decoração leve inspirada nos filmes de Pedro Almodóvar. Paredes amarelo ouro, janelas, batentes e rodapés verde limão e adereços de um azul ofuscante. Adereços? Esta palavra não está correta. Não moro em uma escola de samba! Objetos de decoração. Pronto. Agora, sim.

O meu amigo etimologista-filósofo deu sua opinião sobre a minha tentativa maluca de ser um Sig Bergamin.
- Kitsh, porém "cool", com uma leve atmosfera "clean".
Entendi quase tudo!
Só não entendi por que ele não tira os óculos escuros quando vai lá em casa.
Adormeço ouvindo um diálogo diferente na sala-cozinha. A Mafalda, minha geladeira, conversava com o Epaminondas, meu forno microondas. Pude notar que falavam sobre descongelamento.

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop Yslauss, artista plástico de colagem e colunista. E-mail: silvioalvarez@terra.com.br
Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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