Em se tratando dos autores clássicos russos, sempre preferi Tchecov e Gogol à Tolstoi e Dostoiévsky. Não sei bem pq, mas alguma coisa na obra dos dois últimos me sugere uma visão maniqueísta da vida, como se poderia talvez inferir de obras intituladas "Guerra e Paz" ou "Crime e Castigo".
Refleti sobre isso pela primeira vez quarta feira, enquanto conversava e bebia com o Vítor no Mescalito depois da aula. Não sei se ele leu algo a respeito ou se a idéia lhe ocorreu espontâneamente, mas de qqer forma ela se adequou perfeitamente àquilo que eu achava, ou intuia. Há outras coisas que eu não sei, dentre as quais, no momento, uma se destaca em minha mente. Pq é que as pessoas discriminam tanto os bares como o Mescalito? Tá, eu mesmo já tive uns entreveros por lá umas quatro ou cinco vezes, com um ou outro bêbado mais abusado e chato - faço questão de destacar o "e", pois uma única destas qualidades não me tira do sério nem a pau - mas essas brigas foram exceções, em geral o lugar é bem pacato. E no entanto é evitado pelas pessoas mais respeitáveis.
Aliás, agora me ocorreu que o problema deve ser das pessoas respeitáveis. Dentre as que eu conheço, ou dentre aquelas que tem respeitabilidade notória e assegurada em pedigree, não há uma que possa ser imaginada sequer discutindo a respeito do livro didático dos filhos, quiçá literatura russa.
Sob esse ponto de vista, a coisa toda muda de figura. O bar agora me parece muito mais um refúgio. Sua aparência tosca seria como uma camuflagem, especialmente concebida para afastar gente "stile", "astral" e afins.
E o único lugar nessa porra de cidade em que eu ainda posso sair para conversar com os amigos e jogar xadrez vai fechar. Mas não creio que seja castigo, ou intervenção divina.
